SALAS DE AULA NO LUGAR DE ÁRVORES

Comunidade escolar protesta contra projeto do governo de retirar bosque para ampliação de escola da QE 46. Governo diz que o novo espaço é para receber ensino integral

A intenção do governo de construir mais salas de aula no Centro de Ensino Fundamental 10, na QE 46, está provocando protestos da comunidade da própria escola. Professores e alunos não querem a retirada de árvores com mais de 100 anos para dar lugar à ampliação da escola, que, de acordo com a Secretaria de Educação, servirá para a introdução do turno integral e abrigar alunos de Vicente Pires que não conseguem ser atendidos pela rede pública por falta de capacidade física das escolas de lá.
O protesto da comunidade inclui as próprias diretoras da escola, que criticam a retirada das árvores da área que serve para práticas e descanso dos alunos, de estacionamento para os servidores e da falta de estrutura de apoio para o recebimento de até 600 alunos nas 10 salas de sala previstas para o CEF 10. “O espaço que dispomos é pequeno, não comporta os alunos lá dentro o tempo todo, nas cinco ou seis horas de aula. Por isso, esse espaço protegido pela sombra das árvores é importante”, afirma a diretora Elizabeth Caetano Neves. “Com o clima seco de Brasília é um absurdo cortar árvores como essas. A escola vai ficar insustentável somente no concreto. Não estão pensando nos alunos e muito menos nos profissionais. E menos ainda na natureza”, completa a vice-diretora Michele Evangelista dos Santos.
As diretoras alegam que os ambientes do CEF 10, como pátio, cozinha, banheiros, sala de professores, são pequenos, não tem refeitório e a área verde tem uma necessária função pedagógica para os estudantes. “Além de tudo, as árvores da escola têm uma característica rara: elas são centenárias e existiam muito antes da construção do Guará”, afirma a diretora Elizabeth. Segundo ela, esse “puxadinho” que o governo quer construir na escola seria para alunos dos anos iniciais, misturando faixas etárias diferentes e usando os mesmos recursos da escola atual. “A estrutura física existente não permite essa interligação adequada. Não há espaço no depósito, no estacionamento, e os merendeiros teriam que transportar a comida de um bloco para o outro”, diz ela.

As diretoras Eliabeth e Michele dizem que as instalações de
apoio do CEF 10 não conseguem atender mais alunos

Apoio do sindicato
A diretora conta que a escola recebeu uma reforma na cantina recentemente, com verba de emenda parlamentar e que o depósito já está no limite para comportar os gêneros alimentícios da merenda escolar e que não há espaço para ampliação. “Aqui no Guará, nas quadras novas (QEs 48 a 58), há terrenos sem árvores que podem ser usados para novas escolas. Trazer alunos de Vicente Pires de ônibus para cá é distante e não é a melhor solução. Seria mais recomendável construir escolas próximas às residências deles”, completa a vice-diretora.
A direção da escola conta com o apoio do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), que está divulgando um vídeo para reforçar o protesto e tentar impedir a troca das árvores pelas salas de aula. “O governo deveria construir novas escolas nos bairros que carecem e demandam por novas unidades escolares, como na Cidade Estrutural e Vicente Pires. O sindicato entende que a rede pública de ensino precisa, urgentemente, de novas escolas próximas às residências dos alunos. Além disso, estudantes de bairros distantes terão de ir ao Guará para acessar a escola pública. O próprio governo sabe que, comprovadamente, essa viagem de um bairro a outro é uma das principais causas de evasão escolar e motivo de gasto desnecessário com transporte escolar público”, afirma o diretor do Sinpro, Samuel Fernandes. “Essa história não acontece só com a escola. Vemos asfalto e outras construções sendo feitas sem necessidade, como esse da via contorno do Guará II. O governo tem compromissos e, às vezes, parece que esses contratos vêm antes de atender as reais necessidades”, ataca Samuel.

 

Ampliação é para receber escola integral, informa o governo

De acordo com a diretora da Coordenação Regional de Ensino do Guará, Karine Silva Rodrigues, a construção de novas salas de aula no Guará tem o objetivo principal de atender à introdução do ensino integral na cidade, que, segundo ela, ainda não existe. Além do CEF 10, está prevista a construção de novos blocos nas escolas que dispõem de espaço, como o Centro de Ensino Médio 1, o “GG”, o Centro de Educacional 3, conhecido como “Centrão”, entre as QEs 17 e 19, também com o objetivo de atender ao ensino integral. Karine explica que a Escola Classe 8 (EQ 28/30) recebeu 10 salas modulares em 2023, o que permitiu atender mais 400 alunos.
Segundo a diretora da Regional de Ensino, o GDF precisa atender ao pacto com o Governo Federal para a criação da escola integral em todo o DF nas escolas onde houver terreno disponível para a ampliação dos espaços físicos. Karine explica que a cidade ainda não possui escola integral exatamente por falta de espaços adequados. “O que temos hoje é o modelo híbrido no GG (CEM 1, na QE 7), CEF 5, na Entrequadra 32/34, e no CED 3 (Centrão, EQ 17/19)) em que os alunos podem ficar na escola participando de outras atividades no seu contraturno, mas não são escolas integrais, que devem ter turno único, continuado, de 7h30 às 17h”. Responsável pela contratação das construções modulares, a Novacap garante que é uma tecnologia moderna e rápida
Com piso em concreto, estrutura metálica com esquadrias em alumínio e telhas termoacústicas que conferem maior durabilidade e sustentabilidade. O modelo de construção, segundo a empresa, tem um custo mais baixo de estruturação e exigem manutenção mais fácil e acessível.