COM AS CHUVAS, VEM A DENGUE

Governo prepara força tarefa de combate ao mosquito transmissor, mas transfere parte da responsabilidade aos moradores

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Para evitar o que aconteceu no último período chuvoso quando o Distrito Federal e o país sofreram com uma verdadeira epidemia de dengue, com recordes de casos e de mortes, o governo se prepara para antecipar as medidas preventivas contra o mosquito transmissor. A partir desta semana, todos os órgãos do Governo do Distrito Federal, que de alguma forma estão relacionados direta ou indiretamente à saúde pública, estão mobilizados para identificar focos do mosquito transmissor em residências, comércio e áreas públicos.
Entretanto, qualquer ação do governo, por mais intensa que seja, não vai evitar a proliferação da doença se não houver a parceria dos próprios moradores na vigilância de seus ambientes que possam ser transformados em criadouros do Aedes aegypti. Não adianta, por exemplo, operações que recolham lixo e entulho e desfaçam acúmulo de água limpa em áreas públicas se continuarem existindo ambientes propícios para a proliferação do mosquito dentro das casas, oficinas, ferros velhos e lotes abandonados.
No Guará, a Administração Regional coordena uma verdadeira ação de guerra na cidade contra o mosquito transmissor com os órgãos do governo local com representação na cidade. É a repetição da operação desencadeada em março deste ano, quando foram necessárias medidas severas de conscientização e criminalização dos moradores quando a quantidade de casos confirmados de dengue atingiu quantidades alarmantes.
“Da parte do governo, vamos fazer o que for possível para manter a cidade limpa, principalmente livre de ambientes que possam ser transformados em foco do mosquito transmissor. Esperamos, entretanto, que não seja necessário termos que tomar medidas mais enérgicas contra os que não respeitarem as condições e não façam sua parte”, garante o administrador regional Artur Nogueira. Para a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, Hérica Cristina Marques, não adianta o governo fazer a sua parte se não houver reciprocidade da população.
“Mesmo com tantas mortes, internações e sofrimento, e todas as campanhas de conscientização, muita gente continua não entendendo a gravidade da doença e continua relaxando nas medidas de saneamento do seu ambiente”, diz ela. “O que pudemos fazer, enquanto órgão ambiental, é oferecer condições para identificar a doença, oferecer o tratamento adequado e tomar medidas para reduzir a proliferação do mosquito em áreas públicas. O restante cabe ao o próprio morador”, completa a chefe do núcleo, ao lembrar que a maioria absoluta dos focos é identificada dentro das casas.

Força tarefa começa a atuar

Na reunião com representantes dos órgãos públicos locais, o administrador regional Artur Nogueira lembrou que o combate ao mosquito transmissor passou a ser uma prioridade de governo a partir de agora até o fim das chuvas. Na reunião de alinhamento com os principais órgãos do GDF para traçar estratégias de combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela, foram definidas ações conjuntas para a conscientização da população e o trabalho integrado para o reforço na limpeza da cidade
Participam da força tarefa órgãos como o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o Núcleo de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde (SES-DF), a 4ª Delegacia de Polícia, o 4º Batalhão de Polícia Militar, o 13º Grupamento de Bombeiro Militar e as escolas públicas da cidade. Líderes comunitários foram convidados para que ajudem a mapear e a denunciar as áreas mais críticas no Guará em relação ao descarte irregular de lixo.
“Precisamos que a comunidade também, desde já, abrace essa causa. Afinal, de acordo com dados da Secretaria de Saúde, mais de 90% dos focos do Aedes aegypti estão dentro da casa das pessoas. O governador Ibaneis Rocha e a vice-governadora Celina Leão determinaram e vamos trabalhar incansavelmente até vencer esse mosquito”, reforça o administrador regional.
Enquanto a força tarefa está agindo, Herica Marques, da Vigilânia Sanitária alerta para a importância da limpeza dos quintais das residências no período das chuvas. “Dez minutos podem salvar a sua vida. Previna-se e observe se a sua caixa d’água está tampada, se as calhas estão limpas e retire garrafas, latas ou qualquer recipiente que acumule água e sirva de depósito para o mosquito Aedes aegypti. A dengue pode matar e já provou isso na crise passada”, ressalta.

Foram 18 mortes no Guará no primeiro semestre

Guará foi uma das regiões do DF que mais foi afetada pela dengue no último período chuvoso, principalmente nos quatro primeiros meses deste ano. Dos 24.531 casos identificados este ano na Região Centro-Sul (Guará, Candangolândia, Estrutural, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, Núcleo Bandeirante, SIA e Park Way) de janeiro a bril, 8.018 foram aqui, ou seja, um terço do total. E o pior, foram 18 mortes confirmadas, o dobro das nove de Riacho Fundo II (4.474 casos) e Estrutural (5.464 casos), regiões bem menos contempladas com saneamento básico.
O inexplicável para essa tamanha incidência é o poder socioeconômico da população do Guará, que na teoria deveria ser mais consciente no combate ao mosquito transmissor do que as outras regiões vizinhas, principalmente a Estrutural. Nem a proporção da população entre as cidades explica essa discrepância.
Não se pode também culpar o governo por eventual falta de providências, porque elas aconteceram com a intensidade que os momentos exigiam, através de ações e operações de combate ao mosquito transmissor e conscientização dos moradores. Em janeiro foram 1.511 casos confirmados e fevereiro foi o pior mês da dengue no Guará, com 2.645 casos. Março também foi crítico, com 2.450, mas em abril, quando a tenda começou a atender, a incidência caiu pela metade, 1.074 casos. Ainda a título de comparação, na Região da Estrutural foram 65 casos e no Riacho Fundo II, que completam as três regiões de maior incidência da dengue na Região Centro-Sul, foram 157 casos confirmados. Candagolândia, com 34, ParkWay, com 47, e Núcleo Bandeirante, com 64, foram as que menos tiveram moradores diagnosticados com dengue em maio. Sia teve apenas 4 casos, mas é proporcional à quantidade de moradores da região, formada na sua maioria absoluta por empresas.