Parece inacreditável, mas um foragido da Justiça foi preso pela 41ª vez. Eric Ribeiro Calmon, 25 anos, conhecido no Guará, onde mora, como “Sem Orelha”, foi preso na madrugada de sábado, dia 14 de dezembro, na Estrutural, ao ser flagrado com uma porção de crack. Ele foi levado para a 8ª Delegacia de Polícia (da Estrutural) e encaminhado ao sistema prisional porque havia uma ordem de prisão contra ele por 40 prisões anteriores. Em apenas dez meses, Sem Orelha já havia fugido duas vezes da prisão. De acordo com o sistema da Polícia Civil do DF, ele já foi preso 32 vezes por crimes cometidos quando era menor e mais 11 vezes depois de adulto. Na maioria das vezes, o ladrão, que não é considerado de alta periculosidade porque não costuma usar de violência, foi solto durante as audiências de custódia da Justiça.
Sem Orelha é velho conhecido da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, onde tem um extenso arquivo de flagrantes, a maioria por furto de bicicletas, que trocava por drogas. Em 2018, ele foi um dos principais assuntos das redes sociais, por causa das sucessivas prisões seguidas de solturas, o que provocou uma discussão sobre as audiências de custódias. Na época, a nova soltura foi motivo de protestos de moradores e internautas nos grupos de WhatsApp e Facebook. Mesmo tendo sido transformado num símbolo da falta de segurança pública na cidade, Sem Orelha não pode ser considerado tão violento como na imagem que pintam dele. Em todas as 39 ocorrências, ele teria ameaçado as vítimas com faca apenas três vezes, quando era menor de idade. Todas as outras foram por furto a residências, aproveitando descuido dos moradores do Guará.
Mesmo não sendo considerado um bandido perigoso, a polícia recomenda que não se deve subestimá-lo. “A reação de um indivíduo com esse histórico pode ser imprevisível se ele se sentir ameaçado, principal se estiver sob uso de drogas”, explica o delegado titular da 4ª. DP do Guará, Lorisvaldo Chacha.
Imagens da prisão dele feitas pelos policiais militares durante a prisão e divulgadas pela TV Record na época mostravam uma pessoa insegura, bem diferente do cinismo característico da maioria dos presos quando são mostradas ao público. Quando era jogado no camburão da polícia, ele gritou “mãe, vem comigo!”.
Ele ganhou esse apelido porque teve uma das orelhas cortadas pelo próprio irmão mais velho numa briga quando eram crianças.
Começou cedo no crime
A vida criminal de Sem Orelha começou em 2013, quando tinha 15 anos. Filho de uma carroceira que ganha a vida fazendo frete e recolhendo reciclável, moradora de um barraco do Parque do Guará nas proximidades do Cave, Erick passou a praticar pequenos furtos para comprar a droga que tinha se tornado dependente. Até 2016, quando completou 18 anos, ele foi apreendido oito vezes por furto, receptação e desacato.
Numa das prisões dele, em 2018 por furto de uma bicicleta, a juiza de Direito, Thais Araújo Correia, da Vara Criminal do Guará, após a audiência de custódia, escreveu que, “apesar da gravidade da conduta, não há elementos que indiquem que sua liberdade causará alguma perturbação à ordem pública. Desse modo, não há necessidade da manutenção da prisão, sendo suficiente a imposição de outras medidas cautelares”. … “Confiro a esta decisão força de mandado de intimação, para que o indiciado seja posto em liberdade, salvo se por outro motivo estiver preso”.
Mas, desta vez, como havia o mandado de prisão, Eric, ou “Sem Orelha”, não passou por audiência de custódia e continua preso.