Resíduos viram criaturas fantásticas

Com uma vida marcada pela ligação profunda com a cidade, ele transforma materiais descartados em criaturas fantásticas, resgatando a memória de tempos tranquilos e a essência sustentável que o mundo tanto precisa. A história de Edinaldo no Guará começou em 1972, quando seu pai, funcionário da Fundação Botânica, mudou-se com a família para a cidade. Desde então, Edinaldo viu o Guará crescer e mudar, mas guarda com carinho as lembranças da juventude, como as reuniões nas praças, as festas nos finais de semana e a famosa Rua de Lazer das Antigas. “Era uma cidade tranquila, onde a gente podia ser mais humano. Tudo era diferente naquela época, mais leve”, relembra com nostalgia.
Foi na QE 17, um lugar que ele descreve como “mágico”, que Edinaldo viveu momentos marcantes de sua infância, despertando sua curiosidade pelo inusitado e pelo criativo.

Caminho para as artes
Antes de criar suas incríveis esculturas, Edinaldo trilhou um caminho artístico como percussionista ao lado do violeiro Armindo Nogueira. Ele considera a música sua primeira experiência com a arte. “A música te transforma, te leva a qualquer lugar. É uma viagem infinita”, diz. Trabalhar com Armindo foi, para ele, um privilégio. “Ele era uma pessoa que sempre se preocupava com o próximo. Sinto muita saudade do mano velho, como ele chamava os amigos.”
Embora tenha migrado para as artes visuais, Edinaldo revela que a música ainda influencia seu processo criativo. Ele costuma trabalhar ao som de músicas antigas, e acredita que o ritmo e a paciência que a música exige são qualidades essenciais para o seu trabalho atual.
O que torna Edinaldo único é sua habilidade de transformar resíduos em arte. Sua jornada nesse universo começou de forma despretensiosa, quando percebeu que gravetos recolhidos para o fogão de lenha tinham formas que lembravam animais. O primeiro foi um jacaré, seguido de peças que se transformavam em outras criaturas ao serem viradas.
“Na natureza, tudo já tem um formato. Você só precisa dar vida a ele”, explica. Seu processo criativo é tão espontâneo quanto inovador. Ele não escolhe os materiais, mas os deixa “encontrá-lo”. Desde gravetos até lâmpadas queimadas, tudo pode ser transformado. Uma de suas criações mais impressionantes foi um escorpião com 80 cm de comprimento, feito a partir de lâmpadas recicladas.

Sustentabilidade
Além da estética e da criatividade, Edinaldo carrega uma mensagem importante sobre sustentabilidade. Ele destaca que o Brasil gera cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e recicla apenas 4% desse montante. Para ele, cada peça é uma forma de mostrar que “tudo é transformável” e de conscientizar as pessoas sobre o reaproveitamento.
As esculturas de Edinaldo têm conquistado corações em feiras e eventos. Ele conta com emoção o momento em que, em um congresso internacional, uma menina gritou de surpresa ao ver sua peça que, ao ser girada, revelava diferentes animais. “Essas reações mostram que o que faço vale a pena”, afirma.
Apesar de já ter participado de inúmeras exposições coletivas, inclusive na Biblioteca Nacional de Brasília, Edinaldo sonha em realizar sua primeira mostra individual. Para ele, a arte é uma jornada de aprendizado constante, que só é possível graças às pessoas que o apoiam. “Ninguém sobe na vida sozinho. A gente sempre precisa da ajuda dos outros.”
Edinaldo espera que suas esculturas inspirem amor, paz e paciência. “Olhar para uma peça dessas é perceber que, com paciência, tudo pode ser transformado em algo incrível. A arte nos ensina a olhar para o mundo de outra forma.”