Enquanto em janeiro do ano passado foram registrados 2.511 casos confirmados de dengue no Guará, em janeiro deste ano nenhum caso foi confirmado até agora, um recorde surpreendente até para os órgãos da vigilância ambiental do Distrito Federal. Outro dado para comemorar é que foram apenas 23 notificações no mês, ou seja, casos suspeitos, sendo que três foram eliminados pelo teste de PCR, o mais seguro para diagnosticar a dengue, e os outros 20 ainda continuam em análise.
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Esse recorde, entretanto, não quer dizer que a doença esteja controlada no Guará e nem dá motivos para a população relaxar. Os riscos de surgirem novos casos ainda existem, mas, claro, em proporções bem menores do que no ano passado nessa época, quando foram verificadas 18 mortes na cidade de dezembro de 2023 a março de 2024.
Três são os fatores que podem ter provocada essa drástica redução na dengue no Distrito Federal, especialmente no Guará. Talvez a principal seja a conscientização da população, que passou a atender às recomendações dos órgãos de saúde e tomar mais cuidado nas medidas de combate ao mosquito transmissor, e também ao tratamento que os governos federal e distrital deram à doença, que passou a ser combatida como inimigo numa guerra, e ao terror que as notícias de internações e mortes provocaram nos moradores. “Infelizmente, foi preciso um surto no passado para que a população entendesse a importância de prevenir a dengue”, afirma a chefe da Vigilância Ambiental do Guará, Roberta Mourão. Segundo ela, os moradores estão mais atentos, verificando seus quintais regularmente e eliminando possíveis criadouros.
Diferente dos anos anteriores, quando o governo promovia ações pontuais em época de seca e deixava para agir mais durante o período chuvoso, desde o início do ano passado uma força tarefa com vários órgãos do GDF, coordenada pela Vigilância Ambiental e Administração Regional, se mantém em atividade constante no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Monitoramento constante e prevenção
Roberta Mourão explica que os agentes de Vigilância Ambiental e à Saúde (AVAs) tem feito uma ampla ação de monitoramento nas últimas semanas, identificando focos do mosquito transmissor, principalmente nas QEs 15 e 19. Na QE 15 foi promovido um manejo ambiental no dia 1º de fevereiro, quando Administração Regional fez a remoção de inservíveis (sucatas e restos de móveis e eletrodomésticas). Os focos foram identificados em residências onde moradores armazenam água da chuva em tonéis sem a devida limpeza semanal, o que favorece a proliferação do mosquito, segundo ela. A ação faz parte do Levantamento de Índice Rápido (LIRA), promovido pelo Ministério da Saúde, realizado periodicamente para mapear áreas de risco.
Período crítico segue até abril
Embora os números sejam animadores, o período crítico da dengue vai de novembro a abril, quando as chuvas são mais frequentes. Para a chefe do núcleo ambiental do Guará, o risco maior ocorre quando há períodos de estiagem intercalados com chuvas intensas, porque a água parada se torna um ambiente propício para a proliferação do mosquito.
Além das ações contínuas, a Vigilância Ambiental do Guará passa a ter condições de controlar mais ainda os focos da dengue a partir de agora, porque está recebendo 12 novos agentes, que fazem parte dos 400 concursados da Secretaria de Saúde que foram convocados em janeiro, e que estão se somando aos 12 agentes que já atuam na região do Guará. “Além das visitas domiciliares, há uma equipe específica para monitoramento de pontos estratégicos, como borracharias, ferros-velhos e oficinas mecânicas, locais que costumam ter maior acúmulo de água parada e que são vistoriadas quinzenalmente. Esse grupo também é responsável pela aplicação de inseticidas em locais de maior incidência de mosquitos adultos. Essas inspeções ocorrem a cada 15 dias, garantindo um monitoramento constante”, explica a chefe da Vigilância Ambiental do Guará.
População deve denunciar
A população pode contribuir denunciando locais com focos de mosquito pelo telefone 162 ou pelo aplicativo Participa DF.
Drones para identificar e combater focos do mosquito Aedes aegypti
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) vai adotar mais uma estratégia na luta contra a dengue. A pasta vai contratar serviços com veículos aéreos não tripulados (VANTs), popularmente conhecidos como drones, para identificar e combater focos de reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. O investimento será de R$ 2,4 milhões.
“Além do esforço diário dos servidores, temos combatido o Aedes aegypti com inteligência de dados e tecnologia. A contratação do serviço de drones é mais uma estratégia, juntamente com as visitas domiciliares, as ovitrampas, a borrifação intradomiciliar e as estações disseminadoras de larvicida. Porém, o engajamento da população continua a ser a principal estratégia e contamos com esse apoio”, afirma a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.
Serão contratados o serviço de mapeamento e identificação de focos de reprodução do mosquito Aedes aegypti em 18.420 hectares e 10.808 ações de tratamento de pontos de interesse.
De acordo com o subsecretário de Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos, os drones vão otimizar o trabalho dos agentes. “É uma visão de longo alcance. O rastreamento será realizado de forma aérea, então é possível identificar potenciais criadouros do mosquito que não estão no nível do solo e também aqueles que estão a nível do solo”, explica. Já a atividade de combate ao foco do Aedes aegypti, com produtos indicados, será feita nos locais de difícil acesso.
Prioridade na conscientização
Equipes do programa Saúde da Família e da Vigilância Ambiental intensificam visitas e orientações aos moradores para evitar proliferação do mosquito transmissor
Embora a culpa sempre recaia sobre o governo, não há dúvidas de que o próprio morador é o principal responsável pelo aumento dos casos de dengue no Guará, no Distrito Federal e no país. A maioria dos focos está nas residências e acaba fugindo da fiscalização das equipes da saúde pública, porque está em locais que somente o próprio morador tem controle. É nessa conscientização que o governo está investindo para reduzir o casos de dengue no DF. O que antes era feito apenas pelas equipes da Vigilância Ambiental, passa a ser feito também pelas equipes do programa Saúde da Família, formada por médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, que passam a ajudar na orientação dos cuidados que o morador deve tomar contra o mosquito transmissor.
No Guará, além dos 24 Agentes de Vigilância Ambiental (AVAs) que fazem as visitas domiciliares, as 24 equipes locais do programa Saúde da Família ajudam na conscientização quando realizam as visitas, com o objetivo de prevenir as doenças antes que seja necessária a busca pelos equipamentos de saúde pública.
Para ajudar nessa conscientização, a Secretaria de Saúde está mobilizando 636 equipes de Saúde da Família (eSF), multiprofissionais e de saúde bucal distribuídas pela rede de 176 unidades básicas de saúde (UBSs) em todo o Distrito Federal.
Atividades educativas para prevenir a proliferação do mosquito e reconhecer os sintomas da dengue passaram a acontecer em escolas e estabelecimentos comerciais, além de terem sido incorporadas à rotina dos atendimentos nas UBSs e nas visitas domiciliares.
“Com o esforço conjunto, vamos fazer a diferença e proteger a saúde de todos”, afirma a secretária de Sáude, Lucilene Florêncio, que cita o Plano de Contingência para Respostas às Emergências em Saúde Pública por Dengue, Chikungunya e Zika, com ações previstas para 2024 e 2025, conforme a evolução dos números da doença.
Em outubro, profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) receberam material informativo para ser distribuído em ações junto à população, como cartazes e cartilhas. “A educação em saúde é uma ferramenta essencial nesse processo, e os profissionais da Atenção Primária à Saúde têm um papel fundamental, orientando a população e incentivando a mobilização comunitária”, explica a gerente de Apoio à Saúde da Família, Simone Lacerda.
O que fazem a Vigilância Sanitária e a Saúde da Família
Enquanto as equipes do programa Saúde da Família, de atenção primária, tem o objetivo cuidar das pessoas antes que adoeçam ou agravem suas doenças, a Vigilância Ambiental cuida da preservação dos ambientes contra os causadores de doenças sazonais transmitidas por animais.
A chefe do núcleo da Vigilância Ambiental do Guará, Roberta Mourão, explica que o agente comunitário inspeciona residências, comércios, terrenos abandonados e orienta os responsáveis a evitar a proliferação de insetos e animais peçonhentos (escorpião, cobra, aranha, abelha, mosquito e marimbondo), sinantrópicos (pombos e ratos), fazem controle da raiva (cães e gatos) e da leishmaniose (transmitida através principalmente do cão).