Ceilândia nasceu aqui

História da maior cidade do DF tem raízes fincadas no Guará, na antiga Vila do IAPI

Neste 27 de março, Ceilândia completa 54 anos de existência. Hoje reconhecida como a cidade mais populosa do Distrito Federal, com cerca de 287 mil habitantes, a cidade carrega uma história de luta por moradia, dignidade e pertencimento — uma história que começou aqui, no Guará, mais precisamente na Vila do IAPI, onde é hoje o Setor de Mansões do IAPI, entre as QEs 56 e 58.
Antes de Ceilândia, existia a Vila do IAPI, a maior ocupação da história de Brasília. A sigla vem do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, dono do hospital que funcionava na região e que, décadas depois, se transformou no Museu Vivo da Memória Candanga.
A vila abrigava milhares de trabalhadores — muitos vindos do Nordeste, mas também do interior de Minas, Goiás e de outras partes do Brasil — que chegaram ao Planalto Central para erguer Brasília, mas não conseguiram construir uma moradia definitiva. Em meio a barracos improvisados com restos de madeira da construção da capital, sacos de cimento e lonas, esses candangos encontraram um lar temporário.


A CEI e a criação de Ceilândia
Com o crescimento acelerado da ocupação e preocupações do governo com a “imagem” do Plano Piloto, surgiu, em 1970, a Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), liderada pelo governador Hélio Prates e pela primeira-dama Vera Silveira. O objetivo era remover as favelas que se espalhavam ao redor da nova capital.
A solução foi criar uma nova cidade a 30 km do centro de Brasília, nas antigas terras da Fazenda Guariroba. Assim nasceu Ceilândia — a “terra da CEI” — com o lançamento da pedra fundamental em 27 de março de 1971, exatamente no local onde hoje está a famosa Caixa D’água, um dos símbolos da cidade.
As primeiras 20 famílias da Vila do IAPI foram assentadas no mesmo dia da inauguração. A remoção completa durou até 1972 e envolveu cerca de 82 mil pessoas, em um processo que, segundo os registros da época, nem sempre respeitou a vontade ou as condições dignas para os moradores. Ceilândia nasceu sem infraestrutura: água encanada só veio seis anos depois, e o sistema de esgoto, a partir de 1983.

O monumento que celebra as raízes


No Guará, o passado foi eternizado com a escultura “Sonho de Morar”, do artista Gu da Cei, instalada no local onde começou a Vila do IAPI. Com três metros de altura, a obra representa uma mulher carregando uma casa na cabeça e acompanhada de seu filho — uma alusão direta às mães candangas e à luta por moradia.
A escultura foi oficializada como patrimônio da cidade por indicação do deputado distrital Max Maciel, com apoio da administração do Guará. O monumento carrega a frase “Ceilândia nasceu aqui” e serve como símbolo de memória, resistência e identidade.

Resistência e identidade
Apesar das dificuldades, Ceilândia cresceu e se transformou. De um amontoado de tábuas e improvisos, surgiu uma cidade vibrante, culturalmente rica e cheia de vida. Hoje, coletivos culturais, artistas e movimentos sociais mantêm viva a memória das origens, promovendo ações que reforçam o direito à cidade e à dignidade.
A história da Ceilândia é também a história da exclusão e da resistência. Foi construída com base em políticas públicas excludentes, mas também com muito esforço, criatividade e solidariedade dos próprios moradores. E essa história começa aqui, no Guará.