Mãe e filho unidos pela arte

Ao lado do filho Nícolas, Onã Silva, a ”poetisa do cuidar” empreende com afeto e cultura há mais de 30 anos

Onã Silva e o filho Nícolas Augusto, unidos pela arte e pelo afeto. Desde a infância, ele acompanha a mãe em eventos literários e hoje colabora como designer gráfico nas publicações dela. Uma trajetória construída lado a lado, que mostra como a maternidade e o empreendedorismo cultural podem caminhar juntos com amor, criatividade e propósito.

Por Jamile Rodrigues e foto Dimmy Falcão, do Sebrae

Em meio aos livros, aos versos rimados dos cordéis e às apresentações teatrais carregadas de emoção e propósito, Onã Silva construiu uma trajetória marcada por coragem, criatividade e uma força singular. Aos 60 anos, a escritora, enfermeira, atriz e educadora é reconhecida como a “poetisa do cuidar”, título que reflete a convergência entre suas formações acadêmicas e suas escolhas de vida: cuidar do outro, promover saúde e cultura, e inspirar novos caminhos por meio da arte.
Natural de Posse, cidade goiana na divisa com a Bahia, filha de um piauiense e uma goiana, Onã carrega com orgulho suas raízes nordestinas. “Eu fui criada em um lar de pessoas muito trabalhadoras. Desse sangue nordestino que dá conta do Brasil”, afirma. A oralidade, a vivência e a cultura nordestina moldaram não apenas seu modo de ver o mundo, mas também sua maneira de se expressar — seja por meio das palavras escritas, seja pelas encenações ou nas oficinas que ministr
Com mais de 30 livros publicados e 50 cordéis autorais, além de inúmeras participações em coletâneas, Onã faz da literatura uma extensão de sua missão de vida. “Eu amo escrever. É o meu deleite. E os assuntos do cuidar eu transformo em publicações literárias”, conta.
A arte visual também compõe o repertório de Onã Silva, que revela ter uma imaginação aguçada desde a infância. Além da escrita, Onã atua como artista plástica, artesã e performer, elementos que integram sua identidade como empreendedora da cultura. “Desde criança, eu sempre fui muito ativa. Ajudava meu pai no comércio, subia em árvores, costurava, bordava. Eu sou manualista também, tenho carteirinha e tudo”, acrescenta.
Essa inquietude criativa e multifacetada deu origem a um modelo de empreendedorismo enraizado na persistência e na organização. Ela destaca que metas e disciplina são fundamentais para conciliar todas as áreas da sua vida. “Eu tenho um lado poeta, mas também sou muito racional. Organizo as metas de curto, médio e longo prazo e acredito que é por isso que consegui minhas formações, sigo trabalhando, cuidando da casa e da família’’, pondera.
Mas talvez o aspecto mais sensível — e potente — da jornada de Onã seja sua experiência enquanto mãe. Ao lado do marido, o também escritor Maurício Apolinário, ela educou e incentivou o filho, Nícolas Augusto Silva, hoje com 20 anos, a seguir seus próprios sonhos. “Desde pequeno, percebi esse lado artístico nele. Escrevemos nosso primeiro livro juntos, quando ele ainda estava no maternal. O texto era meu, a ilustração dele. Foi o ‘Anjinho minho e mãezinha minha’. Eu sempre valorizei cada produção que ele fazia”, relembra.
Nícolas acabou se encantando pela arte e seguiu carreira no design gráfico. Hoje, ilustra livros e cordéis da mãe, além de acompanhar Onã em eventos culturais e literários. “A gente conversa sobre os temas, ele participa, opina. Estamos construindo juntos. É muito bonito isso”, complementa.

Martenidade
A maternidade nunca interrompeu a trajetória empreendedora de Onã. Pelo contrário, fortaleceu-a. “Os primeiros anos foram difíceis, eu fazia menos eventos, mas nunca deixei de ter uma mente empreendedora. Levei ele comigo para muitos lugares. Hoje, é ele quem me ajuda. Olho para trás e vejo que consegui conciliar tudo, do meu jeito, com as dificuldades que tive e me orgulho disso”, recorda.
Onã sabe que empreender na cultura, especialmente com literatura, é um desafio constante. “No Brasil, as pessoas leem cada vez menos. E comprar livros então… são barreiras. Mas sigo persistente. Meu trabalho movimenta uma cadeia produtiva: capista, revisor, ilustrador, diagramador. A cultura é parte da economia criativa”, afirma.
A poetisa vende seus livros em eventos, em seu site, nas redes sociais e em marketplaces. Ela também participa de feiras e bienais nacionais e internacionais — recentemente, esteve na Bienal do Ceará e em um evento em Salvador. Sua atuação ainda ultrapassa fronteiras: Onã é presidente da Academia de Poetas e Escritores de Enfermagem, grupo que conta com representantes no Brasil, Portugal e Espanha.
Atualmente, Onã segue escrevendo, ministrando oficinas e palestras e inspirando outras mulheres — especialmente mães — a reconhecerem suas potencialidades. “O empreendedorismo não é só vender. É apresentar inovações. E isso sempre esteve comigo. Como mulher, como mãe, como artista, como educadora”, resume.
Para ela, o mais importante é manter a essência. “Eu tenho essa natureza de trazer inovações e de ser feliz, mesmo diante das dificuldades. E quero que outras mulheres também se reconheçam como potentes, como semeadoras de cultura”, conclui.