Dona Maura Marques – 103 anos de vida, doação e amor pelo Guará

Pioneira do mutirão, ex-telefonista da Polícia Civil e figura querida da comunidade, ela é exemplo de vitalidade e solidariedade

Em tempos em que a longevidade é celebrada como um privilégio raro, o Guará tem o orgulho de contar com uma moradora que ultrapassou o centenário, com disposição, alegria e generosidade. Dona Maura Teresa Marques, uma das pioneiras da cidade, completou 103 anos de vida em maio, comemorados com uma animada festa em família que virou até reportagem no Bom Dia DF, da TV Globo. Mais do que a idade, o que impressiona é sua lucidez, energia e o espírito solidário que a acompanha desde a juventude.
Mineira de Boa Esperança, mas criada em Campo Belo (220 km de Belo Horizonte), Dona Maura chegou a Brasília antes mesmo da inauguração da nova capital. “Cheguei no dia 28 de abril de 1960”, relembra, com precisão. Dois anos antes, veio o marido, José Marques, que era motorista da Novacap, o que abriu caminho para a mudança definitiva da família para a “capital da esperança”.
José, Maura e a única filha Rozimar foram morar no Núcleo Bandeirante, na época ainda “Cidade Livre” na casa de amigos e depois na Invasão do Iapi, de onde se transferiram para a Candangolândia, sempre em barraco ou casa alugada. Em 1967, como funcionário da Novacap, José foi convidado a participar do mutirão que criaria um novo núcleo habitacional às margens do Córrego Guará. Era a oportunidade da família finalmente ter sua casa própria. Quando não estava no trabalho, ele ajudava na construção das casas e quando não podia, contratava alguém para trabalhar no seu lugar na obra. “Foi meu marido quem ajudou a levantar esta casa com as próprias mãos. Aqui estamos desde 1968”, afirma Dona Maura, com orgulho.

Em vez de presentes em suas festas de aniversário, dona Maura pede a doação de cestas básicas, que ela distribui em igrejas e programs de assistência social

Telefonista pioneira
Foi também no Distrito Federal que ela fez história: Dona Maura foi a primeira mulher a trabalhar como telefonista da Polícia Civil. “Naquela época, era coisa rara mulher exercer esse tipo de função. Foi uma conquista”, conta um de seus sobrinhos, Edvar Gonçalves. Antes, ela já havia trabalhado também como telefonista no Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos (DTUI), que viria a se transformar na Telebrasília, privatizada para a Brasil Telecom.
Ao longo da vida, Dona Maura se destacou pelo espírito comunitário e de apoio à família – irmãos, primos e sobrinhos -, que ajudou a trazer de Minas e a estudar e vencer na vida. “Ela sempre foi a mãezona de nós todos e responsável pelo que somos hoje. É o nosso porto seguro”, garante a sobrinha Edilamar, que perdeu a mãe precocemente e foi amparada pela tia junto com seus seis irmãos.
Extremamente religiosa e devota, dona Maura frequenta missas e festas tradicionais, como a de Santo Antônio, além de participar de ações beneficentes. Nos seus aniversários, comemorados todos os anos, em vez de presentes, pede cestas básicas que são doadas a instituições de caridade. “Meu presente é para quem precisa mais do que eu”, diz com simplicidade.

Fã de futebol e UFC
Morando com a única filha, Dona Maura mantém uma rotina tranquila, acompanhada pela cuidadora Gláucia Matos, considerada por ela como seu “anjo da guarda” e “braço direito” – é cuidadora e motorista – e por familiares que a cercam de carinho. Mesmo com mais de um século de vida, não abre mão de suas paixões: é flamenguista fervorosa, fã de futebol e de lutas do UFC, que assiste até altas horas. “Ela só vai dormir depois que termina o card principal (combate principal), geralmente após às 2h da manhã” conta a filha.