Um time de futebol americano pra chamar de nosso

O Brasília Wizzards, presidido por uma mulher, escolheu o Guará como sede e quer ocupar um lugar no coração do torcedor guaraense após a morte do Clube de Regatas Guará

Ainda não tem o apelo do soccer (nome dado pelos americanos ao futebol praticado em todo o mundo), nem provoca a paixão do finado Clube de Regatas Guará, o “lobo da colina”, falido há 17 anos, mas pelo menos é um genuíno clube esportivo com sede no Guará. Embora não carregue o nome da cidade, o Brasília Wizzards adotou a cidade como sua sede administrativa e onde treina, e somente não manda seus jogos aqui porque não há mais estádio após a demolição do antigo estádio do Cave.
O Brasília Wizzards escolheu o Guará como sede em 2023, sete anos depois de ser fundado na Asa Norte por cinco atletas que jogavam em outro time do DF, e reforçado por estudantes da UnB, que acompanhavam os treinos no campo público e gramado da 313 Norte. Inicialmente, a ideia era criar um time voltado para o flag futebol, composto por oito atletas, mas o projeto cresceu e hoje o clube tem também a modalidade Full Pad, disputada por 55 atletas de cada lado, aquela que usa capacete.
O que começou como passatempo chamou a atenção de estudantes da UnB e logo virou um projeto mais ambicioso. Em 2018, a equipe passou a ser considerada o time oficial de futebol americano da universidade. Foi só em setembro de 2023 que a equipe estabeleceu raízes no Guará, ao conseguir o apoio da Administração Regional, já na gestão Artur Nogueira, que cedeu o campo para o time treinar. “Nossa sede administrativa e nosso CNPJ são do Guará. Desde então, somos, de fato e de direito, um time guaraense”, afirma a presidente Karla Graziela Machado de Melo Peres, 45 anos.

A presidente Karla Peres cuida da parte administrativa e o técnico Mavi da preparação dos times

Formação de atletas
A estrutura do time conta hoje com cerca de 63 atletas divididos entre futebol americano (Full Pad) e o Flag Football. Há ainda categorias de base — sub-12, sub-14, sub-16 e sub-21 —, além da formação de um time feminino, que conta com oito jogadoras em processo de desenvolvimento. “Estamos nos tornando uma escolinha de verdade, com o objetivo de preparar esses jovens para o futuro”, explica a presidente.
Apesar da falta de campeonatos locais, o Wizzards estreou oficialmente no cenário nacional em 2024, no Campeonato Brasileiro de Futebol Americano Série B2 (Segunda Divisão nacional), alcançando o quarto lugar em sua categoria. “Mesmo com um elenco iniciante, a participação foi extremamente satisfatória. Foi nosso primeiro campeonato, nossa primeira vitória, e isso nos deu gás para continuar”, afirma Karla.
A equipe é comandada tecnicamente por Marcos Vinícius Ramos, o Mavi, um dos fundadores do time e atual head coach (técnico). Karla assumiu a presidência para dividir responsabilidades com ele e tocar a parte administrativa do clube.
Sem estádio próprio, o Brasília Wizzards ainda não consegue mandar jogos no Guará. A ausência de uma estrutura adequada também impede a presença de torcida, o que não desanima Karla. Ela vê potencial de crescimento, especialmente com o avanço do flag football, que se tornará modalidade olímpica em 2028. “Já há uma movimentação nacional forte nesse sentido. Em Brasília, todos os times de futebol americano estão criando seus times de flag”, destaca.
A manutenção da equipe ainda depende da colaboração dos próprios jogadores, que contribuem financeiramente por meio de vaquinhas. A Administração Regional do Guará tem atuado na mediação com patrocinadores e apoio logístico. “É difícil, mas a paixão dos atletas e o envolvimento da comunidade têm feito a diferença”, afirma.

Os times masculino e feminino treinam no campo atrás da UBS, próxima da via contorno do Guará II

Treinos e seletiva
Para aqueles que gostam de acompanhar os jogos da NFL, a liga americana de futebol, o Brasília Wizzards está selecionando atletas para reforçar seus dois times. Em abril, aconteceu uma seletiva, mas quem quiser se integrar ao times, ainda há possibilidade. E, ao contrário do nosso conhecido futebol, nem é preciso habilidade, mas força de vontade de participar. Mulher e homem, porque existe também o time feminino.
O time treina no campo atrás da Unidade Básica de Saúde 02, próximo da via contorno do Guará II e da QE 17, que pertencia à Liga de Futebol Amador do Guará.