Mais um membro da maior quadrilha de receptadores de fio de cobre no Distrito Federal foi presa nesta quarta-feira, 4 de junho, por policiais da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), na BR 040, nas proximidades de Santa Maria, quando foi abordada pela Polícia Rodoviária Federal com R$ 40 mil escondidos no estepe do carro que dirigia. A polícia não confirmou o nome da mulher presa, mas as informações divulgadas indicam que trata-se de Daniela Carmo de Oliveira, filha do sócio do Ferro Velho do Vilmar e do ferro velho Três Irmãos, na QE 40 do Guará II, Vilmar Lima de Oliveira, e do companheiro dela, Fabrício Rodrigues de Carvalho, presos desde março depois de ficarem foragidos por quatro meses depois que foram indiciado na Operação PowerCut, deflagrada em outubro do ano passado pela Polícia Civil do DF.
A Operação PowerCut desarticulou uma organização criminosa especializada na prática dos crimes de furto e receptação de fiação de cobre que eram desviados das redes da Neonergia e também de empresas privadas de telecomunicações. Na época, foram expedidos 21 mandados de prisão preventiva e 48 de busca e apreensão. Segundo a polícia, para conferir aparência de legalidade aos lucros ilícitos obtidos, o grupo promovia a lavagem de dinheiro proveniente do comércio ilegal por meio de familiares que eram utilizados como laranjas da operação.
Daniela já havia sido denunciada pelo Ministério Público pela “prática dos crimes de integrar organização criminosa e lavagem de capitais” e respondia ao processo em liberdade. “Como o dinheiro encontrada com ela não possuía comprovação de origem lícita e a justificativa apresentada — uma nota fiscal emitida após a apreensão do dinheiro — continha inconsistências, diante dos novos indícios de reiteração delitiva e de tentativa de ocultar valores de origem ilícita, a PCDF representou pela prisão preventiva da investigada. A medida foi deferida pelo Poder Judiciário”, diz a nota da Polícia Civil.
Maior receptador do DF
O ferro-velho é reincidente de flagrantes na receptação de produtos de furtos, principalmente de cobre e outros metais. É considerado pela Secretaria de Segurança Pública como o maior receptador desse tipo de material no Distrito Federal. Mesmo após a prisão dos sócios, o negócio continuou funcionando, tocado por outras pessoas de confiança da família, incluindo Daniela, que já havia sido preso em 2022 com grande quantidade receptada de fio.
Além de fios de cobre, retirados da fiação de alta tensão de energia, o ferro-velho já foi flagrado outras vezes com tampas de bueiro de metal furtadas no Guará e em outras regiões do DF. Vilmar responde também pela acusação de ter matado um morador de rua a socos e pontapés, por ter furtado material de sua loja. A polícia já estava monitorando os ferros velhos na região do Guará por causa do aumento de denúncias de furtos de grelhas de bueiros e fios de cobre na cidade na época, mas não havia ainda conseguido flagrar a receptação do material até a prisão de Daniela.
Quadrilha organizada
De acordo com a Copatri, mesmo com identificação do ferro velho do Guará como o maior receptador desse tipo de material, o esquema geralmente é organizado em núcleos. Um desses núcleos é formado por recrutadores dos ladrões, profissionais com conhecimento e experiência em eletricidade, ou moradores de rua, para executar os furtos. Outro núcleo importante é o dos receptadores, que transformam o cobre furtado em matéria-prima comercial.
Para o delegado da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Lourisvaldo Chacha, parte dos furtos de fios de cobre na cidade é praticada por moradores de rua, por causa das pequenas quantidades retiradas de cada vez, enquanto no Plano Piloto ou no Setor de Indústrias (SIA), onde os cabeamentos são robustos, são praticadas por quadrilhas especializadas. “No Guará, os furtos acontecem de madrugada, quando existe pouco movimento das ruas, e são praticadas geralmente por moradores de rua para alimentar o vício da dependência química. Eles atuam em dupla ou trio: enquanto um fica do lado de fora vigiando, quem entra nos bueiros das tubulações corta os fios, sem chamar a atenção”, explica o delegado. “Enquanto não for encontrada uma solução contra os receptadores e não houver mais rigor da Justiça, vamos continuar brincando de gato e rato. A polícia vai continuar combatendo o crime, prendendo os criminosos, mas o comércio não vai acabar enquanto as duas outras pontas não forem resolvidas”, avalia o delegado do Guará.