Os prós e contras de UM PROJETO POLÊMICO

Ciclofaixa que está sendo implantada na via central do Guará II agrada a usuários de bicicleta, mas é criticada por motoristas e empresários. Projeto foi elaborado em 2011 e aprovado por órgãos do governo

Para usuários de bicicleta como meio de transporte e de lazer, a implantação de uma ciclofaixa na via central do Guará II é uma solução interessante para a mobilidade urbana, mas não é o que pensa a maioria dos motoristas e agora de comerciantes da QE 13, que criticam a redução de até duas faixas de rolamento em alguns trechos, o que pode provocar afunilamento do trânsito e engarrafamentos em horários de pico.
As discussões entre os defensores e os críticos da ciclofaixa foram mais constantes no início da obra, até por falta de divulgação por parte do governo do que estava sendo feito. Após duas reportagens do Jornal do Guará sobre os detalhes do projeto, os ânimos se arrefeceram, embora ainda surjam críticas nas redes sociais à medida que as obras vão avançando. Esta semana, a construção da ciclofaixa provocou também a indignação dos empresários da QE 13, do comércio em frente à estação Guará do Metrô. Eles protestam contra o fechamento de um dos acessos ao comércio para a construção da pista da ciclofaixa, exatamente o que permite o estacionamento de caminhões para a descarga de mercadorias.


De acordo com o projeto que está sendo executado pela empreiteira contratada pelas empresas que assinaram o acordo de compensação urbanística com o governo (ver detalhes adiante), o novo acesso será construído no meio do estacionamento da frente, o que inviabilizaria a manobra de caminhões, que também não teria como manobrar no estacionamento dos fundos por causa do pouco espaço entre os veículos estacionados.
“Além de dificultar a entrada de veículos de consumidores, o que vai provocar prejuízo nas vendas, o fechamento desse acesso vai nos deixar sem condições de receber caminhões de fornecedores”, reclama Adélio Coutinho, proprietário da loja de material agropecuário A Fazendeirinha, no local há quase 50 anos. “Deveriam ter ouvido os comerciantes da quadra, que serão muito prejudicados se a obra continuar assim”, acrescenta o proprietário da Drogalene, há 46 anos na quadra, João Alves Lopes. “O tipo de mercadoria que recebemos é transportado geralmente em caminhões grandes, que não teriam como estacionar aqui”, completa Rafael Alves, da Visual Tintas.
Assim que as máquinas começaram a cortar o asfalto para a colocação de meios fios de concreto para a construção da ciclofaixa, Guilherme Cavalcanti, proprietário da panificadora Panitália, procurou a Administração Regional para obter mais informações e tentar reverter o fechamento do acesso. “A administradora regional Luciane Quintana prometeu intervir junto à Seduh (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação), responsável pelo acordo com as empresas, para evitar prejuízos ao nosso comércio”, informa.
Assim que recebeu a demanda dos empresários, a administradora regional diz que procurou a Seduh para mediar uma solução para o problema. “Ficou acordado conosco que a solução será discutida entre os representantes da Secretaria, da Administração Regional e dos empresários no próprio local o quanto antes. Nada será feito sem que todos sejam ouvidos”, garante Luciane Quintana.


Obra é uma compensação urbanística

A construção da ciclofaixa é fruto de uma acordo firmado em 2011 entre o governo e incorporadoras que construíram grandes edifícios na cidade durante o Governo Arruda, depois que deputados distritais aprovaram um obscuro projeto de alteração do Plano Diretor Local (PDL) do Guará, na calada da noite do último dia de votação da Câmara Legislativa em 2006, num conluio entre membros do governo Maria de Lourdes Abadia (que completou o Governo Roriz), alguns deputados e representantes das incorporadoras e empresários proprietários de grandes lotes na quadra 4A, na orla do Guará II.
A alteração, cercada de denúncias de pagamento de propina a deputados distritais em fim de mandato, permitiu a construção de edifícios de até 26 andares na orla do Guará II. Para amenizar parte dos impactos e das críticas dos moradores, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios acionou o Governo do Distrito Federal em busca de uma solução. As três partes – governo, MPDFT e empresários – negociaram então um acordo em que as empresas se comprometeriam a investir um determinado valor, fixado na época em R$ 1,2 milhão e atualizado agora em R$ 5,2 milhões, em projetos de melhorias de espaços públicos da cidade, que deveriam ser elaborados pelo governo. Como até 2019 esses projetos não haviam sido apresentados, o Tribunal de Contas do DF cobrou a Seduh, que finalmente concluiu a elaboração dos projetos, entre eles a construção da ciclofaixa na via central do Guará II e de uma praça no quadradão entre as QI 25 e 31 e as QEs 15 e 26, onde normalmente ficam os circos e são realizadas festas juninas.

Os empresários Adelmo Coutinho e João Alves preveem prejuízos e transtornos
ao comércio da quadra se o acesso do estacionamento da frente for fechado

Para a realização da obra, foi elaborado um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), encomendado pela Seduh e aprovado por uma comissão formada por diversos órgão do Governo do Distrito Federal, como Secretaria de Obras, Detran, Novacap, Ibram, Secretaria de Mobilidade e o Conselho de Planejamento do Distrito Federal (Conplan).
“A reformulação da Avenida Central, criando uma infraestrutura cicloviária que conecte a estação do metrô Guará ao eixo estruturados foi identificada no Projeto Mobilidade Ativa no Entorno das Estações do metrô, tendo sido referendada no Plano +Bike elaborado em 2018 pela Secretaria de Mobilidade, com o intuito de complementar a rede cicloviária”, diz o Memorial Descritivo do projeto aprovado.

A obra


A parte mais significativa das intervenções é o caminho específico para bicicletas. No trecho entre a Estação Guará do Metrô e a 4ª Delegacia de Polícia, uma faixa da pista está sendo transformada em um estacionamento e uma ciclovia, ao lado da calçada. Como os carros já usavam uma faixa para estacionar, não haverá prejuízo ao trânsito do local, segundo o projeto.
Já no trecho maior, entre a delegacia e o Edifício Consei, onde é promovida a Rua do Lazer a cada último domingo do mês, a pista onde os carros já ficam estacionados será definitivamente transformada em estacionamento, regularizando a situação do local. No centro da avenida está sendo instalada a ciclofaixa no asfalto, com separadores de meio-fio. Todas as árvores serão mantidas.
No terceiro trecho, entre o edifícios Consei e Pedro Teixeira, apenas uma ciclovia será construída paralela à calçada. A pista permanecerá como está. Como ainda há poucos prédios nesse trecho, serão necessárias menos intervenções nas vias.