Gestor da Administração do Guará em 1995 e 96, Alírio implementou várias ações que continuam repercutindo na cidade. Muitas das demandas daquela época ainda são assunto até hoje e preocupam o guaraense, como o cuidado com os parques, a infraestrutura, a limpeza da cidade, a ocupação de área pública e a autonomia das administrações regionais e são temas tratados nas redes sociais e rodas de conversa, como mostra as páginas do Jornal do Guará dos anos 90. Depois de deixar a Administração do Guará, Alírio Neto foi eleito deputado distrital por duas vezes, chegou a ser presidente da Câmara Legislativa, e Secretário de Justiça do Distrito Federal, onde se destacou com por facilitar o acesso da população aos serviços públicos.
Em um momento em que as regiões administrativas sofrem com a falta de recurso e, principalmente, de autonomia, Alírio relembra sua gestão à frente da Administração do Guará nesta entrevista ao JG.
O sr. é muito lembrado por sua atuação como administrador do Guará, mesmo após 25 anos de ter deixado a função. A que atribui esse reconhecimento?
Eu fiz uma gestão participativa, em parceria com os guaraenses, os comerciantes e as associações de moradores. Isso levou a aprovação de 87% nas pesquisas como administrador público. A participação da população foi essencial para o sucesso naquela época. Havia o Orçamento Participativo e as lideranças comunitárias exerciam um grande papel na gestão e fiscalização da cidade. Abrimos nossas contas, em uma época onde a transparência não era um assunto tão falado, e trouxemos a população para colaborar.
Sua gestão impactou profundamente a qualidade de vida na cidade, inclusive a composição do orçamento local. Como fez para trazer recursos para a Administração do Guará naquela época?
Fizemos algo inovador para as administrações regionais de todo o Distrito Federal que até hoje traz bons resultados para o Guará. Negociei com o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, que se conseguíssemos aumentar a arrecadação toda esta verba seria investida no Guará. Havia muitas ocupações de áreas públicas na cidade, principalmente pelo comércio. Então, passamos a investir na regularização destas ocupações. O comerciante pagava uma pequena taxa ao governo pela área que ele ocupava e tinha segurança jurídica, passava a atuar sem ter medo de que a fiscalização o multasse ou derrubasse a ocupação. Isso possibilitou que a Administração do Guará finalmente tivesse um orçamento próprio e não dependesse exclusivamente dos outros órgãos.
Uma das queixas mais comuns da população hoje é a falta de cuidados com a cidade. A sua gestão foi inovadora em permitir que os presos cumpram pena na zeladoria a cidade. Como começou esse projeto?
A lei da execução penal já previa a utilização da mão de obra dos encarcerados de bom comportamento e no final da pena, aplicando o princípio da remissão: a cada três dias trabalhado é um dia a menos de cadeia. Normalmente, eles trabalhavam dentro das unidades prisionais. O que propomos foi que eles viessem para a rua, ajudar a cuidar da cidade. E a Administração do Guará, sob a minha gestão, ofertava cursos profissionalizantes a eles. À época, diversos meios de comunicação veicularam essas notícias. Inclusive, uma matéria no Fantástico um fato inusitado: enquanto limpavam a cidade, os presos do projeto se depararam com um crime de abuso sexual e deram voz de prisão ao criminoso. Até hoje os apenados são a principal força de trabalho braçal da Administração do Guará, são eles que limpas as bocas de lobo, fazem pequenos reparos, tapam buracos nas ruas e cuidam das áreas verdes.
Havia também uma preocupação muito forte com a mobilidade, com a extensiva construção de calçadas e novas pistas. Passado todo esse tempo, o Guará ainda precisa de muitas obras neste setor?
Atendendo à comunidade, ampliamos todas as entradas da cidade e criamos outras novas, como o acesso a cidade dos automóveis (SCIA), a saída da QE 46 para o Setor de Postos e Motéis, a criação da terceira faixa da EPGU. Recapeamos todo o asfalto das vias do Guará I e Guará II e refizemos todo as placas de endereçamento, além da construção de diversas praças e quadras de esporte. Precisávamos ser criativos naquela época por conta das restrições orçamentárias, mas conseguimos mudar a cara do Guará. Hoje o Guará precisa repensar a forma que as pessoas se deslocam na cidade. Precisamos integrar melhor o transporte público para que as pessoas possam chegar a todos os cantos dela com facilidade, concluir e ampliar as ciclovias e ciclofaixas, criar passarelas de pedestres, no acesso ao Parque do Guará e na QE 7, por exemplo, e discutir formas mais inteligentes de circular pela cidade. O Guará é uma cidade muito agradável, com praças, parques, áreas verdes e comércio em todas as quadras, deveria ser fácil para o guaraense aproveitá-la melhor, seja a pé, de bicicleta ou de carro.
Durante a sua gestão como administrador do Guará, a cultura e o esporte sempre foram valorizados. Nos relembre essas atividades da sua gestão …
Criamos uma marca esportiva nos esportes radicais do Guará. Construímos uma pista de motocross e bicicross, um skatepark e halfpipe nas medidas oficiais onde tivemos a oportunidade de realizar três etapas de campeonatos nacionais. Promovíamos eventos culturais no Teatro de Arena, na Casa da Cultura, na feira do Guará, tinha bailes no Centro de Vonvivência doIidoso e eventos diversos no auditório da Administração, transformado em teatro. Tudo isso para incentivar e envolver bandas e artistas locais. No mesmo auditório, lancei a peça Pais e Filhos, com direção de Thomaz Coelho, um grande sucesso no combate as drogas.
Infelizmente, hoje é preciso recuperar esses espaços culturais e esportivos. A prática esportiva e as manifestações culturais precisam de espaços bem estruturados para desenvolverem-se e atraírem a população. Precisamos recuperar os espaços de convivência da cidade.
Existia, na sua época, uma grande preocupação com a atendimento à saúde da cidade. Qual a sua visão sobre isso hoje?
A defesa de que o Guará precisa de um hospital vem desde a época que eu estava na Administração. É uma demanda da população. O governador Ibaneis Rocha anunciou o novo Hospital Centro-Sul para a cidade e uma nova UPA, na QI 25. Mas, ainda precisamos investir nas Unidades Básicas de Saúde, suas construções são antigas e precisam ser ampliadas ou reconstruídas. Onde fica o Hospital do Guará atualmente, pode receber a UBS 1 e uma clínica de referência, por exemplo.
Outra marca da sua gestão foi a valorização e o sentimento de pertencimento dos moradores da cidade. Era comum ouvir que ‘O Guará é o Bicho’ o que retrata esse sentimento. Como você ascendeu esse orgulho guaraense?
Eu criei o slogan ‘O Guará é o bicho!’ inspirado no orgulho que o guaraense tem pela cidade. Ao perceber isso, incorporei “O Guará é o bicho” nas ações da administração e até foi usado pela torcida organizada do futebol do CR Guará. Até hoje, as pessoas lembram e sentem saudade quando o Guará era o “bicho”. Queríamos criar a sensação de orgulho no cidadão guaraense, de dar a ele a certeza que a comunidade é unida e defende a cidade.
Como o sr. enxerga a cidade do Guará atualmente?
O Guará mudou muito. Quando houve a aprovação do Plano Diretor Local (PDL), e quero ressaltar que nessa época eu não estava em mandato, alterou-se o gabarito da cidade permitindo a construção de grandes edifícios. Além disso, com a evolução de novas quadras e setores IAPI e Guará Park a cidade cresceu. A infraestrutura e equipamentos públicos permaneceram os mesmos, não se adequando as atuais demandas. É natural que a cidade cresça, mas precisa crescer com responsabilidade e sustentabilidade. Não podemos permitir que as características básicas da cidade continuem sendo alteradas e garantir que o crescimento seja precedido de investimentos em infraestrutura, mobilidade e serviços públicos.
O sr. é pré-candidato a deputado federal este ano. De que forma pode ajudar a nossa cidade?
Cabe ao deputado federal indicar no Orçamento da União verbas para segurança pública, educação e saúde. Assim, todos esses projetos terão as verbas necessárias para a sua execução. A criação do novo Hospital do Guará, reformas das escolas, novas creches, construção de uma nova delegacia e a reforma dos batalhões da Polícia Militar e dos Bombeiros também serão possíveis com um deputado vinculado à cidade. É importante que o Guará tenha um representante na Câmara dos Deputados e não apenas na Câmara Legislativa. É preciso um esforço conjunto para que as pessoas voltem a ter orgulho do Guará.