Oito meses após o início das obras e de muitas críticas ao projeto, finalmente o governo cedeu à pressão da comunidade e resolveu rever a construção da ciclofaixa na via central do Guará II. E até desmanchar parte do que já foi feito ou readaptá-lo à realidade, uma vez que o projeto foi elaborado há mais de dez anos. Em reunião com a comissão dos moradores nesta terça-feira, na Administração Regional do Guará, representantes de órgãos do governo envolvidos na obra, acenaram para o atendimento das reivindicações de motoristas e pedestres, que que se sentem prejudicados com as alterações na via.
A reunião foi promovida pela Secretaria de Cidades com representantes de Detran DF, Secretaria de Mobilidade (Semob), Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e Administração Regional, inicialmente para analisar as modificações propostas pelo Detran que haviam sido solicitadas pela Seduh. Mas, diante da resistência das lideranças comunitárias presentes, o secretário de Cidades, Valmir Lemos, concordou em estudar alterações mais profundas no projeto a partir das sugestões dos moradores, mas contemplando também as reivindicações dos ciclistas.
Desde o início da reunião, o secretário de Cidades garantiu a disposição do governo de ouvir as sugestões e tomar as decisões que contemplem o que a maioria da comunidade defende para a obra. “Mas tudo tem que ser feito com responsabilidade, respeitando os direitos de todos os lados. Uma obra foi contratada dentro de um processo legal, fruto de uma compensação urbanística, e todos os procedimentos tem que cumprir um rito legal e as normas técnicas. O mais importante é que as alterações sejam de acordo com a vontade da maioria da população”, afirmou.
Representado pelo chefe do Núcleo de Projetos, Vítor Melo, o Detran propôs a redução do canteiro central, a redução dos dois gargalos no início (ao lado dos semáforos entre Guará I e II, ao lado do comércio) e no final do QI 23 (em frente ao quadradão da 4ª Delegacia), para a criação de mais uma faixa dos dois lados da via, e a abertura de baias para a parada dos ônibus sem ocupar parte da pista. Propôs também nivelamento das calçadas à pista nas passagens de pedestres, para facilitar o acesso de cadeirantes.
Os representantes dos moradores sugeriram ainda a retirada dos estacionamentos demarcados dos dois lados da via para possibilitar a abertura de mais uma faixa. Como o Detran “oficializou” as vagas de estacionamento que eram ocupadas informalmente pelos moradores, Anderson Fabrício Gomes, membro da comissão de moradores, sugeriu que o estacionamento fosse utilizado somente no período das 22h às 6h e liberado no período de maior fluxo de veículos na via.
Após três horas de discussão, foi marcada uma nova reunião para o dia 16 de agosto, terça-feira, para a apresentação de novas sugestões por parte do Detran a partir das críticas e sugestões dos representantes dos moradores. Depois de fechadas as alterações em consenso das duas partes – moradores e governo – o projeto será submetido à audiência pública, aberta à comunidade, para definir os destinos da ciclofaixa.
Insatisfação da comunidade
O clima das reuniões – três até agora – tem refletido o descontentamento da maioria da população guaraense com as interferências no trânsito, manifestado nas redes sociais. Desde janeiro, a ciclofaixa é, de longe, o assunto mais comentado em grupos de WhatsApp e Facebook da cidade, a maioria absoluta contra o projeto. Por causa dessa insatisfação, o governo decidiu suspender a parte do projeto que previa a extensão da ciclofaixa nos trechos 2 e 3, entre a 4ª Delegacia de Polícia e o edifício Pedro Teixeira, no final do Guará II.
Enquanto afaga o movimento que protesta contra a obra ao decidir pela sua interrupção, o governo esbarra em duas outras dificuldades, a primeira delas de ordem legal, porque a obra é uma compensação urbanística, que está sendo paga pelas incorporadoras que construíram grandes edifícios na orla e no centro do Guará II no período de 2008 e 2010 e foi negociada à época pelo Ministério Público com o então Governo Arruda. Como não foi executada desde então por falta de providências dos governos subsequentes de Wilson Lima e Rogério Rosso (tampões), depois de Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg, que tinham a responsabilidade de apresentar os projetos da compensação, o Tribunal de Contas do Distrito Federal resolveu intervir e exigir que o Governo Ibaneis cumprisse o acordo com as incorporadoras. Mas, para atender à exigência do TCDF, o governo atual resolveu lançar mão do projeto elaborado na época por técnicos da então Secretaria de Habitação, atual Seduh, portanto há quase 12 anos, aprovado por uma Comissão formada por representantes da própria Secretaria, da Secretaria de Transportes (atual Secretaria de Mobilidade) e do Detran, sem a preocupação de atualizá-lo para a realidade atual da cidade.