O ano letivo da rede pública de ensino do Distrito Federal começou com uma novidade. Pela primeira vez, os 475 mil alunos vão receber um kit completo de uniforme – serão mais de 3 milhões de peças padronizadas para todo o sistema educacional. “Antigamente, apenas alguns alunos tinham acesso ao uniforme. Outros precisavam adquirir. Mas como o governo avalia, de verdade, se a família tem ou não condições financeiras para comprar?”, questiona Celina. “Por isso, no ano passado, o governo sentiu a necessidade de entregar uniforme para todos, não apenas para aqueles que mais precisam. É um gesto que unifica nossas escolas, que dá a mesma oportunidade para todos.”
Até março, os estudantes vão receber o enxoval de verão, formado por duas camisetas de manga curta, uma regata e duas bermudas. O kit de inverno, com uma calça e um casaco, será distribuído até abril. Os modelos das sete peças são iguais para todos, mudando apenas o nome da instituição de ensino. Enquanto não recebem os novos uniformes, os alunos podem usar a versão anterior.
A secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, conta que a entrega dos uniformes precisou ser antecipada, já que estava prevista por contrato para ser feita no próximo mês. “A governadora em exercício pediu para que eu viajasse até Santa Catarina e fizesse um apelo ao fornecedor”, comenta. “Deu certo. E agora teremos todos os alunos, da educação infantil até o programa de Educação de Jovens e Adultos, uniformizados”.
O design manteve as camisetas do novo uniforme em um tom de azul claro, já usado por algumas instituições. A mudança veio no layout. A bandeira do Distrito Federal foi retirada, deixando o visual mais limpo. Além disso, tanto as camisetas quanto as regatas levam, na frente, o nome da escola e a região administrativa em que está localizada.
“O uniforme traz uma sensação de pertencimento grande para os alunos, é a identidade da escola. Além do mais, é uma garantia a mais de segurança fora do colégio”, observa a coordenadora regional de ensino do Guará, Fernanda Mateus. “Esse momento é único. Uma luta de anos que foi abraçada, no ano passado, pelo Governo do Distrito Federal.”
A animação diante dos novos trajes escolares é compartilhada pelos alunos. Aos 10 anos, o estudante do 5º ano Jonathan Vinícius Marques já tem planos para seu kit. “A gente pode combinar as peças de várias formas, dá até para fazer vídeos para as redes sociais com visuais diferentes”, conta. “É um uniforme muito bonito”.
Sem venda nas escolas
Proibição à venda na rede pública de ensino está em portaria publicada na edição extra do Diário Oficial do DF desta semana. A Secretaria de Educação (SEEDF) esclarece que, de acordo com a Portaria nº 130, é proibida a comercialização de uniforme escolar na rede pública de ensino do DF. O descumprimento ao disposto neste artigo implicará em apuração de responsabilidade. “O pai não precisa comprar o uniforme da rede pública de ensino, a não ser que ele queira ter mais peças do uniforme. E essa compra não pode ser feita nas escolas, mas nas malharias. Além disso, os pais que optarem por comprar mais peças devem ser orientados para que comprem nos mesmos moldes do modelo atual e oficial, que será distribuído”, esclarece a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá.
Prejuízo para o comércio local
Enquanto todos os uniformes dos alunos serão confeccionados em Santa Catarina, as malharias do Polo de Moda e as lojas do Guará vão amargar prejuízo.
“Essa medida afetou diretamente o nosso comércio, porque a gente se prepara todo o ano para vender uniforme. Estamos nessa briga desde 2019 esperando participar dessa licitação, tentando fazer com que as nossas empresas [do Guará], que tem capacidade para isso, fizessem [a confecção dos uniformes] aqui mesmo no DF. Afinal, são mais de R$ 130 milhões destinados pelo Governo do Distrito Federal para empresas fora da Brasília. Então, é uma receita que faz toda a diferença para os pequenos, médios e grandes empresários de Brasília, que tem capacidade para atender essa demanda”, reclama Erica Valentim, empresária do ramo de malharia e confecção de uniformes do Polo de Moda. “A gente se preparou, tem estoque e tem uma escola em que o diretor me encomendou e eu já entreguei mais de R$ 15 mil em peças de uniforme, e eu sei que ele não vai me pagar porque a medida do governo proíbe a venda de uniformes nas escolas. Muitos diretores já tinham feito seus pedidos com outras malharias”, completa.
Já a empresária Angelina Silva, da Destak Camiseteria, tinha se preparado para essa decisão do GDF sobre a distribuição dos uniformes para toda a rede pública e a proibição da venda nas escolas, mas, ainda assim, estima ter deixado de faturar cerca de R$ 70 a 80 mil com a medida. “Até o momento, eu não sei avaliar se o estoque está perdido porque o governo proibiu as vendas nas escolas, e isso atrapalha todo nosso planejamento”, diz ela. Sobre a escolha de uma empresa de Santa Catarina para fazer os uniformes da rede pública de ensino – em vez de uma empresa local – a empreendedora diz que se sente lesada: “O governo tem que mirar as empresas com olhar de empreendedor até porque investir nas empresas locais é fomentar o comércio e gerar lucro e empregos para a cidade. É preciso pensar com carinho nas empresas e investir esse dinheiro nos filhos da terra, no comércio local”.