Planejada no último Governo Roriz, há 16 anos, e promessas de prioridade de governos que o sucederam, finalmente a duplicação da via entre Guará e Núcleo Bandeirante está saindo do papel. Nesta quarta-feira, 22 de novembro, o governador Ibaneis Rocha assinou a ordem de serviço para início das obras, acompanhado da vice-governadora Celina Leão e secretários de estado.
A duplicação da via que liga a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) à Avenida Contorno, na altura da Quadra 38 do Guará II, vai custar R$ 10,1 milhões, recursos da Caixa Econômica Federal, repassados através de emendas parlamentares da bancada do DF no Congresso Nacional.
A parte duplicada será a que atualmente é de mão única, logo após os lavajatos, até o balão que dá acesso a Arniqueira, nas proximidades do Lar dos Velhinhos, com a construção de uma segunda ponte sobre o córrego Vicente Pires. O trecho a ser duplicado tem 1,2 quilômetros, mas a obra envolve melhoria de todo o trecho de 3,4 quilômetros, por onde passam cerca de 12 mil veículos por dia.
Ao assinar a ordem de serviço para início das obras, o governador Ibaneis Rocha lembrou dos tempos em que morou no Guará e o quanto ela foi ampliada. “O trânsito aqui cresceu muito, houve um desenvolvimento muito grande dessa região do Park Way, do Guará e de Arniqueira, então com isso aumentou o fluxo de veículos aqui. É muito difícil passar aqui no horário de pico. Então, essa obra parece pequena, mas ela tem um significado muito importante para toda essa população. E nós cuidamos de todas as obras, das grandes e das pequenas”, afirmou o governador.
A duplicação da via prevê serviços de pavimentação, drenagem, meios-fios, calçadas e sinalização horizontal e vertical. Além disso, haverá a implantação de uma ciclovia, que será conectada ao sistema cicloviário existente no Guará II, a partir da QE 32, e no Park Way, próximo à interseção entre a ferrovia e a via de acesso à DF-079. Parte do trajeto ficará na lateral da via e parte perto do canteiro central.
“Ela traz uma mobilidade não só para o motorista, mas também para os outros modais, no caso ciclistas e pedestres. Vamos restaurar todo o asfalto e também duplicar a ponte, que hoje é de mão simples. É uma obra que atende por completo a expetativa dos usuários”, acrescentou o secretário de Obras, Luciano Carvalho, pasta responsável pelo serviço.
A cerimônia também marcou a entrega de duas bacias de contenção que ficam localizadas no Setor Habitacional Bernardo Sayão, próximas à ponte sobre o Córrego Vicente Pires, que contaram com investimento de cerca de R$ 5 milhões. Elas melhoram o sistema de drenagem e trazem mais conforto e segurança para os moradores.
Comunidade agradece
Moradora da região há 55 anos, a comerciante Euly da Silva, 74 anos, diz que a obra vem em boa hora, principalmente para resolver o trânsito. “Lutamos muito para que essa duplicação acontecesse. Isso aqui para mim é uma vitória de nós moradores. Já vi muitos acidentes, aqui passam muitos carros. Chega uma hora que você não anda aqui, então a obra vai ajudar muito, só tenho a elogiar”, comemorou.
Para o secretário de Governo, José Humberto Pires, é uma prioridade da atual gestão melhorar os acessos, as condições de trânsito e trazer mais conforto à população. “Sobretudo com a duplicação da via, ciclovia e as condições de acessibilidade para as pessoas que ali transitam. Por isso, é muito importante que essa obra seja executada”, afirmou o secretário.
Mais de 15 anos de espera
Considerada essencial para resolver um dos gargalos de trânsito mais problemáticos do Distrito Federal, a duplicação da via entre o Guará e o Núcleo Bandeirante foi considerada uma das prioridades de quatro sucessivos governos do Distrito Federal. Mas não saiu do papel, em parte por intercorrências técnicas do projeto, como a troca de um viaduto sobre a linha térrea por um túnel, ou por dificuldades na liberação da Licença Ambiental.
Faltou também vontade política de secretários e de governadores para agilizar a obra, considerada relativamente barata se comparada aos custos de outras obras menos relevantes executadas no Distrito Federal nos últimos 20 anos.
A duplicação chegou a ser confirmada em outubro de 2020, durante o anúncio do pacote de obras para o Guará em 2021/22, quando o governo prometeu investir mais de R$ 100 milhões na cidade. A obra foi incluída no pacote uma semana depois de reportagem de capa do Jornal do Guará lembrando as sucessivas promessas de quatro governos de executá-la.
Previsto inicialmente em R$ 40 milhões no último governo Roriz, em 2006, o orçamento da duplicação foi reduzido para R$ 33 milhões no governo Agnelo e para R$ 29 milhões no governo Rollemberg, e reduzida no Governo Ibaneis para pouco mais de R$ 10 milhões. As reduções de custos tiveram a intenção de ajudar na obtenção dos recursos necessários, mas o projeto não conseguiu sair do papel, mesmo depois das alterações técnicas para a redução do orçamento.
A obra esteve muito próxima de ser executada no governo Rollemberg, depois que a Novacap concluiu o projeto, mas a exigência de mudanças de cálculos do viaduto previsto, por parte do ABNT, abortou as providências. Com a troca de comando do Palácio do Buriti e da Novacap desde o início de 2019, o projeto voltou para a gaveta e não foi incluído em nenhum pacote de obras nos dois primeiros anos do novo governo, até que a reportagem do Jornal do Guará despertou o assunto. O pedido para a retomada da duplicação foi feito pelo ex-deputado distrital Rodrigo Delmasso, membro da base do governo na Câmara Legislativa, e morador da cidade, ao secretário de Infraestrutura e Obras, Luciano Carvalho, e ao presidente da Novacap, Fernando Leite, no ano passado.
Um dos fatores que ajudou no convencimento ao governo foi a lembrança da reportagem do JG de que o assentamento de cerca de 10 mil pessoas na Expansão do Guará (QEs 48 a 58) nos próximos dois anos iria aumentar consideravelmente o gargalo da travessia, que hoje chega a 40 minutos entre 18h e 20h, em menos de dois quilômetros.
Planejada há cinco governos
A duplicação começou a ser planejada no último dos três governos de Joaquim Roriz, mas ficou parado no governo Cristovam Buarque, como aliás aconteceu com quase todas as obras físicas do período. O projeto voltou a andar no governo Arruda, quando o Distrito Federal recebeu a maior quantidade de investimentos em obras de sua história. Entretanto, a duplicação da via não foi contemplada, mas, desta vez por culpa de entraves na licença ambiental impostos pela Secretaria de Meio Ambiente. O governo tampão que o sucedeu, de Wilson Lima, e depois o de Rogério Rosso sequer se interessaram pela obra, que voltou a ser discutida efetivamente no governo Agnelo, quando o projeto inicialmente orçado em cerca de R$ 40 milhões foi refeito e readequado para cerca de R$ 33 milhões.
O governo Rollemberg foi o que mais se interessou e avançou no projeto de duplicação da via, mas esbarrou numa outra exigência, desta vez da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que havia alterado os cálculos de concretagem de viadutos e pontes – no projeto estão previstos dois viadutos e a duplicação da ponte sobre o córrego Vicente Pires. Por causa dessa alteração das normas, o projeto teve que ser novamente readequado, mas como a Novacap não tinha estrutura para fazê-lo por conta própria, teria que contratar uma empresa externa para executá-lo, mas não houve tempo para a contratação.
Para tentar viabilizar a obra mais rapidamente, a Secretaria de Infraestrutura e Obras do governo Rollemberg resolveu promover algumas alterações no projeto, a principal delas a troca do viaduto sobre a linha férrea, entre a antiga estação Bernardo Sayão e o Lar dos Velhinhos Maria Madalena, na via de acesso ao Park Way, por um túnel, que teria um custo bem menor do que o viaduto exigiria
No governo Arruda, o então administrador do Park Way, Antônio Girotto, pensando em facilitar o acesso às quadras 3 e 4 daquela Região Administrativa, resolveu abrir uma passagem sobre a linha férrea para tentar reduzir um grande engarrafamento todos os dias dentro do Guará e na Epia na altura do Núcleo Bandeirante. A nova passagem sobre os trilhos criou uma nova rota para quem vive nas quadras 3 e 4 do Park Way, em Arniqueira e Águas Claras, passando por dentro do Guará. Mas, a quantidade de veículos que passava pelo acesso era muito superior à capacidade da via, causando enormes congestionamento nos horários de pico, com reflexos até na via contorno do Guará II em alguns momentos. A situação melhorou com a duplicação da nova via, no final do governo Rollemberg, com a criação de uma segunda pista no sentido contrário.