Skatista guaraense nas Olimpíadas de Paris

Nascido e criado no Guará, Felipe Gustavo participa da sua segunda Olimpíada e é considerado um dos maiores atletas do mundo na modalidade

O morador do Guará terá um motivo a mais para acompanhar as Olimpíadas de Paris, de 26 de julho a 11 de agosto. É que a cidade será representada por um atleta nascido e criado aqui, embora tenha feito carreira profissional fora do país. Felipe Gustavo Macedo, 33 anos, será um dos três atletas brasileiros a representar o Brasil no skate masculino. Campeão da etapa australiana da SLS, em 2023, e presente nos principais eventos de Street, Felipe Gustavo confirmou, novamente – ele já havia participado das Olimpíadas de Tokyo em 2021 -, vaga no maior evento multiesportivo do mundo. Ele garantiu a terceira vaga nacional ao somar 83.816 pontos no ranking mundial e integra a delegação masculina de skate street ao lado de Kelvin Hoefler, medalhista no Japão, e de Giovanni Vianna.
O nome pode não ser muito familiar para a maioria dos guaraenses e dos brasileiros, até porque ele pratica um esporte de pouca visibilidade no Brasil, mas Felipe Gustavo é muito conhecido e reconhecido nos Estados Unidos e nos países onde o skate tem status de esporte internacional. Foi em busca desse reconhecimento que ele deixou o Guará há 18 anos e foi morar em Los Angeles, Califórnia, e é hoje é reconhecido como um dos principais skatistas do mundo a ponto de viver, e bem, exclusivamente do esporte, o que nunca aconteceria se continuasse no Brasil.
Patrocinado por uma das principais marcas de produtos do skate, Felipe ganha a vida entre pontes aéreas e manobras radicais. Na Web tem mais de 600 mil seguidores. É, portanto, uma celebridade, embora não o seja por aqui.

Influenciado
pelos irmãos
Entretanto, o skate não era o sonho de consumo esportivo do garoto Felipe Gustavo, que gostava mesmo era de futebol até aos sete anos de idade, mas foi influenciado a mudar pelos irmãos mais velhos, Paulo Henrique e Marcos Vinícius, que eram levados pelo pai Paulo Macedo para praticarem skate no Parque da Cidade. Vendo que Felipe também passou a gostar do esporte, o pai o presenteou com um skate também. “A gente era uma família do skate. Meu pai era o mais empolgado e sempre falava para irmos ao parque. Meus dois irmãos andando e meu pai sempre incentivando fizeram muita diferença na minha escolha”, relembra. “Com dificuldade para se equilibrar nas quatro rodinhas, ele apostava corrida de skate sentado, pegando impulso com as mãos. Depois que aprendeu a ficar de pé na prancha, ninguém mais o segurou”, conta Paulo Macedo.
Ao perceber que o filho tinha potencial para crescer no esporte, depois que Felipe passou a ser uma das atrações do Setor Bancário Sul, onde a galera skatista gosta de praticar, Paulo construiu uma pista na própria casa, na QE 1 do Guará I, para que os filhos pudessem praticar e Felipe se aperfeiçoar.
Aos 15 anos, Felipe já era considerado um dos principais skatistas do país. Colecionando títulos nacionais, ele participou de um campeonato em Minas Gerais, cujo prêmio era uma passagem para competir no campeonato mais tradicional do mundo, em Tampa, nos Estados Unidos, onde conquistou o título da competição, mas não recebeu o prêmio prometido pelos organizadores. A frustração pelo calote quase o fez desistir da carreira. Mas o pai resolveu apostar no potencial do filho e vendeu seu próprio carro para financiar a estadia dele nos Estados Unidos. A decisão foi acertada. Felipe passou a receber propostas para competir no circuito internacional e com novas conquistas foram surgindo os patrocínios. Com o sucesso, o irmão Paulo Henrique, que o incentivou no início da carreira, também foi premiado, ao se tornar o fotógrafo oficial de Felipe e também morar em Los Angeles. “Já estive competindo em todo o mundo e sempre procurando orgulhar meu país e minha família”, conta Felipe.

Visitas à Brasília
Morando em Los Angeles há 22 anos, Felipe Gustavo volta a Brasília apenas para matar a saudade da família, dos amigos e do Setor Bancário Sul, um dos lugares preferidos dele no mundo, ao lado de Barcelona e de cidades da China, para fazer o que mais ama, que é andar de skate. É na capital federal que está a maioria dos amigos que ainda o chamam de Bochecha, apelido que ganhou no esporte. “Sinto-me muito livre, é um pico que o mundo inteiro queria ter. Pode andar de skate que ninguém vai te mandar embora. É coberto, o chão é bom e temos essa liberdade em Brasília”, elogia.
Os reflexos de o skate alcançar o status de modalidade olímpica a partir das Olimpíadas de Tokyo já são sentidos pelos amantes do esporte. “O skate sempre foi uma parada de rua, que até hoje é muito discriminada. Sendo um esporte olímpico, está mudando a cabeça de muitas pessoas e gerando novas oportunidades com patrocínios e visibilidade”, analisa o atleta guaraense.