A Primeira Legião Urbana no Cave: A História que Quase Ficou Esquecida – por Mário Pazcheco

Primeira Apresentação da Legião Urbana em Brasília: Um Marco Redescoberto (2025)

Foi em 2009 que, meio por acaso, encontrei no banco de trás de um carro um livro recém-lançado: “Renato Russo – O Filho da Revolução”, do jornalista Carlos Marcelo, então repórter do caderno de cultura do Correio Braziliense. Naquele momento, duas coisas eram novidade pra mim: o livro e a experiência — meio desconfortável, confesso — de ser carona no banco de trás.

Dei aquela olhada rápida, meio despretensiosa… mas bastou. Li o livro numa lapada só. E sabe por quê? Porque o dono do livro, já calejado, ia me catequizar pela milésima vez sobre o cuidado extremo com qualquer coisa que eu pegasse emprestado — principalmente livros — e a eterna má vontade dele em me emprestar qualquer coisa.

Quando ele me perguntou o que eu tinha achado, fui direto:
— Faltou a primeira apresentação da Legião Urbana no Guará, no Teatro de Arena do Cave.

Ele, claro, rebateu na lata:
— Sabia! Você não gostou só porque esse detalhe ficou de fora…

Desconfiei, na época, que aquele esquecimento não tinha sido acidental. E foi aí que, em maio de 2009, comecei uma verdadeira campanha pra combater esse lapso crônico na história do rock de Brasília. Afinal, aquele show não foi qualquer show. Foi uma apresentação visceral, suja, barulhenta, do jeito punk de ser — com tudo que isso significa: instrumentos falhando, microfonia, aquela dose de caos que faz a mágica acontecer.

Comecei a espalhar esse relato em sites, redes, entrevistas em rádio e TV — inclusive na própria Globo, o que logo atraiu também o olhar de outras emissoras, como o SBT. Meus textos pipocaram nos tabloides regionais das cidades-satélites, e aquilo foi ganhando corpo.

Pra minha enorme satisfação, 16 anos depois, virou praticamente consenso. Hoje é comum ver, em matérias sobre o rock de Brasília, o Teatro de Arena do Cave citado com todas as letras como o palco da primeira apresentação da Legião Urbana na cidade. Escrito, inclusive, como se os autores tivessem estado na plateia naquela noite histórica.

E olha… não me venha dizer que agora tem uma placa no Cave demarcando o fato. Porque, honestamente, desconfio: se não fosse meu grito e minha insistência, esse pedaço essencial da história teria simplesmente passado em branco.

E quando alguém, no auge do cinismo, não se conformava com a ideia de que aquele tinha sido, sim, o primeiro show da Legião Urbana em Brasília, vinham com aquele velho papo torto:
— Ah, mas não era o Aborto Elétrico?

Pois é. Tem coisas que nem a história consegue convencer quem não quer ouvir.