O Centro de Ensino Fundamental 4, localizado na QE 12 é um dos mais conhecidos do Guará, muitas vezes pelas más notícias e cenas de violência que aconteceram dentro e fora de suas dependências e já foi considerado uma das escolas com maior índice de violência do Distrito Federal. Mas a direção está certa que esses dados são fatos do passado e tem travado uma batalha diária para mudar a imagem e oferecer aos cerca de 1200 alunos que estudam lá uma mudança na mente, na forma de agir e consequentemente garantir melhor rendimento dentro da sala de aula. Além do trabalho pedagógico e interdisciplinar, o centro de ensino conta com o apoio do Batalhão Escolar, sediado na escola..
Quem costuma transitar pelas redondezas do CEF 4, há alguns meses tem observado uma bela transformação; a começar pelos muros e portões que estão revitalizados com pinturas que retratam os monumentos mais populares de Brasília como a ponte JK, a Catedral e o Congresso Nacional. A iniciativa partiu da diretora Jane Alves Barreto e de outros funcionários que estavam cansados de tanta pichação dentro e fora da escola. Em seu primeiro ano como diretora, Jane está decidida a mudar o rótulo do CEF 4, e a primeira ideia foi juntar alguns voluntários e trabalhar. A surpresa foi das melhores. Antigos alunos souberam da ideia da diretora e aderiram ao projeto; funcionários e alunos atuais também estão ajudando na revitalização.
“Garantir o contato diário desses alunos com a história da arte de uma maneira despretensiosa tem sido maravilhoso. Todo dia eles vão ver a Tarsila do Amaral e quando no futuro forem a um museu, ou ver na TV algo relacionado a ela, virá na memória esse período que ele esteve na escola e o que aprendeu”, pontua Jane, que se enche de orgulho ao ver os alunos pelos corredores explicando para os colegas detalhes das obras.
Para quem adentra os portões a mudança é ainda maior. Em cada parede do pátio, das salas de aula, dos banheiros e da área de recreação, está tudo cheio de pinturas de artistas famosos como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Romero Britto, Os Gêmeos entre tantos outros. Através das obras retratadas nas paredes, os professores de Português e Artes organizam oficinas onde os alunos estudam sobre determinado pintor, a época em que viveu e o estilo da arte. Os trabalhos dos alunos ficam ao lado das pinturas e todos da escola podem ler e entender melhor sobre os desenhos.
“Sem dúvida a inclusão dos alunos na revitalização do nosso centro de ensino foi o melhor projeto que poderíamos ter desenvolvido, o resultado vai muito além da estética, que já é bom, mas o principal é a compreensão dos valores que o projeto agregou a cada um deles”, conta a diretora. Mesmo sem verba do Governo para o projeto, a direção não desanima e junta o dinheiro para comprar o material usado (tintas, spray, pincéis, rolos etc) com a venda de picolés e do bazar permanente. O trabalho ainda não terminou e muito mais cultura será retratada nos muros do CEF 4.
Além do projeto de revitalização que envolve os estudantes e traz para eles a consciência da preservação do patrimônio público e do trabalho do próximo, a direção vive uma batalha diária na luta contra hábitos antigos de uma boa parte dos alunos que costumavam pichar dentro e fora da escola, brigar e depredar. Dentre as medidas para combater essas práticas estão:
Vigilância constante – assim que o aluno chega de ônibus escolar vai direto para dentro da escola, nada de ficar na praça ou pelos arredores do CEF 4 matando aula ou procurando coisas erradas para fazer.
Aulas vagas ou períodos ociosos – há uma área de lazer onde os alunos são encaminhados para praticar tênis de mesa ou outros jogos, reprimindo a intenção que alguns alunos têm de pular muro ou depredar as instalações da escola.
Instalação de câmeras de segurança – com dinheiro proveniente da venda de picolés e rifas o centro de ensino conseguiu instalar um sistema de vigilância que auxilia na proteção do patrimônio.
Aproximadamente 90% dos alunos matriculados no CEF 4 são oriundos da Cidade Estrutural, onde os colégios existentes não comportam a demanda e são encaminhados para o Guará. O CEF 4 também é inclusivo e recebe dezenas de alunos especiais em classes exclusivas ou inseridos nas classes comuns, dependendo do desenvolvimento de cada um. Este ano fizeram uma parceria com o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), para os alunos especiais terem acesso a cursos profissionalizantes; o centro de ensino oferece o material e o Pronatec os profissionais que ministram os cursos. Os alunos recebem o certificado ao final do curso e podem ser inseridos no mercado de trabalho. A partir do ano que vem os alunos do ensino regular noturno também poderão fazer os cursos profissionalizantes.