Desempregado há três anos, sem um real no bolso e semperspectiva de um novo emprego, José Altair Pinto de Carvalho decidiu dar avolta por cima e driblar a crise. O ambulante que vende água de coco gelada eguloseimas no semáforo entre o Hospital dos Bombeiros, no acesso ao NúcleoBandeirante e a QE 38, está sempre bemvestido – roupa social, gravatinha borboleta, barba feita e cabelos alinhados,está há pouco mais de um ano trabalhando na região.
Nascido em Esperantina, interior do Piauí, Altair veio parao Guará em 1994 buscando novas oportunidades de trabalho e qualidade de vida.Há muitos anos atrás teve a ideia de oferecer um produto saudável para apopulação, mas por falta de espaço no apartamento em que morava não conseguiaexecutar seu projeto. Anos depois, desempregado e morando em casa decidiumontar o seu negócio.
No primeiro dia que foi trabalhar no semáforo, lembra quesaiu de casa chorando por não ter um centavo no bolso, e retornou também comlágrimas nos olhos, porém de alegria. Nas primeiras duas horas vendeu 75garrafas de água de coco, números que superaram as expectativas. “Fico muitotriste vendo as crianças tomando sucos artificiais e refrigerantes, porque sãoprodutos que não trazem benefício algum. Esse meu trabalho tem a ver com saúde,e até mesmo com as gerações futuras; saber que estou ajudando as pessoas atomarem um produto rico em vitaminas me deixa satisfeito”, diz o vendedor.
Inovação
Ele que sempre se destacou nos empregos antigos pela suaagilidade e ao mesmo tempo bom atendimento, trouxe essas características tambémpara a rua. O tempo de 45 segundos em que o semáforo está fechado é só correriapara o vendedor. “Tenho que ser muito objetivo e rápido, ainda assim façoquestão de ser educado e alegre”, conta Altair. Além da água de coco gelada comcanudinho e guardanapo, ele oferece em sua bandeja, balas, paçoquinha, queijopolenguinho de vários sabores e dependendo do clima, chocolate. As guloseimasforam incluídas a pedido dos motoristas. Os dias de melhor movimento são osfinais de semana e feriados, onde o volume das vendas triplica.
Todo serviço é desenvolvido pelo próprio vendedor, e é elequem vai aos fornecedores de coco por atacado, higieniza, faz a retirada dolíquido para o seu recipiente térmico. Em casa, com roupa especial, botas,touca e máscara, faz o serviço de dosagem e envasamento do líquido, depoisarmazena as garrafinhas refrigeradas. “Meu produto é 100% seguro e não temavaria (defeito), pois estou presente em cada etapa e sou muito exigente. Se ococo estiver rachado, não aceito, porque sei que ali entrou ar e a água nãoestá boa para meus clientes”, afirma Altair.
Sobre o estilo social com que se veste para trabalhar ele ésucinto: “A pessoa quando está bem vestida ou uniformizada dá mais segurança aocliente, as pessoas te veem com outros olhos”, afirma o vendedor, que fazquestão de estar bem apresentável mesmo sob sol quente. Ele considera que quemtrabalha com alimentos, é obrigação estar com tudo limpo. Acostumado com osflashes, Altair perde as contas de quantas pessoas pedem para tirar foto deletodos os dias – ele diz que não se importa com o “assédio” e acha que as fotosé uma forma que as pessoas tem de manifestar o carinho pelo seu trabalho.
Os planos para o futuro são relacionados à matéria-prima comque trabalha atualmente, “o coco é um produto que deve ser aproveitado docomeço ao fim, a casca não deveria ser descartada no lixo. Ela é ótima comofertilizante para a terra, mas precisa ser processada”, conta. Ele tem planospara investir no segmento.