Embora receba a denominação de “hospital”, o Hospital Regional do Guará (HRGu) não passa de um posto avançado, com atendimento de emergência, mesmo assim incompleto. Há muitos anos, a comunidade tem reivindicado a construção de um verdadeiro hospital para a cidade, inclusive com sugestões de locais, mas o assunto nunca passou de audiências e de promessas. Ainda não é a decisão definitiva, mas agora aumentou a possibilidade da população guaraense ganhar esse presente. O deputado distrital Rodrigo Delmasso (Podemos), padrinho político da Administração do Guará, conseguiu a garantia do secretário de Saúde, Humberto Lucena, de que o assunto vai ser tratado desta vez de forma mais objetiva.
Durante o encontro com o secretário, Delmasso sugeriu a construção de um hospital, no Cave, com capacidade para 150 a 200 leitos – O HRGu tem apenas 53 leitos – no terreno do Centro de Saúde 2, ao lado da QE 17. O que facilita a proposta é o modelo da obra e do gerenciamento, que seriam custeados pela iniciativa privada através de Parceria Pública Privada (PPP) ou de Concessão de Obra Pública (modelo que está usado para a revitalização do Complexo do Cave). Mesmo sendo construído e gerido pela iniciativa privada, o hospital seria público, no mesmo modelo implantado este ano no Hospital de Base, ou do Hospital da Criança, em que uma empresa ou instituição se responsabiliza pelos custos e o funcionamento, e cobra do governo o repasse pela quantidade de atendimentos. Se dependesse de recursos públicos, a construção do hospital teria poucas chances de acontecer porque o caixa do governo mal dá para o custeio da sua máquina.
Atendimento regional
De acordo com o deputado Rodrigo Delmasso, o objetivo é que o atual Hospital do Guará se transforme em uma policlínica ou em uma unidade de tratamento de oncologia. O custo da obra está previsto em R$ 150 milhões, e atenderia aà região Centro-Sul (uma das divisões de atendimento da rede pública), formada por Asa Sul, Guará, Lago Sul, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo I e II e Park Way. “A idéia surgiu da manifestação de interesse de uma grande rede de hospitais de São Paulo, que construiu e administra hospitais próprios e outro na cidade de Jaú, que tem atendimento público custeado pelo governo de São Paulo. E devem surgir outros interessados”.
Para o deputado, o governo, inclusive o federal, já não dispõe mais de recursos para conseguir atender as demandas da saúde, “por falta de orçamento ou por ineficiência de gestão. A solução é dividir com a iniciativa privada, que, além de tudo, é muito mais ágil nas providências”.
As deficiências do Hospital do Guará
Mesmo localizada numa região central, com Vicente Pires, Estrutural e SIA de um lado, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Park Way do outro, e com uma população de quase 150 mil, a cidade do Guará não conseguiu ainda um hospital que pudesse atender pelo menos parte da demanda de toda essa população. O existente está longe disso e é o mesmo implantado há mais de 20 anos, sem qualquer ampliação no período. E de vez em quando ainda corre risco de ter sua atuação esvaziada, como ocorreu no início do ano passado, com a notícia de que o Samu estava saindo do hospital e desativando a sala de emergência, o que acabou sendo desmentido, pelo menos em relação à desativação.
Na época, para evitar que a cidade perdesse a emergência, a comunidade se mobilizou, procurou a imprensa e promoveu uma “abraçasso” em torno da unidade, para chamar a atenção do governo e dos moradores para os prejuízos que a medida poderia acarretar. Mas, logo depois, numa entrevista exclusiva ao Jornal do Guará, a diretoria do HRGu, Adriana Benevides Guimarães, explicou que a saída do Samu não representava a desativação da Sala Vermelha, que continuaria funcionando com a estrutura do próprio hospital, após o remanejamento de profissionais e da agenda de atendimento de outras áreas.
“A saída do Samu não alterou muito o atendimento da emergência, porque a maior parte da estrutura era do próprio hospital. Os médicos plantonistas eram nossos. A diferença foi apenas nos enfermeiros e técnicos de enfermagem, que eram do Samu, o que nos obrigou a um remanejamento interno para repô-los na Sala Vermelha”, explicou a diretora.
Na entrevista, ela garantiu que a capacidade de atendimento continuava a mesma da época do Samu, com dois leitos, um médico, dois enfermeiros e dois técnicos de enfermagem no plantão. “Dispomos de 47 profissionais para o atendimento de todo o hospital. Mesmo com um déficit de 15 técnicos e 9 enfermeiros, não deixamos reduzir o atendimento ao público”. Com a saída do Samu, o Hospital do Guará recebeu a reposição de seis técnicos e dois enfermeiros.
O que teria ajudado na manutenção dos serviços, segundo ela, foi a ampliação do programa Saúde da Família, que já teria alcançado cerca de 50% de cobertura das famílias assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), numa meta de 70% para o DF. “Até 2016, eram apenas 11%. Isso quer dizer que a maior parte desses pacientes não precisa ir mais ao hospital, basta procurar o posto de saúde mais próximo. Com isso, a demanda do hospital caiu consideravelmente, e passamos a atender somente os casos mais graves”, explicou.
Pediatria permanece
Outro boato (antigo) desmentido pela diretora era sobre a transferência da pediatria para o Hospital Materno Infantil (Hmib). ”Nunca foi cogitado isso. A pediatria é o setor mais organizado do Hospital do Guará e não haveria motivos para ser removido. O que aconteceu é que firmamos um acordo, em que o HMIB continua como referência para os casos mais graves e o HRGu continua fazendo o suporte para os casos menos graves na região Centro Sul (Asa Sul, Guará, Lago Sul, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo I e II e ParkWay)”.
A pediatria do Hospital do Guará dispõe de 15 leitos para internação e 8 berços para pronto-socorro. A capacidade de atendimento é de 3.200 crianças por mês.