Como você imagina o Guará daqui a 50 anos?

Passados 50 anos das primeiras casas habitadas no mutirão que deu origem ao Guará, e em comemoração ao 49º aniversário de fundação da cidade, o Jornal do Guará fez esta pergunta aos alunos da Escola CLasse 6 (crianças entre 5 e 11 anos). A esperança das crianças em um futuro mais amoroso, pacífico e sustentável é inspiradora. Uma lição para o presente e motivação para que consigamos realizar o que os pequenos habitantes do Guará anseiam para o futuro.

Como as crianças idealizam a cidade onde viverão

Há 50 anos engenheiros, operários, arquitetos, políticos e sonhadores iniciaram um grande mutirão para construir uma nova cidade, o nosso Guará. Será que a cidade que imaginavam era a mesma que vivemos hoje? Será que sabiam que o Guará seria, depois de meio século, esta cidade tão linda? Como será que nossas crianças percebem nossa cidade hoje? E como será que a imaginam daqui a 50 anos?
Para entender melhor nosso presente propomos um desafio a estudantes entre o primeiro e o quinto ano do ensino fundamental. Afinal, conceber um futuro ideal é o primeiro passo para alcançá-lo. Como universo de pesquisa foram escolhidos os alunos da Escola Classe 5 do Guará, instalada desde 1977 entre as quadras 24 e 26.


Desafio de abstração


Ao pedir para estas crianças, todas menores de 11 anos, imaginarem um futuro tão distante, os educadores tinham consciência de que havia limitações na capacidade de abstração. Ainda assim, imaginar uma cidade futura é simplesmente desenhar uma cidade ideal, esteja ela em qualquer década, utilizando qualquer tecnologia. Ver como estas crianças desenhavam estes mundos utópicos é um retrato do próprio posicionamento destes alunos frente à vida. E ficamos surpresos e felizes com o otimismo e a esperança com que encaram o porvir.
É hegemônico no discurso dos alunos que o futuro será mais sustentável, com mais parques e áreas verdes, com soluções melhores de transportes, hospitais, alimentação saudável e escolas melhores. O tom esperançoso perpetua-se em todos os trabalhos, tanto dos menores, nas coloridas garatujas, ou nos poemas e textos dos maiores.
Obviamente o desenho da criança depende unicamente do olhar do intérprete. É o mundo improvável, onde os significados podem nos surpreender. Mas, nas mãos dos educadores, ainda que cuidadosos com a liberdade de expressão, as crianças conseguiram ordenar seus pensamentos por temas comuns, discutindo entre si cada assunto anteriormente e criando coletivamente este futuro abstrato.

O futuro do Guará é verde!

Flores, árvores, o céu azul em dias belos. Esta é uma representação muito frequente do futuro de nossas crianças. Difícil saber se é este de fato o que imaginam para daqui a 50 anos ou que querem para um futuro mais próximo. O Guará é uma das cidades com mais áreas verdes do Distrito Federal, ainda que a boa parte delas esteja mal cuidada, ocupada irregularmente ou não ofereça estrutura e segurança. Se nossos descampados pudessem ser ocupados por famílias em horas de lazer, se os parquinhos da cidade estivessem sempre em boas condições, as praças limpas e as áreas verdes sem lixo e entulho, talvez este futuro pudesse ser vivido plenamente agora. Este parece ser o desejo de nossas crianças.
É importante saber que o cuidado com a cidade é um tema tratado na escola de forma tão enfática, afinal, mesmo se o Estado estivesse tratando da forma que deveria destas áreas, a responsabilidade pela degradação e sujeira é da população. Estes estudantes podem de fato transformar a atitude das famílias no cuidado com as áreas públicas do Guará. A gestão do lixo aparece em vários desenhos. Pessoas cuidando da destinação dos resíduos e veículos voadores transportando corretamente o lixo, tudo para evitar que a sujeira continue espalhada pela cidade.
A vontade de mais opções de lazer é também muito evidente nos desenhos. Gangorras, balanços, rodas gigantes, fontes, escorregadores são constantes entres vários desejos dos pequenos. O futuro estará recheado de brinquedos para seus descendentes. Certamente não serão tão displicentes como fomos com eles.

Transporte simples, coletivo e autônomo

A futurologia não existiria sem falar dos meios de transporte. É uma obsessão humana, desde a invenção da roda, aprimorar a forma de deslocar-se, principalmente no meio urbano. Talvez porque o deslocamento da população cause tantos transtornos. Sejam os acidentes de trânsito, seja a poluição, o barulho, o alto custo, o encanto causado pelos belos automóveis nas crianças e adultos, enfim, os meios de transporte permearam também a imaginação de nossos alunos.
O deslocamento urbano é especialmente sensível para as crianças. Afinal, o horário de pico do trânsito no Guará acontece justamente por conta das escolas. Uma cidade essencialmente residencial, com escolas encrustadas no meio de casas e pequenos prédios, se vê tomada de carros e ônibus nos horários de entrada e saída das aulas.
O deslocamento de casa para escola é um capítulo á parte na educação hoje e deve ser observado com atenção. Entender o veículo motorizado, seja ele particular ou coletivo, como principal forma de percurso escolar isola a criança da cidade. Pensar em caminhos seguros, com a criança como cidadã ativa, ocupante da urbe é fundamental.
E assim as crianças não apenas imaginaram os novos veículos, que não são apenas carros autônomos ou elétricos, voadores ou compactos, mas bicicletas e patinetes que dariam autonomia para as próprias crianças, no futuro, se deslocarem livremente pela cidade.

Um 2068 seguro e saudável

Entre a casa e a escola, existe um território de oportunidades para as crianças: a própria cidade. Estimular a mobilidade ativa infantil é oferecer instrumentos para a formação cidadã, pois caminhando ou andando de bicicleta pelo espaço em que vive, a criança internaliza diferenças, identifica problemas e adquire uma posição questionadora.
Mas para isso, é preciso que se tenha segurança. E uma cidade mais segura é o que as crianças do quinto ano, as mais velhas da escola previram para o futuro do Guará. Um desejo calcado na necessidade. Mais distantes da inocência da primeira infância começam a notar as mazelas e limitações causadas pela insegurança.
Estas também recalculam a arquitetura da cidade, especialmente o tamanho das construções. A verticalização, principalmente pelo crescimento demográfico acelerado, já começou. Imagine como está em 2068? Será que a cidade suportará as novas construções? Quantos andares terão nossos prédios?
O Guará do futuro tem um novo e moderno hospital. No lugar do sucateado e limitado Hospital Regional do Guará, uma estrutura de muitos andares, “tecnológica” e de fácil acesso aparece no futuro imaginado pelas crianças. A alimentação é cada vez mais natural, com poucas mudanças (o macarrão pelo menos continuará a ser o mesmo), e os mercados oferecerão comidas mais saudáveis. A agricultura urbana, com hortas comunitárias e dentro do perímetro urbano estarão cada vez mais presentes na vida destes futuros adultos.
Como em 2017 e 2018 o Distrito Federal passou por uma severa crise hídrica, que nos levou a um racionamento de água, tema abordado em sala de aula e em casa pelos alunos, a preservação das fontes hídricas é uma preocupação das crianças para o futuro. Provavelmente o córrego Guará e o Córrego Vicente Pires, que delimitam nossa cidade, estarão melhor preservados no futuro.

 

As crianças foram ouvidas para a produção deste material na Escola Classe 6 do Guará, em abril de 2018. Todas as ilustrações deste suplemento foram feitas pelos próprios alunos com idades entre 5 e 11 anos. O material, colhido pelos professores, foi analisado pelo jornalista Rafael Souza e pela diretora da escola, a professora Rizê Moreira.