A complicada reforma do estádio do Cave

Obra foi paralisada em setembro de 2016, retomada em abril deste ano e novamente paralisada, sem previsão de retorno. Burocracia dos órgãos envolvidos provocou cancelamento de convênio

O velho e ultrapassado estádio do Cave daria lugar a um outro novinho, bem moderno, que serviria de centro de treinamento para as seleções que jogariam em Brasília nas Olimpíadas de 2016. Após as Olimpíadas, o estádio seria utilizado para jogos do Campeonato Brasiliense de Futebol e para shows e eventos de menor porte, com previsão de público de até 5 mil pessoas, que não compensariam ser realizados no estádio Mané Garrincha, que tem capacidade para 65 mil pessoas e um alto custo de aluguel e manutenção. Até os recursos já estavam previstos e incluídos no orçamento do Governo do Distrito Federal para as obras de infraestrutura para receber as Olímpiadas. Seriam apenas R$ 8 milhões, o que corresponderiam a apenas 2% do que custou o Mané Garrincha. Mas, quase dois anos depois, o estádio não está pronto, e, pior, não tem condições de ser utilizado porque foi parcialmente demolido. As obras chegaram a ser retomadas em abril, mas foram novamente paralisadas, por falta de recursos financeiros.
A reforma do estádio foi iniciada em fevereiro de 2016, com previsão de conclusão em cinco meses, depois ampliados para oito meses, mas em setembro, quando o gramado e a estrutura do vestiário estavam concluídos, a empreiteira Construtec Engenharia detectou várias falhas no projeto e a obra teve que ser paralisada para as correções. Como o convênio do financiamento da reforma envolvia quatro órgãos – Secretaria de Esporte do DF, Ministério do Esporte, Caixa Econômica Federal e Novacap – a burocracia emperrou as providências em um ano e meio. Por causa das falhas do projeto, que provocaram aumento no custo na parte já executada da obra, a empreiteira solicitou um aditivo ao contrato, o que aumentou mais ainda a morosidade na conclusão das providências.
Quando tudo estava aparentemente resolvido, com a retomada das obras em abril deste ano, o Ministério do Esporte comunicou à Secretaria de Esporte que estava cancelando o repasse de mais de R$ 6 milhões da sua parte no convênio da reforma do estádio, porque os recursos não foram utilizados dentro do orçamento do ano passado.
Sem o dinheiro prometido pelo governo federal, a Secretaria de Esporte busca recursos no Orçamento do GDF para a conclusão da reforma, através de emendas parlamentares apresentadas por deputados distritais. Uma delas, no valor de R$ 3 milhões, foi solicitada ao deputado distrital Rodrigo Delmasso (PRB), que deve apresentá-la para votação em agosto, no retorno das atividades da Câmara Legislativa. Ainda restariam outros R$ 3 milhões, que a secretaria está buscando em outras fontes, inclusive com o próprio Ministério do Esporte.
Enquanto isso, a construtora mantém seu canteiro de obras no estádio e ajuda a Novacap na manutenção do gramado, principalmente por causa dos riscos de perda da grama na época da seca em Brasília. “O gramado continua em bom estado e estamos cuidando para que não seja afetado”, informa o empreiteiro Clayton Sperândio, da Construtec Engenharia.
Clayton diz que a parte mais difícil da reforma está pronta, que é a implantação do gramado, que, segundo ele, tem o mesmo padrão do estádio Mané Garrincha, e a estrutura para receber os vestiários e a construção da parte que vai abrigar as cabines de imprensa e a tribuna, e ainda os vestiários e lanchonete. “Quando resolveram a questão do orçamento, em seis meses no máximo entregaremos o estádio pronto”, garante.

Custo da obra
A obra foi contratada por R$ 7 milhões e 191 mil, 80% com recursos da União e 20% do GDF, porque o estádio iria receber treinamento de seleções de futebol que jogariam em Brasília pelas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Inicialmente, deveria ser entregue apenas o gramado até o final de junho de 2016, no padrão do gramado do estádio Mané Garrincha conforme exigência do Comitê Olímpico Internacional, o que de fato aconteceu. Mas, por causa da forte estiagem nesta época do ano no DF, o gramado não ficou com a qualidade esperada e foi rechaçado pelo COI, porque os pisos do estádio Bezerrão e do Centro de Treinamento do Corpo de Bombeiros estavam em melhores condições.
Depois de pronto, o governo deve repassar gestão do estádio à iniciativa privada, através do instrumento de Concessão Pública por 30 anos, no pacote de privatização do Cave, que estava previsto para ser lançado em julho, mas foi adiado para data não definida. Um dos principais interessados na concessão do estádio e do Cave é o investidor Luis Felipe Belmonte, dono do Real Futebol Clube, um dos integrantes da primeira divisão do futebol brasiliense, com sede no Guará.
Qualquer que seja o interessado, o mais provável é que o estádio do Cave seja transformado numa arena multiuso depois de ser privatizado, acompanhando a tendência das arenas recém construídas no Brasil e no mundo. O que favorece o Cave nessa pretensão é a sua privilegiada localização, nas proximidades da Estação Feira do metrô, com amplo estacionamento, o que facilitaria o acesso do público a jogos e shows.