Durante dois anos, o deputado Izalci Lucas (PSDB) se preparou para concorrer ao Buriti. Trabalhou intensamente na Câmara e estruturou um programa de governo. Mas descuidou-se das articulações com os partidos com os quais poderia se coligar. Na última semana do registro de candidaturas, os deputados Rogério Rosso (PSD) e Augusto Carvalho (SD) uniram-se ao senador Cristovam Buarque (PPS) e confirmaram a chapa majoritária encabeçada por Rosso, com o pastor Egmar (PRB) de vice e o empresário Fernando Marques (SD) na segunda vaga para o Senado. Izalci se aliou a Alberto Fraga (DEM) e agora se esforça para explicar que não é mais candidato a governador, e, sim, a senador. Se eleito, promete “uma revolução em termos da captação de recursos para Brasília”. E cutuca Cristovam: “Não adianta ficar escrevendo artigo para jornal todo dia ou fazendo discurso. Isso não resolve nada, não enche barriga, não gera emprego”.
Estamos a duas semanas da eleição. Qual a sua expectativa para o dia 7 de outubro?
Nosso desafio hoje é mostrar para as pessoas que somos candidato ao Senado. Tem muita gente ainda achando que eu sou candidato ao governo, porque eu passei quatro anos trabalhando no projeto de concorrer ao GDF, que foi adiado para 2022.
Por que esse adiamento?
Me preparei demais para governar e não cuidei bem da questão partidária, onde, na última hora, ocorre muita traição, corre muito dinheiro. Por isso acabei não conseguindo consolidar todos os partidos para caminharmos juntos. Durante dois anos eu falei que seria candidato. Ninguém do grupo disse que concorreria ao governo. Mas, na última semana…
Quem roeu a corda?
Cristovam (Buarque), (Rogério) Rosso. Este nunca disse que seria candidato, e eu nunca disse que não seria candidato ao governo. Mas, na última semana, por questões de composição, para acomodar o Fernando Marques (candidato ao Senado pelo Solidariedade), que chegou com o poder econômico, eu fui preterido. Adiamos. Não adianta ficar sonhando sozinho. Então resolvi conversar com o (Alberto) Fraga e apresentei todos os projetos que fiz, as propostas para governar Brasília. O Fraga aceitou, e eu preferi apoiá-lo.
Então o seu plano de governo está incorporado ao do Fraga?
Exatamente. Ele incorporou os nossos projetos. Nós tínhamos preparado um bom plano, e eu tenho certeza de que teremos a liberdade de implementar muita coisa.
De que forma participará da execução desse plano?
Primeiro, trazendo recursos. É muito importante a população entender o papel do senador. Ele representa o estado. Por isso, são três representantes de cada estado. Nos últimos anos Brasília não teve obra nenhuma do governo federal. Não tem recurso nenhum em Brasília. O Teatro Nacional está caindo aos pedaços; escolas em petição de miséria; não tem investimento em metrô, em saneamento básico. Tudo isso é trabalho de senador. Discursos e artigos em jornal não resolverão os problemas econômicos da cidade.
Como está o seu projeto para a educação, uma de suas principais bandeiras?
Há uma diferença muito grande entre ideias e práticas. Não adianta ficar só no discurso. Antes de ser deputado, eu lancei o projeto do cheque-educação. Mais de 100 mil alunos estudaram com ele no DF. O projeto virou o PROUNI, que nasceu em 2004, seis anos depois. É a cópia fiel do cheque-educação. Temos milhões de estudantes no Brasil fazendo faculdade em função desse projeto. Depois de criá-lo, fui deputado distrital, federal e secretário de governo, quando lancei o Bolsa Universitária. A gente também dava bolsa integral para o aluno da faculdade. Quase 10 mil alunos que, no contraturno, davam a contrapartida ministrando aulas de reforço nas escolas públicas, ou outras atividades esportivas e culturais. Exatamente na implementação da educação integral. Nós tivemos quase 200 escolas iniciando o processo de educação integral. Os governos seguintes acabaram com tudo isso. Também lancei o projeto, a ideia, e implementei, o computador para os educadores. Todos os professores tiveram a oportunidade de comprar seu notebook, onde o governo investiu a metade do valor em parcelas. Mais de 30 mil educadores receberam notebooks na época.
O senhor foi relator do projeto que implementou o Pronatec…
Quem estendeu a possibilidade de dar curso técnico nas faculdades, nas universidades, no Sistema S, foi a Comissão de Educação, a partir de uma emenda de minha autoria. Quando discutimos o Plano Nacional de Educação, quem apresentou a emenda e brigou pelos 10% do PIB fui eu. Quando chegou o projeto dos royalties do petróleo, quem apresentou a emenda, e aprovamos que 50% dos royalties seriam da educação, também fui eu. Fui presidente da comissão que aprovou a reforma do Ensino Médio. A partir do ano que vem, todos os jovens do Ensino Médio poderão optar para fazer um curso profissional e sair do Ensino Médio com uma profissão. Avançamos bem na questão da educação.
Então, a articulação política é outra característica da função de um senador…
Tem que ter articulação. Tem que visitar os ministérios. Isso é papel do senador. O Senado é uma Casa revisora. Tudo que chega da Câmara tem que ser revisado. Mas, também são atribuições de um senador, aprovar, emendar, rejeitar, fiscalizar o governo federal.
A sua atuação como deputado o credencia a pleitear uma vaga no Senado?
Eu fui o deputado mais atuante do DF em oito anos e estive entre o terceiro e o oitavo mais atuantes do país. Sou um deputado que trabalha. O que mais tem hoje na Esplanada dos Ministérios é prefeito e governador atrás de recurso. Nós moramos aqui do lado, os funcionários dos ministérios e dos órgãos do governo moram em Brasília, querem ajudar, mas não tem articulação. No DNIT, o departamento de estradas, não tem uma obra no DF. Orçamento zero. Ministério das Cidades, zero.
Poderíamos pleitear a ampliação do metrô e o túnel na entrada Taguatinga .
Exatamente. Além de saneamento básico. Para cada real que o GDF aplica, o governo federal dá uma contrapartida de 20. A contrapartida do governo federal é muito grande. Tem que pegar o máximo possível de recursos. Por que nós temos 350 mil desempregados? Exatamente porque não tem obra, não tem investimento, não tem reajuste dos servidores. Está tudo parado.
O PDAF (Programa de Descentralização Administrativa e Financeira) é um bom caminho?
Ultimamente não tem ajudado muito. O valor é baixo, chega tarde, depois das férias, em um momento inoportuno. Geralmente, quem fica encarregado desse valor fica por conta disso e acaba comprometendo o seu trabalho. Muitas vezes o PDAF é menor do que o salário do diretor, que fica perdendo tempo com essa burocracia, em vez de cuidar da educação. Tem que simplificar. Temos que utilizar a tecnologia. Você pode ter a relação das empresas que podem ser utilizadas, fazer a compra com o cartão. Depois, cabe ao contador prestar contas, e não ao diretor da escola. Devem ser implementadas politicas modernas de controle e tirar essa burocracia do diretor.
E na Saúde?
Neste caso o que falta também é gestão. Eu fui contador de hospital particular. Lá, se você riscar um palito de fósforo dentro do quarto, você paga. Se tem dor de cabeça, eles colocam 40 gotas de dipirona ou Novalgina. Ninguém bota 43 ou 45. São 40 gotas. No serviço público, não. Sai uma carreta do SIA, eles já dão baixa no estoque. Não tem controle de estoque de medicamento. Todos os procedimentos são cadastrados no Ministério da Saúde. Se você registra os procedimentos que são feitos no hospital, isso é reembolsado. Fiz um levantamento no Hospital de Base. Se eles fizessem os registros dos atendimentos e procedimentos, daria quase R$ 350 milhões por ano de dinheiro que acaba não entrando. Eu fiz auditoria do Fundo Constitucional. Nos últimos anos, teve quase um bilhão que não foi executado por incompetência, e o dinheiro volta para o Tesouro. O Agnelo comprou mais de dois milhões e meio de cartões para implementar no SUS o “cartão único”. Esse cartão tem o prontuário. Se você atende alguém de outro estado ou do Entorno, o dinheiro é reembolsado. Assim, em vez de os municípios vizinhos comprar ambulância para fazer o transporte dos pacientes para cá, eles terão de investir na saúde de lá, porque ele vai ter que pagar a conta.
Reclama-se muito da centralização dos serviços do governo. Como vê isso?
Na época em que fui distrital, quem dava alvará, fiscalizava, tapava buracos, emitia habite-se, era o administrador. Hoje, o administrador não tem nem informação. Tiraram todo o poder dele. Educação, Saúde e administração tem que descentralizar, tem que dar poder para quem está na ponta.
O que a população pode esperar do Izalci senador?
Muito trabalho. Ninguém trabalha mais do que eu no Congresso. Podem ter certeza: nós vamos fazer uma revolução em termos de recursos. Mas precisamos de um governador que execute. Nós colocamos R$ 160 milhões para fazer o Hospital do Câncer e ainda nem teve licitação. Eu coloquei dinheiro para fazer creches. O governador não conseguiu licitar. Botamos dinheiro para o viaduto do Recanto das Emas e ele não fez. O Fundo do Centro-Oeste tem mais de R$ 20 bilhões de investimento e a gente não opera.
Então o senhor seria o senador operário do DF?
Um operário da Educação, da Saúde, da geração de emprego. Temos que trazer investimentos para executar grandes obras. Temos muitas áreas sem nenhuma infraestrutura. É assim no Arapoanga, no Pôr do Sol, na Estrutural, Santa Luzia. Tudo isso a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios. As pessoas estão morrendo de fome, não têm onde morar, não têm saneamento, esgoto. Isso cabe ao senador. Não adianta ficar escrevendo artigo para jornal todo dia ou fazendo discurso no plenário. Isso não resolve nada, não enche barriga, não gera emprego. Precisamos de ação. E ação depende de articulação, de experiência. Não dá para brincar de ser senador.