Entra governo e sai governo e o Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará, um dos mais antigos do Distrito Federal, continua sem uma solução definitiva, em parte pela incapacidade técnica e excesso de burocracia dos órgãos ambientais e em parte pela falta de vontade política dos governantes de resolver o assunto de uma vez. A cada campanha política, a revitalização do parque é alvo de promessas de candidatos ao governo e ao parlamento, mas com poucos avanços.
O segundo mais antigo parque ecológico do Distrito Federal – foi criado oficialmente em 1998, mas existe há mais de 50 anos – o Ezechias Heringer vai chegar aos 60 de Brasília e aos 50 de Guará sem ser utilizado pela população. Quem mais avançou na questão foi o governo de Rodrigo Rollemberg, ao enfrentar a resistência dos chacareiros, que contavam com forte lobby entre políticos, e desocupado toda a área, numa corajosa ação da ex-presidente da Agência de Fiscalização (Agefis), Bruna Pinheiro. O lado bom é que, finalmente, os chacareiros foram retirados após quase 30 anos de promessas de governantes anteriores, que esbarravam em barreiras jurídicas e falta de vontade política, mas o ruim é que, sem os chacareiros, algumas áreas, como nas proximidades da QE 46 e Setor de Postos, Motéis e Concessionárias, estão sendo ocupadas por traficantes e consumidores de drogas e servido de esconderijo para marginais que lá se escondem com facilidade. A fiscalização praticamente não existe, porque até o antigo Batalhão Florestal, que cuidava do parque, foi desativado no governo de Agnelo Queiroz.
Estamos começando mais um governo e a maior parte do parque continua apenas na contemplação dos moradores sem que possa ser efetivamente desfrutado, com exceção da área próxima à Cozinha Industrial do Sesi, ao lado da QE 19, onde existe uma área de lazer, com parque infantil, equipamentos de ginástica, quadras poliesportivas e uma trilha para caminhada. Nada mais.
Bem mais jovens, os parques de Águas Claras e o Olhos D`água (Asa Norte), foram dotados de boa infraestrutura e são bem utilizados pelos moradores. O do Guará, nada.
Só Rollemberg
conseguiu desocupar
A primeira tentativa de desocupação do parque aconteceu no segundo Governo Roriz, quando foi acordada com os chacareiros uma indenização pecuária pela área que ocupavam, mas a negociação esbarrou na Justiça – na época ainda não havia Ministério Público – que alegou que não cabia compensação a quem ocupava área pública, principalmente de reserva ambiental. A única exceção foram as indenizações aos chacareiros que ocupavam a área onde foi construída a linha do metrô.
A segunda tentativa aconteceu no Governo Arruda, quando ficou acertado que parte dos chacareiros receberia lotes rurais na Fazenda Monjolo, próxima do Recanto das Emas, onde poderiam continuar com suas plantações, e outra parte receberia lotes urbanos através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab). Depois do acordo firmado, os chacareiros desistiram porque a área oferecida não tinha energia e nem água. O Ministério Público também ameaçava minar o acordo, sob o mesmo argumento da negociação anterior. E sem a desocupação, nada poderia ser feito.
Mas, pelo menos o Governo Rollemberg teve “peito” para retirar os chacareiros de uma vez e sem compensação. Sem ligar para pressões de parlamentares e do chororô das famílias dos chacareiros, a então presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, mandou passar os tratores em todas as construções, sem piedade. Mas parou aí. Nada mais foi feito. Aliás, foi, mas para beneficiar o próprio governo, com a retirada de parte da área do Parque, a 28-A, ao lado do Parkshopping, para ser vendida à iniciativa privada.
A esperança da comunidade guaraense é que o Governo Ibaneis consiga avançar na implantação da parte recreativa e permitir a ocupação do parque. Pelo menos está recebendo a área desocupada. Não se viu, entretanto, qualquer referência ao assunto durante a campanha do então candidato a governador. Mas, questionado pela reportagem do Jornal do Guará, o Ibram respondeu que pretende implantar e revitalizar alguns equipamentos por meio de compensação ambiental. E que, por enquanto, estão sendo realizados serviços de manutenção, roçagem e poda.
Novo projeto está pronto
Em novembro do ano passado, o Jornal do Guará mostrou, com exclusividade, o novo projeto de revitalização do Parque do Guará, elaborado pelo Ibram, deixado pronto para o governo Ibaneis.
De acordo com o projeto, está prevista a ocupação em duas áreas – uma atrás do Batalhão de Polícia Militar, do terminal rodoviário e da faculdade Projeção; e outra na área 28, onde atualmente toda a estrutura está concentrada. Como as duas áreas são cortadas pela Estrada Parque Guará (EPGU), uma grande ponte de concreto, para pedestres, ciclistas e animais, será erguida sobre a via.
O Parque Ezechias Heringer é uma grande área de preservação, que serve como proteção ao córrego Guará, extremamente sensível por conta de sua pequena extensão. O córrego nasce atrás da Quadra Lúcio Costa, na Reserva Ecológica do Guará, e desagua no Lago Paranoá. Ainda assim, é de extrema importância para o bioma do Distrito Federal, servindo como corredor gênico para aves e mamíferos, e tendo seu próprio ecossistema, inclusive com orquídeas que existem apenas na área.
Custo pequeno
Por conta dessa característica de ter ainda parte da vegetação nativa preservada, a vocação do parque é a contemplação e a prática de atividades físicas, que estão refletidos no projeto. O plano é criar em cada uma das áreas grandes pistas de caminhada e de ciclismo, separadas, além de trilhas e áreas para apreciar a natureza. Em cada uma das duas áreas, interligadas pela ponte sobre a EPGu, estão previstos, banheiros, parquinhos, academias ao ar livre, quadras poliesportivas, skatepark e centros de convivência.
Assim, por se tratarem de equipamentos que, apesar de extensos, tem custo relativamente baixo, a previsão é que o parque possa receber boa parte da estrutura planejada com R$ 5 milhões, o que representa apenas 20% do que o GDF vai gastar por ano com o reajuste dos servidores públicos contemplados com o aumento do teto salarial autorizado no governo Temer no final do ano passado e replicado nos governos locais.
Na entrevista ao JG, o ex-presidente do Ibram, Aldo César Vieira, apontou algumas possíveis fontes para a verba. A primeira é a compensação ambiental de deve ser paga pela empresa Inframérica por conta das obras no aeroporto de Brasília, que podem ser aplicadas num raio de até 10 km do local da obra, atingindo o parque. Outra é a compensação ambiental gerada pela construção da via Interbairros, ou TransBrasília, que passará dentro da área no parque e já foi apontada como prioridade pelo governador eleito Ibaneis Rocha. A terceira são as emendas parlamentares ao orçamento, responsável por boa parte das obras nas cidades satélites. O grande dividendo político que uma obra desta proporção traria é um atrativo para os políticos.
O Parque do Guará pode ter uma grande importância para a integração do Park Sul com o restante da cidade. Com uma população crescente, seria muito importante que houvesse uma nova entrada por aquele bairro. Já existe uma entrada e uma pista precária, que dá acesso às instalações da Empresa Brasileira de Comunicação, dentro do Ezechias Heringer. Ali, poderia-se criar uma portaria, estacionamento, banheiros, parquinhos e principalmente pistas de caminhada e ciclismo. Com pontes sobre o córrego Guará, com suas margens desocupadas, possibilitaria um passeio do Park Sul à Feira do Guará, por exemplo. Mas, como alertou o ex-presidente do Ibram, o projeto é preliminar e modulável, ou seja, pode, e deve, ser implementado em partes. Mas, … quando?