Ainda não é o “Expresso Pequi”, projeto idealizado ainda no governo Roriz, que ligaria Goiânia e as cidades do entorno a Brasília através de um trem bala ou quase isso. Mas, a informação de que vai começar os testes de uma linha de trem entre o DF e Valparaíso e posteriormente Luziânia pode ser um embrião para a criação de um novo modal de transporte público na região central, bem mais prático, seguro e mais barato.
O governador Ibaneis e o secretário do Entorno, Paulo Roriz, anunciaram o início dos testes do Veículo Leve sobre Trilho (VLT) entre a Rodoferroviária e Valparaíso nos próximos 60 dias com duração de de seis meses. Os testes estavam previstos para começar no final de janeiro, mas o governo do Distrito Federal teve que adiá-los por mais dois meses depois que o Governo Federal desistiu de bancar todos os custos da fase experimental, conforme havia sido acordado entre os dois lados no final do ano passado ainda no Governo Temer. Para não sair dos trilhos, o governo local resolveu assumir a maior parte, R$ 2,4 milhões, deixando para a União R$ 1 milhão.
Inicialmente, o projeto piloto terá três composições com capacidade para 200 passageiros cada, no total de atendimento de 600 usuários por dia. O trem vai circular nessa fase apenas uma vez por dia, no sentido Valparaíso a Brasília de manhã e retornando no final da tarde. A intenção é dobrar o volume transportado para 1.200 pessoas na segunda fase da implantação.
Estação no Guará
Como vai aproveitar a estrutura existente, o trem terá apenas a parada final, na Rodoferroviária, mas, aprovada a viabilidade econômica do projeto, será construída uma estação no Guará, no cruzamento entre a linha do metrô e a ferrovia, na entrada do condomínio Guará Park, para que os passageiros possam acessar a estação Guará do metrô, ao lado da QE 24. Está prevista também a recuperação da antiga estação Bernardo Sayão, entre o Guará e o Núcleo Bandeirante, ao lado da via de acesso ao Park Way e Arniqueiras, recentemente duplicada.
Para a ampliação até Luziânia, está prevista uma parceria com o Governo Federal e o Governo de Goiás. A obra consiste na reestruturação de um trecho concedido à Ferrovia Centro Atlântica (FCA), interligando a Rodoferroviária de Brasília e a Rodovia GO-010, em Luziânia. A linha tem potencial de encurtar o tempo gasto pelos moradores da cidade goiana no trajeto até o centro da capital federal, que, no horário de pico, pode chegar a duas horas.
O projeto agora segue para a fase de convênios com os órgãos federais responsáveis, como a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
De acordo com o secretário do Entorno, Paulo Roriz, nesse período de testes não haverá cobrança de passagens. Segundo ele, somente depois de concluídos todos os orçamentos dos custos é que será definido o preço da passagem. O recurso previsto de R$ 3,4 milhões será gasto com a recuperação e adaptação de parte dos trilhos, que são antigos e em alguns locais com bitolas diferentes, e com energia, combustível e manutenção das composições ferroviárias. Nessa etapa, os vagões vão trabalhar com a velocidade de 39 km/h em média, mas poderão, no futuro, alcançar 78 km/h. O percurso será feito em 1h30. Hoje, a viagem por ônibus ou carro de passeio entre estes dois pontos leva de 50min a 1h40 no horário de pico; sem trânsito, é possível fazer o trajeto em menos de 40min.
Volume grande
de passageiros
“Todos os dias, entre 200 mil e 250 mil pessoas fazem uso da BR-040. O VLT será uma alternativa para elas. Hoje existem entre 190 e 250 ônibus transportando pessoas nessa pista. Com o trem, podemos reduzir essa frota e melhorar o trânsito nesse trecho”, explica o secretário Paulo Roriz.
O volume de passageiros transportados na fase de testes corresponde a 0,75% da demanda estimada da região. Segundo o governo, 80 mil pessoas se deslocam diariamente entre Brasília e o Entorno Sul (Cidade Ocidental, Jardim Ingá e Luziânia e Valparaíso).
O trem que fará os testes do VLT já saiu de Recife e deve chegar a Brasília até o fim do mês de março, segundo o governo. Serão três vagões, totalizando 18 metros de comprimento, movidos a óleo diesel.
O veículo pode chegar a 76km/h de velocidade máxima. Entretanto, durante o período de testes, haverá redução de velocidade para 30km/h em alguns trechos, devido à quantidade de curvas fechadas na linha férrea.
Trem já existiu antes
Desde 1991, quando foi desativada a linha de passageiros Brasília–Goiânia, a malha ferroviária do Distrito Federal recebe apenas transporte de cargas.
Por 15 anos, o trem que chegava de Campinas e Goiás tinha como ponto final a Rodoferroviária de Brasília – mesma estrutura que receberá o VLT vindo de Valparaíso.
Com o encerramento da linha férrea, a Rodoferroviária passou a funcionar apenas para ônibus, se tornando o principal terminal rodoviário interestadual da capital.
Em 2010, a partir da inauguração da Rodoviária Interestadual de Brasília, o terminal também parou de receber esse tipo de serviço e acabou desativado. Hoje, o prédio abriga a Secretaria de Justiça, a Agência Reguladora de Águas (Adasa) e o Transporte Urbano do DF (DFTrans).