Campos sintéticos em péssimo estado

Palco de lazer dos guaraenses e espaço revelador de atletas para todo país, campos sintéticos estão sem manutenção desde a sua criação, há quase 10 anos

O Brasil ainda é o principal celeiro de talentos do futebol mundial, apesar do pouquíssimo investimento na formação dos atletas, a maioria formada nos campos de várzea que ainda existem no país, ou em campos artificiais (de grama sintética ou de outro tipo de piso).  Brasília tem sido um desses celeiros no país, ao revelar jogadores com destaque até internacional, como Kaká, Edmar, Renaldo, Henrique, Amoroso, Lúcio, saídos de escolinhas de futebol ou descobertos por olheiros em peladas e torneios amadores. Mas, poderia revelar outros tantos, se houvesse condições para que mais talentos surgissem. Até que a intenção existe, ao dotar as cidades do DF de centenas de campos de grama sintética, mas, sem manutenção eles estão se deteriorando.

Os campos sintéticos surgiram no Governo Arruda e foram espalhadas pelos governos que vieram depois, entretanto sem preocupação com a qualidade e com a manutenção. O primeiro deles implantado no Guará, em 2007, foi na QE 38, ao lado do conhecido “terrão” (campo de terra batida), e, mesmo sendo o mais antigo, é o mais bem conservado e o mais utilizado pela comunidade, em parte pela qualidade do material empregado e em parte pela manutenção feita pelos próprios usuários.

Os outros nove campos construídos depois estão, na maioria, em péssimo estado de conservação, apesar das frequentas reclamações dos usuários. No meio, um “jogo de empurra” entre a Novacap, responsável pela implantação dos campos, mas não de sua manutenção, e a Administração Regional do Guará, que alega não ter condições materiais e financeiros de providenciar a recuperação.

Edi Carlos Monteiro, responsável pela escolinha Bom de Bola

Escolinhas

São nesses campos que funcionam várias escolinhas de futebol do Guará. Uma delas, a Bom de Bola, é tocada pelo ex-jogador do Clube de Regatas Guará, Edi Carlos Monteiro. São mais de 250 crianças, entre 4 e 15 anos, divididos em três campos, na QE 42, na QI 2 e na QI 18. Entre os pequenos jogadores, alguns estão lançando-se para a carreira profissional. Oito alunos já foram selecionados para treinar nas divisões de base do Flamengo e outros 10 estão encaminhados. Mas, a condição do campo atrapalha o surgimento de outros talentos. “Sempre fomos muito bem recebidos pela Administração e eles fazem o que podem. Porém, o que precisamos mesmo é de uma reforma substancial nos campos, com manutenção do piso, troca da grama sintética e manutenção dos alambrados”, reclama Edi Carlos.

Os jogadores Eduardo, Cauã, Alison e Airon da escolinha Bom de Bola treinando pelo Flamengo no Centro de Treinamento do Trieste, em Curitiba

A Bom de Bola funciona sempre a partir das 17h, por isso a iluminação é essencial. “Todos os campos têm refletores da CEB e, apesar de iluminarem pouco, nos atende. Sempre que temos problemas ligamos para a própria CEB e somos atendidos”, conta o treinador.

Maior e mais antigo

De tamanho oficial e comparativamente mais conservado que os outros, apesar de ser mais antigo, é o campo da QE 38. Hoje, vários times treinam no local e campeonatos inteiros são realizados ali. A Associação Desportiva do Guará, presidida por Edgar Fernandes, promove lá campeonatos de base, amadores e sênior, com pelo menos 10 times em cada divisão. O campo também é a sede da escolinha de futebol Galáticos, que forma atletas e disputa competições inclusive fora do Guará.

O segredo para manter o campo da 38 conservado é explicado por um dos responsáveis pelo campo. “Proibimos os jogadores de entrar em campo com chuteiras de trava e mantemos o portão sempre encostado, para que não entrem cachorros e bicicletas. Temos sempre alguém da comunidade olhando o campo para a gente”, revela Edgar. “Há dois anos, ainda no governo Rollemberg, a Novacap esteve aqui e fez um levantamento do que era necessário realizar de manutenção e o próprio governador se comprometeu a fazer a reforma, mas, como perdeu a eleição…”, completa. “Precisamos da troca de todo o tapete de grama e de reforma dos alambrados, além de uma cobertura nas arquibancadas”, enumera.

O que diz a Administração Regional

A administradora regional Luciane Quintana diz estar alerta sobre os problemas dos campos e diz que ordenou um levantamento das condições de todos eles. O relatório gerado pela Administração cita os problemas de cada um dos 10 campos sintéticos da cidade e é similar ao realizado no ano passado, no governo de Rodrigo Rollemberg. Entretanto, não há ainda levantamento da quantidade de material ou mesmo custo das obras. “Estamos finalizando o projeto dos campos sintéticos para encaminhar à Novacap e alinhar o orçamento disponível da empresa para, posteriormente, decidir qual será a modalidade de contratação para as reformas. Estamos empenhados nesse trabalho, unindo esforços. Nossa vontade é revitalizar os campos e promover maior qualidade aos usuários”, diz a administradora, sem, entretanto, informar a origem dos recursos.