Dos espaços pertencentes ao governo, destinados a atividades culturais, apenas a Casa da Cultura está funcionando. Ainda assim, com uma restrição séria a atividades ligadas a teatro e música por conta da biblioteca que funciona em seu interior. O Teatro da Administração do Guará, com banheiros destruídos e carpete mofado, não tem condições de receber espetáculos. O Teatro de Arena continua sem estrutura mínima para eventos. Mesmo os eventos de rua na cidade sofrem com a burocracia e a falta de vontade dos órgãos públicos para acontecerem. E os bares, restaurantes e cafés estão amordaçados pela Lei do Silêncio. Restam poucos espaços para a difusão da arte guaraense. E um deles acaba de ser lacrado pela Brasília Legal, antiga Agefis: o Urbanos Observatório.
Há quase quatro anos uma casa na QE 13 foi disponibilizada para acolher projetos, eventos e empreendimentos ligados à arte, à cultura e ao protagonismo. De lá pra cá tornou-se um dos mais importantes espaços de criação e vivência entre artistas, criadores, empreendedores entre outros agentes culturais, residentes ou não no Guará. Um verdadeiro celeiro pulsante de fomento, troca de ideias e experiências, provocação, discussão, encaminhamento e desenvolvimento de projetos culturais e iniciativas de promoção da cidadania, em suas mais variadas formas. O espaço é coordenado pelo ex-diretor do Banco do Brasil e professor universitário aposentado, Expedito Veloso, e pelos ativistas culturais Hélio Gazu e Fernando Neto.
Fiscalização
Diversas denúncias, feitas por um único vizinho, levou o funcionamento do espaço ser discutido na justiça, que entendeu, que o Urbanos poderia funcionar como tal. Porém, as denúncias continuaram, desta vez à Agefis, ou Brasília Legal, e à Administração do Guará. O vizinho questionava se um estabelecimento comercial poderia funcionar na casa. Localizada no conjunto J da QE 13 do Guará 2, a casa fica estrategicamente situada em uma área de intensa movimentação popular, em frente à Feira e à Administração Regional e próxima ao calçadão que circunda o Guará. Na mesma quadra há diversas atividades comerciais exercidas em casas, por conta de sua localização, como clínicas, escolas e escritórios, mesmo em lotes afastados as esquinas.
A coordenação do Urbanos alegou que a atividade não era comercial, mas de fim institucional já que não locava o espaço ou comercializava nade em seu interior. Em agosto de 2019 o resultado da atuação foi publicado no Diário Oficial do DF, pedindo o fechamento da casa. No dia 30 de outubro, os fiscais lacraram a casa e aplicaram uma multa aos seus responsáveis. Expedito Veloso afirma que a casa será reaberta até janeiro. “As atividades da casa são consideradas ‘sem risco’ razão pela qual não vemos dificuldade de obtenção do alvará. Apenas teremos um custo adicional para disponibilizar um espaço para a comunidade do Guará. Como os eventos são esporádicos e o uso do espaço ocorre paralelamente a utilização pessoal que faço da casa, entendemos que não seria necessário o alvará. Mas com a decisão da DF Legal não temos outra opção. Esperamos reabrir em breve. Mas considerando o período de final de ano, tudo deve voltar ao normal em janeiro”, alega um dos principais difusores da cultura no Guará.
O produtor Hélio Gazu, reafirma que o Urbanos Observatório não vai parar. “Enquanto a casa está fechada vamos para a rua. Levar a arte e o propósito do espaço para onde pudermos chegar. É uma batalha burocrática que vamos enfrentar, mas fazer cultura nunca foi fácil”. Uma nota divulgada pelo espaço reforça a informação que o fechamento é temporário. “Infelizmente os olhos da intolerância e do interesse financeiro, preferem encontrar problemas onde oferecemos amorosamente a solução. Com muito pesar informamos que todas as atividades previstas e divulgadas para os meses de novembro e dezembro foram adiadas”.