Embora seja mais letal, o coronavírus não é o único inimigo a ser temido no momento. A dengue está fazendo bem mais vítimas, mesmo que seja de recuperação mais rápida e segura, mas está sendo esquecida pela população. E não depende apenas de isolamento social, mas de outros cuidados que a atenção ao coronavírus estão deixando de lado. No Guará, tem aumentado quase que silenciosamente a quantidade de casos comprovados da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o que tem preocupado as autoridades sanitárias do DF.
A Secretaria de Saúde registrou mais de 15 mil casos de dengue entre 29 de dezembro até 30 de março no Distrito Federal. O número representa uma alta de 125% nos casos comparado ao mesmo período do ano anterior, quando foram registradas 6.851 ocorrências.
Apesar do maior número de doentes, há uma queda nos casos de mortes causadas pelo vírus. Em 2019, foram quatro mortes no período e em 2020 são duas mortes, uma delas de um morador do Guará, em janeiro. Nos três primeiros meses do ano, somente no Guará foram 559 casos comprovados de dengue, aumento de 180% em relação ao mesmo período do ano passado, atrás apenas de Ceilândia com 1.194, Gama, com 1.041, e Taguatinga, que registrou 679 casos de dengue.
Como todas as atenções estão voltadas para o coronavírus, os técnicos da Vigilância Ambiental acreditam que esteja havendo um relaxamento da população em relação aos cuidados para evitar a dengue. Pior, o mosquito transmissor gosta de aglomeração, e o confinamento de mais pessoas em casa por conta do coronavírus passa a ser o ambiente ideal para ele agir. “Com todos em casa, é uma boa oportunidade para que a família faça uma revisão dos locais vulneráveis ao mosquito, como vasos de plantas, pneus, caixas d`água, piscinas, vasos e água empoçada no quintal ou nas proximidades”, recomenda a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, Hérica Bassani. Segundo ela, um dos ambientes preferidos do mosquito para deixar seus ovos é a caixa d`água, quando há frestras ou até mesmo pelo suspiro. “Nas caixas que ficam ao ar livre, o ideal é colocar telas nessas possíveis passagens do mosquito”, ensina.
Moradora da QE 38, a professora Ana Paula Porfírio nunca imaginou que ela e suas filhas pudessem ser vítimas da dengue, por causa dos cuidados que tomam em casa para evitar a proliferação e ação do mosquito transmissor. Mas, nesta semana, suas duas filhas, de 11 e 20 anos, foram diagnosticadas com a doença e uma delas com maior gravidade e teve que ser internada no Hospital Santa Luzia. “Como não tenho plantas e sempre verifico se há água empoçada em casa, o mosquito deve ter vindo das proximidades, porque o casal de vizinhos de um dos lados da minha casa também se contaminou na mesma semana das minhas filhas”, conta Ana Paula.
Operações específicas contra a dengue
Mesmo com a mobilização de todo o governo para combater o coronavírus, outras ações estão sendo dirigidas somente para o combate ao mosquito transmissor no Distrito Federal. A cada semana, algumas regiões recebem operações específicas da dengue, com a participação de 376 agentes de Vigilância Ambiental, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar.
Entre as ações, a Secretaria de Saúde cita a contratação e capacitação de 600 agentes para combate à dengue e a circulação do carro do fumacê duas vezes ao dia. E no mês de março foi realizado o Dia D de combate à dengue – com visitas de agentes sanitárias – nas regiões da Ceilândia, Sobradinho I, Recanto das Emas, Taguatinga, Guará, Fercal, Vicente Pires, Vila Planalto, Planaltina e Lago Norte.
Durante as operações e em meio à pandemia do coronavírus, os agentes têm usado máscaras, luvas e mantido o distanciamento recomendável, enquanto orientam os moradores isolados em casa como eliminar os focos do mosquito.
De acordo com diretor de Vigilância Ambiental, Edgar Rodrigues, o momento de isolamento social por causa do coronavírus pode ser uma oportunidade para os agentes de Vigilância Ambiental orientar mais pessoas, para elas se tornarem os próprios fiscais de suas residências.
“Aproveitando esse momento que estão em casa, tirem 10 minutos do tempo e façam a inspeção. Vejam seus quintais. Se fizerem isso, garanto que a quantidade de Aedes diminuirá. A população precisa fazer parte do processo. Lembrando sempre: coronavírus pode matar, mas dengue também”, ressalta o diretor de Vigilância Ambiental.
As ações promovidas pela Sala Distrital de Combate à Dengue incluem ainda a utilização de drones para verificação de terrenos com edificações fechadas ou abandonadas e, também, de helicópteros, além da retirada de carcaças abandonadas pelas ruas de todo o Distrito Federal. O carro do fumacê passa nas cidades todos os dias, durante a madrugada (5h30 às 9h30) e no final do dia das 17h30 às 21h30.