“Minha meta é colocar o Guará no lugar que ele merece na cultura de Brasília” Julimar dos Santos, Gerente de Cultura da Administração do Guará

Julimar dos Santos é nascido e criado no Guará. “Sou apaixonado por essa cidade como costumam ser quem mora ou passa por aqui”. Estuda e pratica arte e cultura desde os 10 anos, passando pela música, pelo malabarismo, artesanato até focar nas artes visuais, principalmente no muralismo onde se realizou profissionalmente. Julimar deu aulas por 3 anos nas escolas do Guará e da Estrutural, e junto ao movimento cultural local desenvolveu diversos projetos, espetáculos, eventos e cursos, como o FICA- Festival de Incentivo à Cultura e à Arte. Foi delegado de Cultura e fez parte do primeiro conselho de cultura da cidade. “Vi na Gerência de Cultura uma oportunidade para colaborar ainda mais com essa tão rica cena cultural”.

Você tem toda sua trajetória artística ligada à cidade, como tem sido estar à frente da Gerência de Cultura?
Tem sido uma ótima experiência, bem difícil, confesso, mas poder colaborar com a cultura dessa cidade tão rica e pulsante é uma grande satisfação e alegria, sempre fui um ativista prático, da base, e sempre acreditei mais no poder da ação do que da palavra, discurso nunca foi meu forte, mas a possibilidade de estar à frente das políticas culturais do Guará tem sido sem dúvidas um dos maiores e melhores desafio na minha vida, ainda mais escolhido pela comunidade, pela primeira vez em nossa cidade.

Os espaços culturais do Guará estão sem manutenção há muito tempo. Como isso tem afetado o desenvolvimento da cultura na cidade?
Tem sido um desafio manter e ampliar a programação cultural de nossos espaços em um momento de crise financeira em todo Brasil, agravado pela pandemia que assola o mundo, o que coloca a arte e a cultura de frente com seu maior desafio nos últimos anos e décadas. A cultura no Brasil sempre foi uma grande contradição, mesmo tão rico e diversificado foi sempre negligenciado e subestimado, no Guará não é diferente, meu trabalho principal é mostrar que o a cultura não tem dono, e que deve ser feito e recebido por todos, buscamos trabalhar da melhor maneira possível contando com órgão do governo e setores da administração, mas principalmente o espírito de coletividade.

O guaraense tem sido receptivo aos projetos da Gerência de Cultura?
Tem sido extremamente receptivo, é o que mais me incentiva a continuar nessa tão difícil tarefa, mas eu sempre acredito que pode mais. Mesmo sem recursos, sem estrutura e com dificuldades de assimilação da importância da cultura em uma sociedade por grande parte da população, busco na criatividade, nossa fonte inesgotável, as soluções para as questões culturais, a criatividade, sempre buscando levar condições minimamente dignas ao fazer artístico.

Com a pandemia, novas formas precisaram ser criadas para levar arte, educação e entretenimento à população do Guará. Como a Gerência de Cultura tem agido neste período?
A Gerência de Cultura, e, claro, a Administração do Guará, assim como outras pastas foram extremamente afetadas, por não serem consideradas um serviço essencial, tem sido muito mais difícil realizar projetos culturais, tanto nas áreas dos espetáculos como formativos, perdemos o recurso que tínhamos para a cultura local, provavelmente para utilização em outras áreas, o que não podemos ir contra devido a situação atual. A solução foi apoiar produtores e artistas a desenvolverem projetos culturais online. Várias ações estão sendo feitas mesmo sem recursos e remotamente, como a mostra de filmes em parceria com o Jornal do Guará, o festival online FICA em CASA, que teve grande sucesso, 56 apresentações online, de várias partes do Brasil. A Gerência de Cultura do Guará tem estado em contato com parlamentares, a Frente Unificada de Cultura, Fórum de Gerentes de Cultura e a SECEC, unindo ideias e ações contra essa crise sem precedentes na Cultura local, assim como em todo o mundo, estamos desenvolvendo projetos em todas as áreas e setores, cinema, fotografia, artesanato, artes visuais, poesia, circo e dança e contação de história e contamos mais uma vez com a participação da população. Estamos buscando colaborar também com o Circo Vitória que está no Guará, facilitamos através do conselho de cultura a comunicação com o Secretário de Cultura, que ligou pessoalmente para a coordenadora do circo, garantido atenção para eles e mais quatro circos que estão por Brasília.

As Administrações Regionais, e em especial os gestores culturais, tem tido pouco ou nenhum recurso público para atuar. Como tem sido trabalhar sem recursos?
Nós, produtores independentes, somos especialistas em trabalhar sem recursos, mas é muito desgastante, ano passado produzimos mais de 60 eventos, com público total de quase 30 mil pessoas, sem recursos financeiros, contando como artistas locais, produtores, órgão públicos como PMDF, corpo de Bombeiros, DETRAN, Secretarias de Cultura, Esporte, Turismo. Enfim, é preciso um grande trabalho e diálogo, para assim buscar formas de introduzir a cultura o máximo possível na comunidade, trouxemos cursos de elaboração de projetos e vamos ampliar nossas ações nesse sentido, tendo em vista o momento de isolamento.

Quais os projetos que gostaria de ver serem implantadas na cidade?
Olha, tenho cerca de duas dezenas de projetos que gostaria de realizar na cidade, como a construção da Biblioteca Pública do Guará, a ampliação dos cursos e oficinas da Casa da Cultura, projetos na área do grafite, do artesanato, cinema e etc, outro ponto importante é ampliar a oferta de arte e cultura nas quadras da QE 38, 42, 44, 46 e Polo de Moda, Guará I e Lúcio Costa. Mas, minha principal meta é colocar o Guará no lugar que ele merece na cultura de Brasília, temos espaços e artistas magníficos, e contraditoriamente ociosos, minha meta e fechar essa conta.


Como o movimento cultural tem cooperado com sua gestão?
O Movimento Cultural tem sido o combustível, motor, rodas. Estou sendo apenas o motorista, sempre perguntando aos passageiros se o caminho que estamos seguindo nos levará ao melhor destino, e com a certeza que cada dia tem que ser trabalhado como se fosse o primeiro e único. Os 15 anos de produção e desenvolvimento de projetos culturais da cidade me fez conhecer a fundo a cultura da cidade, mas a Gerência de Cultura me fez ver que a nossa riqueza cultural é muito maior do que imaginávamos. Quando olhamos para todas as possibilidades é muito animador, acredito que a arte terá um papel fundamental nesse processo que estamos passando, a arte tem o poder de acessar todas as crenças, estar presente em todos as classes, dita nossa forma de vestir, pensar, falar e agir, então temos um poder ímpar nesse momento da humanidade.