Considerado um dos políticos de mais futuro da nova geração do DF – foi deputado distrital por três vezes (Presidente da Câmara Legislativa), suplente de deputado federal e candidato a vice governador de Eliana Pedrosa nas eleições de 2018 – o guaraense Alírio Neto quase teve esse futuro e a própria vida interrompidos quando sofreu cinco AVCs e foi diagnosticado com um câncer no pulmão, em junho do ano passado, quando era diretor-geral do Detran. Quatorze meses depois, ele apresenta uma recuperação surpreendente considerada a gravidade do que teve. Ainda se recupera de algumas sequelas e, por causa da pandemia da Convid-19, precisa manter um isolamento quase completo, restrito ao convívio dos familiares diretos. Mas, segundo ele, já foram algumas batalhas vencidas até vencer a guerra.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal do Guará – a única que ele concedeu após o diagnóstico da doença – Alírio conta detalhes do que passou e o que pretende fazer da vida pública.
O que realmente aconteceu contigo em junho do ano passado (Foram poucos detalhes divulgados até agora)?
– Sofri cinco AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e fui diagnosticado com um câncer de pulmão. Inicialmente, fui internado por causa dos AVCs, mas, quando os médicos foram pesquisar as razões desses AVCs descobriram que eu estava com um câncer no pulmão, diagnosticado na tomografia conhecida como PET (Tomografia por emissão de pósitrons, um exame imagiológico da medicina nuclear que utiliza radionuclídeos que emitem um pósitron no momento da sua desintegração, formando as imagens do exame). Segundo os médicos, o tumor já tinha entre três a quatro anos. Para mim, foi uma grande surpresa porque sempre pratiquei esportes e procuro levar uma vida saudável e sem excessos. Nunca fumei. Tive asma na infância, mas depois controlada. E não tive qualquer manifestação antes.
Depois de ficar 21 dias na UTI, os médicos me disseram que meu prognóstico era bom e que eu seria um ótimo candidato a um tratamento relativamente novo, chamado imunoterapia, mas desde que meu organismo tivesse uma substância no sangue chamada PDL1. Para se fazer esse tratamento você precisa ter no mínimo 50% e, para nossa alegria, meu resultado veio com mais de 90%. Fiz o tratamento e funcionou. Já estou na fase de manutenção.
Só me salvei porque minha parte cardíaca é muito boa, por conta dos esportes que pratico e dos cuidados com a saúde que sempre tomo.
Não fez quimioterapia?
Não. Como expliquei, meu tratamento é a Imunoterapia, em que o próprio organismo combate o câncer. A medicação usada é a Keytruda, que ajuda meu sistema imunológico a encontrar as células malignas. É um tratamento interessante porque você poupa todo o restante do organismo. Não perdi um fio de cabelo sequer.
Já está curado?
Tratamento contra câncer nunca pode se dizer que é definitivo. Está controlado. Hoje o que podemos dizer, segundo meu médico, é que meu organismo neste momento é um ambiente inóspito para o câncer. Se não tivesse tomado essa medicação, provavelmente não estaria mais aqui. Também não se tem certeza quando tempo tenho de vida, podem ser mais 30 anos ou seis meses. Espero que sejam mais 30 anos (risos).
E dos AVC, está curado?
– Das sequelas, totalmente ainda não. Meus AVCs foram isquêmicos e aconteceram na região occiptal posterior, e isso afetou a visão do meu olho direito, principalmente a lateralidade. Cheguei a ficar 48 horas sem ver nada no hospital, após uma trombectomia (retirada do trombo que impede a circulação sanguínea), mas depois voltei a enxergar, o que foi um grande alívio. Agradeço a Deus por ter ficado somente com essa sequela, porque poderia ficar com mais outras dada à gravidade do que tive. E devo isso também muito à equipe médica que me atendeu.
Qual sua rotina hoje, principalmente por causa da pandemia?
Talvez eu esteja no grupo de risco mais sensível ao coronavírus, porque o Covid ataca primeiro o pulmão. Por causa disso, estou cumprindo um isolamento quase severo. Tenho saído apenas para ir ao médico ou para meu refúgio em Corumbá 3. Mesmo nesses deslocamentos procuro ter um mínimo de contato com outras pessoas. Também não estou recebendo visitas. Meu contato é apenas com meus familiares, que tomam todos os cuidados pra me preservar.
Você foi candidato deputado distrital (presidente da Câmara Legislativa), primeiro suplente de deputado federal e candidato a vice-governador nas eleições de 2018. Portanto, estava no seu auge político. Como vai ficar agora? Vai abandonar a vida pública?
Em princípio, vou me afastar de tudo que me ponha em risco de saúde. Pelo menos até que tenha segurança da cura. Pode ser que eu venha a mudar de ideia, mas vai depender da evolução da doença. Quero aproveitar para conviver com minha família, minha esposa Sandra e meus três filhos (duas filhas do primeiro casamento e um filho do casamento atual).
Especulou-se dias desses que você estava negociando seu legado político com outras pessoas. O que há de verdade?
Nenhuma. Até porque não estou recebendo ninguém e pouco conversando ao telefone. Se eu não puder fazer política, não existe motivo para transferir meu legado pra outras pessoas. Tenho minha vida social e financeira resolvida (é delegado de polícia civil aposentado) e não precisaria da política para manter minha vida.
Mesmo doente, você foi mantido no cargo de diretor geral do Detran pelo governador Ibaneis Rocha. Foi você quem pediu pra continuar?
Não, foi o próprio Ibaneis quem fez questão de me manter lá. Combinamos que eu ficaria por seis meses, para avaliarmos como seria minha recuperação. Tínhamos combinado um projeto para o Detran que ele gostaria que eu executasse. Após os seis meses, eu disse a ele que não tinha condições de continuar, até porque começaram a surgir as notícias da pandemia do coronavírus na China, com risco de chegar ao Brasil, como realmente aconteceu.
De onde veio essa consideração do Ibaneis para contigo?
São essas coincidências da vida. Conheço Ibaneis desde a adolescência dele – é mais novo do que eu. Ele veio do Piauí, também meu Estado, trazido por um tio que era amigo do meu pai. E foi morar na QE 15 do Guará II. Eu era professor de Matemática na época e dava aulas para um dos filhos do tio dele. Ele era conhecido como Júnior na QE 15. Ali começou nossa amizade.
Antes das eleições de 2018, ele me chamou para ser o candidato a vice-governador na chapa que ele estava formando para concorrer ao governo do DF. Mas, como eu já tinha aceitado ser o vice da Eliana Pedrosa, disse a ele que não poderia aceitar o convite. Seria uma traição, que não combina comigo. Quando foi eleito, me convidou para assumir o Detran. Infelizmente, logo depois apareceu essa doença e não pude fazer o que havíamos combinado.
Animado para o futuro?
Muito! Tenho fé que vou me recuperar totalmente. Já comecei a praticar exercícios físicos, andar de bicicleta e pretendo voltar a jogar pelada no Clube dos Amigos (O Clube dos Amigos, no Cave, foi fundado quando Alírio foi administrador regional do Guará em 1996 e onde ele jogou por quase 15 anos, quando descobriu que tinha uma hérnia de disco na coluna, que segundo ele, está curada).