De toda a comoção provocada pela pandemia da Covid 19, o maior símbolo de resistência à doença para o guaraense é o ex-administrador regional José Orlando de Carvalho, que teve sua saga da internação e da recuperação acompanhadas como capítulos de novela, escrita pela esposa Maria da Consolação e postada diariamente pelo nosso editor, Alcir de Souza. A cada dia, a expetativa nos grupos de WhatsApp da cidade era o boletim sobre a situação dele. E mesmo quem não o conhecia pessoalmente acompanhava e torcia por ele. Essa corrente positiva pode não ter sido a responsável pela cura, mas certamente fortaleceu a vontade de Zé Orlando de lutar pela vida. E ele ganhou uma segunda vida, como ele próprio define, depois de 35 dias de internação, dos quais 25 na UTI.
Passado o sufoco, ele agora comemora a quase total recuperação – ainda precisa recuperar os movimentos completos da perna esquerda, vítima de uma trombose na UTI – e faz planos de voltar a praticar sua paixão profissional, a política. Na sua casa na QE 42, acompanhado da fiel escudeira Consolação, Zé Orlando recebeu a reportagem do Jornal do Guará para uma conversa recheada de otimismo e emoção – chegou a chorar algumas vezes, principalmente ao lembrar que seu maior medo foi não rever mais a família e os amigos.
Com descobriu a Covid?
No dia 22 de junho, sábado, fiz o teste rápido na Feira do Guará, mas o resultado não saia na hora. Passei o final de semana com tosse seca e coriza, mas pensei que era apenas gripe ou alergia ao tempo seco. Na segunda de manhã, recebi o resultado positivo e fui direto para o hospital. A evolução foi muito rápida. Da internação, fui para a UTI. O resto vocês acompanharam.
Tinha comorbidade?
Nenhuma. A glicose e a pressão sempre foram boas. O perigo era só a idade, porque estou no grupo de risco, com 75 anos.
Teve medo de morrer?
Tive muito medo. Principalmente de não rever a minha família e meus amigos (se emociona e chora).
Foi quanto tempo de internação e de UTI?
Da primeira vez foram 12 dias de internação, totalmente inconsciente. Depois, uma semana na enfermaria em recuperação, mas veio a pneumonia e tive que retornar à UTI, onde fiquei mais 15 dias.
Quando saiu a segunda vez da UTI, o que veio à cabeça?
Primeiro, muita alegria por voltar a viver. Depois, a realidade e preocupação. Quando percebi que estava sem tato nos braços e nas pernas, imaginei que a minha recuperação levaria pelo menos uns seis meses. E mesmo assim, teria que lutar muito por ela. (Consolação interrompe para informar que a previsão dos médicos é que a recuperação duraria entre 60 a 90 dias).
O que faz na recuperação?
Alongamento, caminhadas dentro e na porta de casa, bicicleta ergométrica. Nos próximos dias, quero caminhar no calçadão do Guará II. O que for necessário para me recuperar, vou fazer. Nem penso mais no que me aconteceu, mas no que tenho a fazer e a viver a partir de agora. Ganhei uma nova vida e quero aproveitá-la ao máximo.
O que mais te inspira a lutar pela vida?
A força que recebi durante a internação e agora na recuperação. Não tinha ideia do quanto era querido, do que represento para tantos amigos. Isso fortalece qualquer um.
Você está sempre envolvida em política. Pretende retornar a ela?
Realmente, a política é minha grande paixão. Antes da pandemia, já estava envolvido com a eleição no Entorno, ajudando o candidato dr. Luiz em Águas Lindas. Mesmo depois que deixei o hospital, estão me chamando pra voltar à campanha lá.
O que pretende fazer ou deixar de fazer?
Não pretendo mais cuidar das duas fazendas que meu pai deixou no Ceará, que me tomava tempo e me dava preocupação. Vou vendê-las e quanto sentir saudade vou lá. E, como disse antes, voltar à política. Vou procurar um candidato a deputado distrital para apoiar em 2018. Mas não quero ser candidato. Gosto dos bastidores e da retaguarda. Sou um marqueteiro informal.
Com quem já trabalhou na política?
Comecei na coordenação do candidato a senador Maerle Ferreira Lima (MDB), em 1986, que teve 129 mil votos na época e perdeu a eleição para o radialista Meira Filho. Depois, passei a trabalhar na Câmara Legislativa com o deputado distrital Benício Tavares e depois com César Lacerda, que me indicou para ser administrador do Guará em 2001, pela segunda vez. Mas, passei a ter problema com ele desde a minha posse. Ele ficou preocupado quando viu 5 mil pessoas no Salão de Múltiplas Funções do Cave e passou a ficar preocupado com a minha possível candidatura a deputado distrital. A partir daí, em vez de padrinho, ele foi mais um padrasto. Fiquei praticamente sem apoio, só do governador Joaquim Roriz.
Quando você foi administrador regional do Guará?
A primeira de março a 31 de dezembro de 1994, completando a gestão de Heleno Carvalho, de quem eu era chefe de Gabinete. A segunda, de janeiro a dezembro de 2001.
Tem vontade de voltar a ser administrador do Guará?
Teria, se tivesse um apoio incondicional de um bom padrinho político. Se tivesse essa oportunidade, teria um projeto para transformar o Guará num modelo de mobilidade e acessibilidade no Distrito Federal, sem custo para o governo. Seria patrocinado pela ONG SOS Município, com sede em Bruzelas, presidida por uma mulher de Brasília, com quem fiz amizade. Quando estive agora na Coordenação de Desenvolvimento da Administração do Guará, tinha planejado implementá-lo, mas fui tirado pelo deputado Delmasso. Acho que minha experiência de dois mandatos me ajudaria muito numa próxima gestão. Mas não é meu sonho e nem vou lutar por isso. Apenas se surgisse uma oportunidade nas condições que gostaria de ter.