Parcialmente demolido há quatro anos e depois abandonado após o início frustrado da reforma que prometia transformá-lo numa moderna arena multiuso, o Estádio do Cave está sendo cedido temporariamente ao time de futebol americano Leões de Judá, que vai realizar lá seus treinos e jogos até a conclusão do processo de privatização do complexo do Cave.
Como o gramado estava todo tomado pelo mato e sem conservação desde quando a empreiteira abandonou a obra por divergências contratuais com a Novacap, o clube e a Administração Regional do Guará estão promovendo reparos e limpeza para que tenha condições de ser utilizado. Diferente do futebol, que exige gramado perfeito para que a bola possa rolar, no futebol americano a bola oval é arremessada ou carregada pelos jogadores e exige apenas um piso nivelado.
O Leões de Judá disputa o Campeonato Brasileiro e o Campeonato Brasiliense de Futebol Americano. O clube tem sede oficial no Guará, mas já teve Taguatinga e Gama como sede nos últimos anos. Em seu site é informado que o clube mante uma parceria com o time de futebol americano. De acordo com informações em pesquisa na Internet, o Leões de Judá foi fundado em 2013 no retiro de Carnaval, promovido pela Igreja Sara Nossa Terra.
O gramado do Cave foi a única das obras previstas realizada pela empreiteira e prometia ser um dos melhores do Distrito Federal, porque recebeu a mesma grama da espécie Bermudas utilizada no estádio Mané Garrincha. A proposta do governo governo Agnelo Queiroz e depois confirmada pelo governo Rollemberg é que o estádio do Cave fosse um apêndice do estádio Mané Garrincha, onde seriam realizados e espetáculos de menor apelo de público. Pelo projeto, o Cave teria 6.600 cadeiras, capacidade considerada ideal para jogos do futebol brasiliense e shows e eventos menores, que o transformaria numa arena multiuso.
Com o abandono da obra, o governo resolveu então incluir a reforma na PPP do Cave – inicialmente entregaria o estádio pronto -, que está prevista para ser lançada até janeiro próximo, depois que o Tribunal de Contas do DF devolver o processo para a Secretaria de Esporte e Lazer, que será encarregada de lançar o edital.
O Diário Oficial do DF publicou nesta terça-feira, 27 de outubro, extrato da reunião do Conselho Gestor de Políticas Público/Privadas (CGP), em que, entre outras medidas, aprovou a transferência da área do Cave para a Secretaria de Esporte e Lazer, com o objetivo de agilizar a privatização do complexo, incluindo o kartódromo. Os processos de concessão do Cave e do Kartódromo Ayrton Senna estão aguardando apenas a liberação do Tribunal de Contas do DF para a elaboração dos editais de concessão. A intenção do governo é promover a licitação do kartódromo até o final de novembro e o do Cave até janeiro.
Sonho frustrado
A cidade deveria ter o segundo mais moderno estádio de futebol do Distrito Federal depois do Mané Garrincha. A primeira promessa é de 2013, quando o então secretário extraordinário da Copa no DF, Cláudio Monteiro, anunciou que seria construído um novo estádio no lugar do velho e ultrapassado Cave, para servir de treinamento às seleções que viriam jogar em Brasília pela Copa do Mundo de 2014. A obra custaria cerca de R$ 10 milhões, retirados do orçamento da construção do estádio Mané Garrincha. Ainda segundo o secretário, o novo estádio do Cave seria um apêndice do Mané para a realização de shows e jogos com previsão de público de até 5 mil pessoas. Mas, nada aconteceu. A segunda promessa, que se tornou em ação, veio no início do Governo Rollemberg, quando foi firmado um convênio com o Ministério do Esporte para a reforma do estádio, desta vez para servir de suporte às Olimpíadas do Rio de Janeiro, também como centro de treinamento para as seleções que viriam jogar em Brasília. Pelo convênio, o Ministério, através da Caixa Econômica Federal, repassaria cerca de R$ 6 milhões ao GDF, que arcaria com apenas 20% da obra, orçada em pouco mais de R$ 7 milhões.
Sete anos depois da primeira promessa, a cidade continua sem o novo estádio e, pior, sem o velho, que foi parcialmente demolido e continua com as obras paralisadas. O que foi feito e gasto está sendo perdido com a ação do tempo. O gramado, que chegou a ser implantado, era do nível do Mané Garrincha, com a mesma espécie de grama Bermudas Teflon e custou cerca de R$ 400 mil, mas, tomado por pragas e mato, praticamente não tem condições de ser reaproveitado, porque resta pouco da grama plantada. Está pronta também a estrutura dos vestiários e parte administrativa, que também corre o risco de ficar comprometida se não for aproveitada logo. A tribuna de imprensa foi destruída para ser uma nova, mas nada foi feito no local. Os banheiros também. O cenário é de completo abandono.
A reforma foi interrompida porque o convênio com o Ministério do Esporte foi cancelado porque os recursos não foram utilizados dentro do prazo previsto no Orçamento da União. Como cerca de 80% do custo da obra viria do repasse federal, dificilmente o governo Ibaneis bancaria a obra com seus próprios recursos, principalmente numa época de pindaíba no orçamento do GDF, sem contar o desgaste na opinião pública com o anúncio de gasto num estádio enquanto a saúde e a segurança pública padecem de investimentos.
A única esperança da cidade ter de volta seu estádio é a privatização do Cave, que o governo pretende oficializar até o primeiro semestre de 2021. A conclusão da reforma é uma das condições incluídas no edital que vai escolher o concessionário do complexo.
Mas, por que a obra não foi concluída?
A reforma do estádio do Cave deveria ter sido concluída em julho de 2016, um mês antes da realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro. O atraso na conclusão da licitação provocou o primeiro atraso. Em junho, o gramado estava implantado e a previsão é que poderia ser utilizado já no mês seguinte, o que não aconteceu. Uma vistoria de técnicos do Comitê Olímpico Internacional concluiu que o gramado não tinha condições de ser usado pelas seleções, que optaram pelo estádio Bezerrão e do Centro de Treinamento do Corpo de Bombeiros, que estavam em melhores condições. Três meses depois, em setembro, a obra sofreu a primeira paralização, por causa de descoberta de erros técnicos do projeto, elaborado pelos engenheiros da Novacap. A empreiteira Construtec Engenharia detectou várias falhas no projeto e a obra teve que ser paralisada para as correções. Como o convênio do financiamento da reforma envolvia quatro órgãos – Secretaria de Esporte do DF, Ministério do Esporte, Caixa Econômica Federal e Novacap – a burocracia emperrou as providências em quase dois anos. Por causa das falhas do projeto, que provocaram aumento no custo na parte já executada da obra, a empreiteira solicitou um aditivo ao contrato, o que aumentou mais ainda a morosidade na conclusão das providências.
Quando tudo estava aparentemente resolvido, com a retomada das obras em abril de 2018, veio a notícia do cancelamento do repasse do Ministério do Esporte. Juntou-se a isso, os atrasos no pagamento das parcelas à empreiteira contratada para a reforma. De acordo com o dono da Construtec Engenharia, Clayton Sperândio, o que foi feito teria custado cerca de R$ 800 mil, mas ele conseguiu receber pouco mais de R$ 500 mil da Novacap, do recurso destinado pelo GDF – a parte do Ministério do Esporte seria aportada quando a obra estivesse mais adiantada.
Sem o dinheiro prometido pelo governo federal, a Secretaria de Esporte tentou buscar recursos no Orçamento do GDF para a conclusão da reforma, através de emendas parlamentares apresentadas por deputados distritais, o que acabou não sendo executadas por falta de recurso financeiro do caixa do governo.
Enquanto havia a perspectiva da retomada da reforma, a construtora manteve seu canteiro de obras no estádio e ajudava a Novacap na manutenção do gramado, principalmente por causa dos riscos de perda da grama na época da seca em Brasília. Mas, no final do ano passado, a construtora abandonou totalmente a obra e retirou o que tinha lá, deixando o gramado ser tomado pelo mato em época de chuva. De acordo com o empreiteiro Clayton Sperândio, a parte mais difícil da reforma estava pronta, que foi a implantação do gramado, restando a construção dos vestiários e da parte que vai abrigar as cabines de imprensa e a tribuna, os vestiários e lanchonete, que poderia ser concluída em apenas seis meses, desde que houvesse dinheiro para o pagamento.
Repassar à iniciativa privada
Depois de pronto, a pretensão do governo Rollemberg era repassar a gestão do estádio à iniciativa privada, através do instrumento de Concessão Pública por 30 anos, no pacote de privatização do Cave, que estava previsto para ser lançado em julho de 2018, mas foi adiado para ajustes por recomendação do Tribunal de Contas do DF. Somente agora, em outubro de 2020, que o processo foi concluído com as correções, mas precisa ser liberado pelo TCDF. A expectativa do secretário de Projetos Especiais do GDF, Roberto Andrade, é que o edital para a escolha do concessionário do Complexo de Lazer e Esporte do Cave seja lançado até janeiro próximo e as obras comecem no segundo semestre de 2021.
Um dos interessados na concessão do estádio e do Cave seria o investidor Luis Felipe Belmonte, dono do Real Futebol Clube, um dos integrantes da primeira divisão do futebol brasiliense, mas ele deve sair do páreo porque arrendou e reformou o estádio da Metropolitana, onde seu time passou a mandar seus jogos. Outro interessado seria um grande clube do futebol brasileiro, que manifestou ao governo o interesse em abrir uma filial no DF para captação e formação de atletas, e onde manteria um time disputando o campeonato brasiliense de futebol.
Qualquer que seja o escolhido mais provável é que o estádio do Cave seja transformado numa arena multiuso depois de ser privatizado, acompanhando a tendência das arenas recém construídas no Brasil e no mundo. O que favorece o Cave nessa pretensão é a sua privilegiada localização, nas proximidades da Estação Feira do metrô, com amplo estacionamento, o que facilitaria o acesso do público a jogos e shows. Ministério do Esporte seria aportada quando a obra estivesse mais adiantada.
Sem o dinheiro prometido pelo governo federal, a Secretaria de Esporte tentou buscar recursos no Orçamento do GDF para a conclusão da reforma, através de emendas parlamentares apresentadas por deputados distritais, o que acabou não sendo executadas por falta de recurso financeiro do caixa do governo.
Enquanto havia a perspectiva da retomada da reforma, a construtora manteve seu canteiro de obras no estádio e ajudava a Novacap na manutenção do gramado, principalmente por causa dos riscos de perda da grama na época da seca em Brasília. Mas, no final do ano passado, a construtora abandonou totalmente a obra e retirou o que tinha lá, deixando o gramado ser tomado pelo mato em época de chuva. De acordo com o empreiteiro Clayton Sperândio, a parte mais difícil da reforma estava pronta, que foi a implantação do gramado, restando a construção dos vestiários e da parte que vai abrigar as cabines de imprensa e a tribuna, os vestiários e lanchonete, que poderia ser concluída em apenas seis meses, desde que houvesse dinheiro para o pagamento.