SAEM AS FESTAS, ENTRAM OS IDIOMAS

Salão de Múltiplas Funções do Cave está sendo cedido ao Centro de Línguas do Guará. Cessão provoca forte reação da comunidade cultural

Anunciada em setembro do ano passado durante apresentação do pacote de obras para a cidade, a cessão do Salão de Múltiplas Funções do Cave para o Centro de Língua Interescolar do Guará (Cilg) deu mais um passo nesta quinta-feira, 5 de fevereiro, com o ajuste dos detalhes da transferência do espaço para a Regional de Ensino.

De acordo com o projeto, o Cilg será transferido da QE 7 do Guará I para o salão, que será adaptado para receber salas de aula, secretaria e outros espaços específicos para o funcionamento da escola. A obra estimada em R$ 200 mil conta com a parceria da Secretaria de Educação, Coordenação Regional de Ensino e articulação do deputado Rodrigo Delmasso, vice-presidente da Câmara Legislativa, morador do Guará, que também participou da reunião para captação de novos recursos. No novo espaço será possível ampliar o atendimento com 300 novas vagas, totalizando 4300 estudantes da rede, segundo a direção do Cilg.

Com a ocupação, a cidade perde o seu único espaço público para grandes eventos, como o tradicional Baile da Cidade, formaturas, feiras, posses de administradores regionais e encontros políticos. A perda seria compensada com a ocupação do salão de esportes do antigo colégio Maxwell, na QE 11 do Guará I, que foi devolvido à Administração do Guará depois que a escola foi fechada em 2019. A intenção da Administração é promover algumas adaptações internas para transformá-lo no novo espaço de festas e eventos da cidade.

 

Protestos da comunidade cultural

O anúncio da cessão do salão para o Cilg provocou forte reação de agitadores culturais e membros do Conselho de Cultura do Guará, que não teriam sido consultados sobre a mudança de destinação do maior espaço para eventos do Guará. Nas redes sociais, foram publicados inúmeros protestos, em quantidade muito maior do que os elogios à iniciativa.

Membro do Conselho de Cultura do Guará, o maestro Rênio Quintas é o que mostra mais indignação das redes sociais. “Essa ação afronta o Art 250 da Lei Orgânica do DF, que prevê consulta obrigatória ao Conselho de Cultura local para mudança, transferência ou retirada de espaço público destinado a eventos. E mesmo assim, se for oferecido um espaço equivalente ou melhor. Estamos recorrendo à Ouvidoria do Ministério Público do DF, encaminhamos ofício à Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa contra essa ilegalidade”, afirma.

“Como eles pretendem aniquilar dois espaços culturais sem qualquer debate ou discussão, intuindo que, por um centro de línguas que cabe em qualquer outro lugar vamos esquecer os bailes as memórias as formaturas as festas os encontros os bailes?”, pergunta.

“Sou totalmente favorável à ampliação dos espaços para a Educação, mas tirar o único espaço (histórico) de festas da cidade é um contrassenso”, critica o promotor de eventos Miguel Edgar Alves.  “Deveriam ter ouvido a comunidade, promovido audiência pública para fazer essa mudança, porque os governos passam e a cidade fica. Depois de consolidado, não tem mais como voltar atrás uma aberração dessa”, completa Anderson Fabrício Gomes, do Movimento Guará Independente. Para o líder comunitário Jeferson Maximino, “ampliar o CILG é importante para nossa comunidade, mas acabar com um espaço cultural tão importante quanto para cidade é um grande retrocesso. Não adianta tapar o sol com a peneira, melhorar um serviço e acabar com outro. Infelizmente, a comunidade nunca é consultada, não houve audiência pública, se houve não foi divulgada. Parece que os donos do Guará não dão a mínima para a opinião dos mais interessados, que é a sociedade guaraense”. Jeferson.

“O salão é de difícil acesso, longe da parada de ônibus e oferece risco à segurança dos estudantes. Principalmente para for estudar à noite, sem contar que nas proximidades existem bocas de fumo com uma galera pesada”, afirma a moradora Luciene Alves da Silva.

A maioria dos elogios à iniciativa nas redes sociais se refere à possibilidade do aumento da quantidade de vagas para os moradores, muitos deles reclamando que não já tentaram e não conseguiram se matricular no Cilg do Guará I.