Anunciada em setembro do ano passado durante apresentação do pacote de obras para a cidade, a cessão do Salão de Múltiplas Funções do Cave para o Centro de Língua Interescolar do Guará (Cilg) chegou a ser concretizado na quinta-feira, 5 de fevereiro, com o ajuste dos detalhes da transferência do espaço para a Regional de Ensino.
Com a notícia, a população, especialmente os ativistas da cultura da cidade, protestou com veemência nos grupos de Whatsapp e de Facebook da cidade. Nas redes sociais, foram publicados inúmeros protestos, em quantidade muito maior do que os elogios à iniciativa.
Na tarde deste domingo, 7 de fevereiro, o próprio deputado distrital Rodrigo Delmasso, autor da proposta, divulgou uma nota afirmando que “diante da manifestação de grandes e relevantes lideranças do Guará que foram contra a transferência do CILG para o Salão de Múltiplas Funções, considerando que respeito a história de vidas dos moradores e em respeito aos pioneiros da nossa cidade, informo que amanhã enviarei uma correspondência para a Administração Regional do Guará solicitando a suspensão do processo de cessão para a Secretaria de Educação do Salão de Múltiplas Funções”. E completa: “Informo também que já iniciamos as tratativas com a Secretaria de Educação para a construção da nova Sede do CILG, local que será decidido pela comunidade em consulta pública que será organizado pelo nosso Gabinete, em breve anunciaremos mais detalhes. Peço desculpas pelo transtorno e pelo erro cometido e agradeço as pessoas que me ajudaram a elucidar a situação”.
Os protestos
Membro do Conselho de Cultura do Guará, o maestro Rênio Quintas é o que mostra mais indignação das redes sociais.era o mais indignado “Essa ação afronta o Art 250 da Lei Orgânica do DF, que prevê consulta obrigatória ao Conselho de Cultura local para mudança, transferência ou retirada de espaço público destinado a eventos. E mesmo assim, se for oferecido um espaço equivalente ou melhor. Estamos recorrendo à Ouvidoria do Ministério Público do DF, encaminhamos ofício à Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa contra essa ilegalidade”, afirmou. “Como eles pretendem aniquilar dois espaços culturais sem qualquer debate ou discussão, intuindo que, por um centro de línguas que cabe em qualquer outro lugar, vamos esquecer os bailes, as memórias, as formaturas, as festas, os encontros, os bailes?”.
“Deveriam ter ouvido a comunidade, promovido audiência pública para fazer essa mudança, porque os governos passam e a cidade fica. Depois de consolidado, não tem mais como voltar atrás uma aberração dessa”, completou Anderson Fabrício Gomes, do Movimento Guará Independente. Para o líder comunitário Jeferson Maximino, “ampliar o CILG é importante para nossa comunidade, mas acabar com um espaço cultural tão importante quanto para cidade é um grande retrocesso. Não adianta tapar o sol com a peneira, melhorar um serviço e acabar com outro. Infelizmente, a comunidade nunca é consultada, não houve audiência pública, se houve não foi divulgada”.
A proposta mereceu críticas inclusive do meio escolar, como da professora Gicileide Ferreira, diretora do Centro de Ensino Especial e do ex-diretor da Regional de Ensino do Guará, Afrânio Barros. “O aumento de 300 vagas não atenderá a crescente demanda das escolas e não restarão vagas para a comunidade. O salão tem problemas na estrutura e na acústica e uma simples adaptação não irá adequar aquele espaço à metodologia que o Centro de Línguas utiliza. O ideal era utilizar um dos terrenos que a SEDF tem na cidade e construir uma nova sede com salas adequadas, auditório, além de dobrar a oferta de vagas, atendendo desta forma os anseios da comunidade que clama por oportunidades. Quando estava à frente da Coordenação Regional de Ensino coloquei a demanda de construção de uma sede para o CILG como prioridade no plano de obras da Secretaria de Educação pois, para quem não sabe, o CILG, desde sua criação, funciona em um espaço adaptado.”, postou nas redes sociais.
Nos grupos sociais, principalmente do Facebook, as críticas se estendiam à localização do Salão para quem fosse estudar lá, pela distância da parada de ônibus e o risco de insegurança por causa da concentração de moradores de rua e consumidores de drogas que moram ou se escondem no Parque do Guará.
Como seria
De acordo com o projeto, o Cilg seria transferido da QE 7 do Guará I para o salão, que será adaptado para receber salas de aula, secretaria e outros espaços específicos para o funcionamento da escola. A obra estimada em R$ 200 mil contaria com a parceria da Secretaria de Educação, Coordenação Regional de Ensino e articulação do deputado Rodrigo Delmasso, vice-presidente da Câmara Legislativa, morador do Guará, que também participou da reunião para captação de novos recursos. No novo espaço seria possível ampliar o atendimento com 300 novas vagas, totalizando 4300 estudantes da rede, segundo a direção do Cilg.
Com a ocupação, a cidade perderia o seu único espaço público para grandes eventos, como o tradicional Baile da Cidade, formaturas, feiras, posses de administradores regionais e encontros políticos. A perda seria compensada com a ocupação do salão de esportes do antigo colégio Maxwell, na QE 11 do Guará I, que foi devolvido à Administração do Guará depois que a escola foi fechada em 2019. A intenção da Administração é promover algumas adaptações internas para transformá-lo no novo espaço de festas e eventos da cidade.