COMUNIDADE USA POUCO SEUS PARQUES

Entre as medidas restritivas do decreto assinado pelo governador Ibaneis Rocha na semana passada, com o objetivo de reduzir as aglomerações e a consequente difusão da Covid-19, está o fechamento de academias e proibição de atividades esportivos conjuntas, caso de jogos amadores ou profissionais, de qualquer natureza. A medida impactou principalmente quem pratica atividades físicas por motivos de saúde ou por prazer. Mas o decreto deixou de fora da proibição os parques recreativos, que passam a ser uma alternativa até mais saudável, porque ainda oferecem a contemplação da natureza. E o Guará dispõe de três deles, sendo que dois, o Ezechias Heringer, ou Parque do Guará, e o Parque Denner (entre o Polo de Moda e o condomínio Bernardo Sayão), dispõem de boa estrutura, e o Bosque dos Eucaliptos, entre as QEs 38, 42, 44, 52 e 56, que ainda não oferece estrutura para uso.
Mesmo tendo a região do Distrito Federal com maior quantidade de parques e áreas verdes disponíveis, o guaraense ainda usa muito pouco dela, em parte por medo da falta de segurança, mas, principalmente, por desinformação sobre o que elas oferecem. Muitos dos moradores da cidade ainda preferem se deslocar para o Parque da Cidade (no Plano Piloto), o parque da Água Mineral, ou caminhar no calçadão do Guará II, onde o risco de contaminação é muito maior por causa da quantidade de praticantes de caminhada se esbarrando, sem contar o gás carbônico ingerido, proveniente dos carros que circulam em volta.
A estrutura oferecida pelo Parque do Guará pode ser considerada boa e aos poucos está sendo usufruída pelos moradores, que estão aumentando o hábito de jogar na quadra de esportes, levar os filhos para brincar no parque infantil ou correr e caminhar na pista de caminhada, implantadas através de parcerias com a iniciativa privada. Além da pista com calçamento apropriado para o pedestre, existe também uma trilha por terra, onde pode se apreciar a vegetação do parque. Mas a quantidade de pessoas que usa essa estrutura ainda é pouca pelo que ela oferece e pela demanda da cidade por mais espaços de lazer e saúde.
Um dos frequentadores assíduos do parque é Luciano Lima, jornalista, radialista e um dos coordenadores da rede social Amigos do Parque do Guará. “Frequento o Ezechias Heringer há 35 anos e foi difícil acompanhar todas as crises enfrentadas pelo nosso patrimônio ambiental. Hoje, é muito emocionante acompanhar o ressurgimento, o renascimento e o redescobrindo de um dos parques ecológicos mais importantes do DF”, afirma ele, que é acompanhado nas caminhadas diárias pela mulher Mônica Penna. “É uma felicidade e uma emoção assistir esse paraíso do Guará ressurgir. Ela é tão importante na minha vida e da minha família que plantamos uma árvore em comemoração ao aniversário de 25 anos do meu casamento”, completa Mônica.


“Encontramos no parque do Guará um ambiente aconchegante, onde podemos disfrutar dos benefícios de termos atividade ao ar livre. Não tem preço praticar atividade física ao som do canto dos mais diversos e raros pássaros, o encanto de um céu de azul singular, ar puro contribuindo para melhorar nossa imunidade, saúde física e mental”, conta a professora de dança Eliane Albuquerque, coordenadora do Projeto Divas Dance Guará, que leva o grupo para dançar no parque. “Nesse período de isolamento em que aumenta o nosso estresse, trancados em casa, administrando trabalho e filho sem escola, os parques são uma excelente opção, uma válvula de escape. Venho aqui todos os dias e volto pra casa com as energias recarregadas”, afirma Suélio Camargo, morador da QE 9 do Guará I. “O que a gente percebe é que a maior parte dos moradores da cidade desconhece a beleza desse parque e muitos deles preferem enfrentar os riscos de caminhar no calçadão ou mesmo não ir para lugar algum. Quem vem aqui uma vez vai voltar sempre”, garante Ludmila Loureiro, moradora da QE 17, que caminha no parque duas vezes por semana, na companhia da filha Isadora, de 12 anos.
Reunir sem aglomerar, e com saúde, é o principal objetivo dos parques, de acordo com a superintendente de Unidades de Conservação, Biodiversidade e Água do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Rejane Pieratti. Ela lembra que áreas abertas como essas dificultam a proliferação do vírus e ajudam a manter a sanidade mental e física comprometida pelo isolamento.
Mas, para contribuir na contenção do contágio, as administrações dos parques adotaram medidas de segurança. Os banheiros agora estão fechados, os bebedouros desativados e os equipamentos de ginástica dos pontos de encontro comunitários (PECs) e parquinhos estão isolados e proibidos de serem utilizados. Atividades coletivas ou que aglomeram grupos também são proibidas enquanto durar o decreto que restringe a circulação no DF.
“A recomendação é de que as pessoas usem o banheiro de casa antes de sair, levem suas próprias garrafinhas d’água e desfrutem da natureza das nossas unidades, conscientes do distanciamento e do uso de máscaras”, alerta Rejane. Os horários de funcionamento dos parques variam de acordo com cada unidade e é possível conferir no site do Instituto Brasília Ambiental quando abre e fecha cada um deles. O Parque do Guará funciona das 6h às 21h, todos os dias. O parque Dener é cercado mas os acessos são abertos

constantemente.

Fruto de compensação ambiental

Essa estrutura do Parque do Guará melhorou bastante nos últimos anos, fruto de acordos de compensação ambiental negociados entre o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e incorporadoras que construíram ao lado do parque, na área conhecida como Park Sul, ou Setor de Oficinas Sul, entre o Carrefour, Casa Parque e Viplan. Dinheiro público praticamente nada foi investido lá ainda.
Entretanto, a maior parte do Ezechias Heringer ainda não tem condições de ser usufruída pelos usuários, porque envolve a parte que era ocupada por cerca de 70 chacareiros que estavam lá há mais de 30 anos e que foram desalojados no governo Rodrigo Rollemberg depois de tolerados por governos anteriores. Com a retirada deles há quatro anos, a mata está sendo naturalmente recomposta e nesse período de chuvas o mato dentro dela cresce e impede a circulação além das pistas de caminhada. Essa recomposição da mata inclui também o plantio de cerca de 350 mudas de plantas do cerrado durante o programa É Tempo de Plantar e outras 400 mudas do grupo de voluntários da Câmara Legislativa.
Mas ainda falta o cercamento definitivo, de acordo com a nova poligonal, que aumentou a área do parque de 304 para 346 hectares como compensação pela liberação da Área 28-A, ao lado do ParkShopping, para que o governo pudesse vendê-la à iniciativa privada. A nova área do parque incorpora uma zona de amortecimento do impacto ambiental da cidade, próxima ao Cave, atrás do 4º Batalhão de Polícia Militar, e ao longo da via de acesso à QE 46.


Parque Denner sofre com a falta de segurança

Com apenas 2,7 hectares, o Parque Dener foi criado para preservar uma nascente e um lago remanescentes da implantação do Polo de Moda e do condomínio Bernardo Sayão, e oferece boas opções para uso, mas o aumento do tráfico e do consumo de drogas dentro de sua área afasta os frequentadores, principalmente à noite, mas pode ser usado com segurança durante o dia. Embora pequeno, o parque oferece uma razoável estrutura, composta por uma pista de caminhada, equipamentos de ginástica e uma quadra de esportes.

Bosque dos Eucaliptos ainda sem estrutura

Uma área de 30 hectares que deveria ter sido transformada num parque vivencial e ecológico para atender a uma população de cerca de 20 mil habitantes, ainda não oferece estrutura para uso. Em janeiro, o movimento É Templo de Plantar fez o plantio de cerca de 400 mudas de plantas do cerrado, que se juntaram às 250 mudas deixadas pelo mesmo movimento em janeiro do ano passado. O Bosque dos Eucaliptos foi criado em 2007 pelo Governo Arruda para preservar nascentes, vegetação do cerrado e, principalmente, servir de alternativas de lazer para os moradores das quadras mais novas do Guará.
As únicas obras realizadas pelo governo nesse período foram o cercamento, a instalação de um parquinho infantil e de uma guarita, mas que foram todos destruídos por vândalos ou por falta de manutenção. Parte do alambrado que cercava o parque foi furtada há vários anos e ainda não foi reposta. As únicas ações para recuperação da área têm sido feitas por voluntários, como essas do projeto É Tempo de Plantar. Os moradores próximos acreditam que a chegada das novas quadras – QEs 48 a 58 da Expansão do Guará -, incentiva o governo a, finalmente, investir no parque, recompondo a cerca, construído trilhas e fazendo pistas de caminhada. “Essa área é linda e poderia ser melhor usada pelos moradores se tivesse uma estrutura qualquer. Da forma como está, não dá pra utilizar”, reclama a moradora da QE 44, Gildete Macedo, que se desloca todos os dias para praticar caminhada no calçadão do Guará II. “Se tivesse uma pista aqui, não precisaria ir pra lá”, lamenta.