DESCOBRINDO O PARQUE DO GUARÁ

Pandemia e divulgação fazem o morador usar a área verde com mais intensidade. Frequência praticamente dobrou em poucos meses. Mas estrutura ainda é pequena

Aos poucos, os praticantes de caminhada e de exercícios físicos e esportivos vão trocando o calçadão do Guará II e as quadras das praças por um espaço muito mais seguro, aconchegante e saudável. Em parte por causa da pandemia, que obrigou a redução de atividades em academias e locais fechados, e de outra parte por causa da divulgação do que o espaço oferece, a frequência e o uso do Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará, praticamente dobrou nos últimos meses. Até o ano passado, cerca de duas mil pessoas utilizavam as trilhas, quadras, parquinhos infantis e equipamentos de ginástica, mas esse público hoje chega a quatro mil pessoas nos finais de semana. No feriado desta quarta-feira, 21 de abril, a quantidade de veículos que ocupava a via contorno como estacionamento mostrava lá dentro uma frequência recorde em um único dia.
Essa frequência, entretanto, poderia ser bem melhor se as opções previstas no Plano Diretor do parque fossem mais do que os 10% atuais, mesmo assim fruto de compensações ambientais. Por enquanto, quase nenhum investimento com recursos públicos. Nem mesmo o cercamento da nova poligonal da área foi feito, mesmo tendo sido licitado há quase dois anos. Mas, o que existe é suficiente para quem gosta e precisa caminhar, correr, andar de bicicleta, praticar esportes e respirar ar puro.
O governo atual garante que tem feito investimentos no parque, mas os únicos visíveis é o plantio de cerca de 800 mudas de plantas do cerrada, em parceria com grupos organizados da comunidade. “O Parque do Guará recebeu benfeitorias em 2013 e, desde então, não havia sido feita qualquer manutenção no local”, afirma Thúlio Moraes, secretário-geral do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).

De acordo com o Ibram, de outubro de 2019 a janeiro de 2020, foi realizada na unidade uma força-tarefa, denominada de SOS Parques, que contou com a parceria de diversos órgãos do GDF, como a Administração Regional do Guará, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a Companhia Energética de Brasília (CEB), a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), o Departamento de Trânsito (Detran), dentre outros para a realização de uma série de reparos nas instalações e equipamentos.
Entre as melhorias, está a construção de uma pracinha com mesas e bancos de madeira e a transferência de mesas e bancos de concreto para a nova pracinha, o plantio de grama nos canteiros da área vivencial, a reforma da ducha, com a troca do piso e calçada com acessibilidade, além da instalação de duas duchas novas.
O Ezechias Heringer também ganhou um novo bebedouro na guarita, um quebra-molas na entrada do parque e novas calçadas. A força-tarefa recolheu carcaças de ônibus dentro da área, podou árvores nativas e retirou espécies exóticas (que não são originárias do cerrado).
Novas reformas estão previstas para acontecer no segundo semestre. A pista de caminhada, que tem 1,5 quilômetros, está com a pintura nova. Ela foi sinalizada em 2019 e, na época as vagas de idosos foram trocadas de lugar. Uma placa nova também foi instalada no Ponto de Encontro Comunitário.

Tesouro verde

O parque, que tem 349 hectares, fica aberto todos os dias das 6h às 22h e conta com boa iluminação em toda a área vivencial. Durante o SOS Parques, lâmpadas de LED foram instaladas em todos os postes da área aberta ao público. As equipes também removeram os refletores inutilizados e com risco de queda das quadras poliesportivas, aumentando a segurança dos frequentadores.
Entre os atrativos da área de lazer há um parque infantil, banheiros públicos, uma quadra de areia e um pequeno e bem cuidado orquidário com espécies nativas. Os frequentadores também podem fazer trilhas ecológicas em meio à rica vegetação.
O Parque do Guará possui cerrado típico e é banhado pelo Córrego Guará. Tem centenas de espécies de plantas entre árvores, arbustos, flores, trepadeiras, além de cerca de 100 espécies de orquídeas catalogadas, nascentes e é dotado de grande biodiversidade, incluindo pequenos mamíferos, algumas espécies de répteis, pequenos roedores e diversos tipos de pássaros. Seu nome foi uma homenagem ao agrônomo pioneiro no estudo do cerrado, Ezechias Heringer, que identificou diversas espécies de orquídeas em todo o território do Distrito Federal.

 

Parques vão cobrar por atividades profissionais

Ibram anuncia que vai taxar eventos que visem retorno financeiro em parques do DF , como fotos e aulas de dança e de esportes

 

Quem usa os parques públicos do DF para ministrar aulas e atividades esportivas, realizar eventos e fazer fotografias profissionais terá que pedir autorização e pagar pelo uso, de acordo com medida anunciada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram). A taxa será cobrada nos principais parques, incluindo o Ezechias Heringer, o Parque do Guará, mas o órgão ainda não definiu o valor e quando vai começar a cobrança.
A Instrução Normativa n° 16, publicada no Diário Oficial do DF (DODF) de 12 de abril, traz os detalhes do que é necessário para o público utilizar os parques em eventos, feiras e aulas esportivas, entre outras atividades. Em casos de publicidade para fins comerciais, books, gravação de clipes e filmes, por exemplo, a captação de imagens nas unidades de conservação será permitida mediante autorização prévia e cobrança. Também será cobrada taxa em caso de aulas que não são gratuitas.
O documento adverte que as atividades que “desrespeitarem as determinações e proibições previstas estarão sujeitas à revogação do termo de autorização de uso ou permissão de uso” expedido pelo Brasília Ambiental, mediante comunicação prévia, além da responsabilização por eventual dano ou infrações.

RECURSOS PARA MANUTENÇÃO

O Ibram argumenta que a medida vai ajudar na conservação das áreas e promete também o uso exclusivo para quem fez a reserva do espaço em determinado momento, evitando que outras pessoas utilizem a área ao mesmo tempo. Em nenhuma hipótese as vias internas poderão ser utilizadas de forma a obstruir ou atrapalhar o fluxo normal dos demais frequentadores.
Entre as novas regras, as aulas gratuitas abertas deO Yoga, Tai Chi Chuan entre outras, serão outorgadas por meio de permissões de uso não qualificada, sem a cobrança de preço público nem a necessidade de seleção por chamamento público ou processo licitatório desde que não haja exposição de qualquer tipo de propaganda.
Aulas práticas desportivas precisarão de autorização do Ibram, os professores devem ser credenciados, não podem ocupar vias internas dos parques e músicas e sons não poderão perturbar outros visitantes. Atividades com finalidade comercial de caráter continuado serão permitidas mediante permissão de uso qualificada mediante seleção por chamamento público ou processo licitatório conforme legislações específicas.

Reação dos usuários

A medida nem foi implementada e já sofre críticas e reações de usuários, lideranças e de parlamentares. No Parque do Guará, por exemplo, existem vários grupos praticando atividades físicas e esportivas sob a orientação de profissionais, mediante pagamento. Algumas dessas atividades se iniciaram no próprio parque, mas outras foram para lá como opção, principalmente por causa da pandemia, como é o caso da professora Eliane Albuquerque, que levou seu grupo do projeto Divas Dance depois que o governo do DF restringiu aglomerações e algumas atividades em academias e clubes.
Ao ar livre, o grupo formado por senhoras pode continuar praticando a dança com espaço para manter o distanciamento e em ambiente aberto e ar puro. “Seria um absurdo cobrar das atividades promovidas pelos profissionais de educação física, porque, além de promover o bem estar físico e mental, acabamos também estimulando outros usuários do parque a se exercitarem também. Por outro lado, não representamos custo para o parque, até porque o espaço é grande e não atrapalhamos ninguém”, afirma Eliane.

Crítica na Câmara Legislativa
O deputado Rodrigo Delmasso critica a medida, que considera abusiva, e
promete agir contra a cobrança caso ela seja oficializada

Assim que foi informado da pretensão do Ibram de cobrar pelo uso do espaço para os educadores físicos darem aulas, o deputado distrital Rodrigo Delmasso (Republicanos), mordor do Guará, utilizou a tribuna remota da Câmara Legislativa desta terça-feira (20 de abril), para criticar a medida, considerada por ele como “abusiva”.
“O Ibram deve cobrar para a realização de grandes eventos, sim, mas dos personal trainers? É um absurdo ter de pagar uma taxa pública para dar aula para uma ou duas pessoas ou a um pequeno grupo”, disse Delmasso. “Isso não degrada os espaços. Só vai espantar quem frequenta os parques para a prática de atividades físicas”.

Conselho de Educação Física a favor da cobrança
Nem todos do meio atingido são contra a medida, como é caso do presidente do Conselho Regional de Educação Física do DF (Cref7), Patrick Aguiar. “Eu acredito que isso vai trazer um pouco mais de segurança e organização para os parques do DF. Da forma que está, compreendemos que não dá para continuar. Os parques são públicos. Não se pode utilizar para exploração de uso comercial. O que está sendo proposto é a regulamentação desses serviços. Isso vai melhorar para a sociedade e para os profissionais. A cobrança é para o reinvestimento nessas áreas públicas”, avalia.
Ainda segundo Patrick, o Cref vai cobrar esse retorno do Ibram. “Se há uma cobrança, deverá ter a contrapartida do órgão na manutenção dos espaços, iluminação pública e segurança para oferecer qualidade de serviço para os profissionais de educação física atuarem. É importante que se utilize esses serviços com profissionais que possuem registro no conselho. Que a população sempre verifique isso” (Com informações do metrópoles.com).