Drogas o Guará – Desmonte de quadrilhas de traficantes reduz tráfico

As duas principais quadrilhas que agiam na cidade, inclusive guerreando entre si, foram desmontadas pela polícia civil. Mas parte ainda continua foragida. Espaço é ocupado por pequenos traficantes

Kelen e o filho Gordinho, da quadrilha de Mancha, continuam foragidos, como também o próprio chefe (direita)

Até o início deste ano, cerca de 80% da venda de drogas no Guará eram controladas por duas grandes quadrilhas de traficantes, mas as duas foram parcialmente desmontadas por ações das polícias militar e civil em sucessivas operações de combate ao tráfico na cidade. Com o desmonte das duas quadrilhas, a polícia acredita que tenha conseguido reduzir em cerca de 30% do negócio – parte delas ainda pode ser responsável por cerca de 10%. O comércio era dividido em duas regiões, a do Guará II era comandada por Janderkleyton Pereira de Souza, o Taynan, 30 anos, preso há dois meses numa grande operação policial, e a do Guará I por Carlos Alberto Lacerda, o Mancha, que está foragido deste agosto de 2020.
As duas quadrilhas são responsáveis por pelo menos oito assassinatos em apenas um ano, alguns com requintes de crueldade, sendo que parte das mortes está relacionada à disputa entre as quadrilhas por pontos de venda de drogas e outra parte por acerto de contas com quem não conseguiu cumprir acordos com os traficantes. Essa guerra facilitou a investigação policial na identificação dos seus membros e seus comandantes e, com a divulgação das fotos e informações sobre eles, a maioria foi presa com ajuda da população.
A quadrilha que comandava o território do Guará I, comandada por Mancha, tinha o local conhecido como “biqueira” dentro do Parque do Guará, ao lado da QE 9, como seu bunker, onde planejava a distribuição da droga aos pontos de venda e também recebia consumidores. A casa da quadrilha começou a cair com o assassinato e o esquartejamento do morador da QE 28, Anderson Rocha Alves, 35 anos, por ter pago com notas falsas de real a droga adquirida para revenda. Partes do corpo de Anderson foram encontradas na Estação de Tratamento de Esgoto da Caesb, no Lago Sul, depois de jogadas na rede que passa dentro do parque. O crime teria sido cometido por Jadson Santana dos Santos, o “Tochinha”, preso em janeiro na casa onde morava na QE 36. Outros dois comparsas no crime, efetuado a mando de Mancha, continuam foragidos, um deles identificado como Diego Queiroz Soares, conhecido por “Gordinho”, e a mãe dele, Kelen Soares Gomes.

Janderkleyton, o Kaynan, o chefe, e seu escudeiro
e carrasco Josenilson, o Demônio
Desmonte

Da quadrilha de Mancha, 12 integrantes já foram presos e três continuam foragidos, entre eles o próprio chefe, Kelen e o filho Gordinho. O delegado titular da 4ª DP, Anderson Espíndola acredita que a quadrilha de Mancha não esteja mais agindo, porque as prisões recentes na “biqueira” foram de traficantes avulsos, sem relação com o grupo antigo que controlava o local.
A quadrilha de Taynan era mais ousada e maior que a controlada por Mancha e vendia drogas um pouco mais sofisticadas, mas, mesmo assim pretendia tomar espaço do rival. A disputa entre eles resultou em mortes dos dois lados do início de 2019 a 2020. Com a ajuda de vários parentes, Tayan controlava a maior parte da venda de drogas no Guará II e disfarçava o negócio através de um lavajato na QE 40. Nos barracos nos fundos do lavajato, a família separava a droga e distribuía aos vendedores, a maioria formada por jovens entre 16 e 23 anos, que recebia como pagamento uma pequena parte dos entorpecentes ou um “salário” pelo que vendesse. Quando precisava se vingar de alguém, Tayan contava com o seu encarregado fiel, Josenilson Silva do Amarante, o “Demônia”, preso em fevereiro deste ano, procurado por um homicídio cometido em junho do ano passado.
Durante a operação Trem Bala, deflagrada pela 4ª DP em março deste ano, foram presos nove membros da quadrilha de Kaynan, entre eles a mãe a irmã, em locais diferentes do Distrito Federal e Entorno. Mas, dos nove presos, sete foram soltos em audiência de custódia, incluindo Janderkleyton (que depois foi preso), acusado de importar cocaína e crack da Bolívia. Mas, de acordo com investigações da polícia, a quadrilha não voltou a agir no Guará. Entre os crimes imputados a ele está o assassinato do sucateiro Aldo Bezerra Neto e do seu amigo José Ailton Soares, em novembro do ano passado, em uma chácara na Quadra 4 do Park Way. Aldo teria sido executado depois de ser colocado de joelhos. Em novembro de 2019, Janderkleyton teria mandado assassinar Jonathan Dalmo Macedo dos Santos, morto a tiros, na QR 319 de Samambaia, por um dos encarregados. Em junho de 2020, o adolescente de 17 anos, Antonio Hygor Araújo, teria sido executado próximo à linha de trem do Guará II, por estar ocupando um ponto de venda da quadrilha. Em janeiro deste ano, segundo a polícia, Janderkleyton teria encomendado o assassinato de César Lacerda Junior, filho do ex-deputado distrital César Lacerda, morto com diversas facadas na QE 40, crime também relacionado ao tráfico de drogas. Poucos dias antes, Thiago Teixeira de Oliveira, foi assassinado durante o dia por Josenilson Silva, o Demônio, próximo a uma distribuidora no Polo de Moda.
“Estamos falando de duas gangues de bairros distintos, que disputam o ponto de tráfico de drogas no Guará. São jovens, com idades entre 16 e 23 anos, que entram para o mundo do crime pelo dinheiro fácil. A sociedade sofre com isso. Por exemplo, uma briga entre traficantes com troca de tiros pode vir a balear um inocente. O usuário de drogas comete pequenos furtos e até roubos para conseguir o dinheiro para alimentar o vício. Continuamos nossas investigações para impedir o crescimento desses grupos e prendê-los”, explica o delegado-chefe da 4ª DP, Anderson Espíndola.

Quadrilhas comercializavam drogas diferentes

Embora fossem concorrentes, as duas quadrilhas se especializaram na venda de drogas um pouco diferentes. Enquanto Mancha e seu grupo preferiam vender crack e maconha, a turma de Janderkleiton preferia a venda de maconha e cocaína. As duas quadrilhas não vendiam drogas mais elaboradas, como a maconha chamada de “gourmet” ou “skank”, e LSD, comércio mais próprio de traficantes avulsos.
Para se ter uma ideia do que representa esse tipo de comércio, um grama de maconha mais bruta custa entre R$ 5 e R$ 10, já a maconha “gourmet”, mais pura, pode custar entre R$ 70 e R$ 80 o grama, e a cocaína entre R$ 20 a R$ 30 o grama. Um selo de LSD custa entre R$ 80 e R$ 100 e uma pedra de crack cerca de R$ 5. O preço varia conforme a quantidade de THC, substância responsável pelo efeito alucinógeno contida na droga.