Todos os índices de criminalidade caem no Guará

Comandantes do 4º Batalhão e do 2º Comando Regional (com sede no Guará) fazem um balanço dos primeiros 100 dias deles à frente dos dois policiamentos que servem à cidade

TenCel PM Everaldo Rodrigues Aragão e o TenCel PM Cristiano de Oliveira Souza

Não foi apenas o confinamento provocado pela pandemia o responsável pela redução dos índices criminais no Guará nos últimos meses. Para os comandantes do 4º Batalhão, coronel Everaldo Aragão, e do 2º Comando Regional (que tem sede no Guará), coronel Cristiano de Oliveira Souza, a redução pode ser creditada também às ações desenvolvidas pela Polícia Militar na cidade e no entorno dela nos 100 dias da nova gestão do policiamento ostensivo na cidade. Conta também o fato de que os dois comandos estarem sediados no 4º Batalhão e os dois comandantes são vizinhos de sala, o que facilita, segundo eles, a definição das ações e das estratégias.
Além de uma maior interação com os moradores, mesmo com as dificuldades provocadas pelo distanciamento sanitário, os dois comandos promoveram mais de 50 operações nos últimos 100 dias no Guará, integradas pelas outras forças de segurança pública ou pelo próprio 4º Batalhão, o que dá a média de uma operação policial a cada dois dias. Como resultado, todos os índices de criminalidades foram reduzidos na Região do Guará e, o mais significativo deles, é que não houve sequer um homicídio ou feminicídio nesses 100 dias, sem contar a redução do tráfico e uso de drogas e furtos e roubo a transeuntes e de veículos.
“A população tem percebido que aumentamos a presença da polícia nas ruas do Guará, não ainda da forma que todos gostaríamos, mas dentro do limite das nossas possibilidades humanas e técnicas”, começa avaliando o comandante do 4º Batalhão. Ele conta que, durante a pandemia, o 4º BPM promoveu e promove levantamento das manchas criminais e de tipos de crimes mais praticados na Região do Guará, baseado em bases científicas, para melhor distribuição do efetivo e de ações nas ruas.
“Além de zero homicídio, tivemos redução de 35% de roubo a transeunte, principalmente celular, 46,5% de redução de furtos e roubos de veículos e 35% menos do tráfico de drogas em relação ao período anterior à nossa chegada”, mostra o comandante. Segundo ele, foi verificado ainda um aumento de 34% da produção policial, ou seja, no atendimento a ocorrências provocadas ou espontâneas, e interesse dos próprios policiais no desempenho da função. “Nesse período, tivemos o apoio importante do Departamento de Ensino da Policia Militar do DF, ao permitir que 459 formandos fizessem estágio no Guará”, explica cel. Aragão.

Tráfico de drogas

O tráfico de drogas continua sendo o calcanhar de Aquiles das polícias Civil e Militar no Guará, por causa do bom poder aquisitivo da população e a grande quantidade de jovens – 28,1% da população tem entre 15 e 28 anos, de acordo com último levantamento da Companhia de Planejamento do Distri-to Federal (Codeplan). “Redu-zimos bastante o tráfico de drogas, com ações ostensivas e de inteligência, mas ainda existem gargalos, e alguns deles estão no Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará, no local chamado de “biqueira” nas proximidades da QE 9 do Guará I, e no Parque Denner, no Polo de Moda. Nesses dois locais, temos procurado passar todos os dias, o que tem afugentado os traficantes e usuários, mas não temos como ficar permanentemente por lá. O próprio Polo de Moda, por causa da grande quantidade de quitinetes, também atrai principalmente os traficantes para moradia. Mesmo assim, a redução tem sido significativa”, garante “Temos dificuldades em outros locais do Parque do Guará por falta de uma zeladoria mais eficiente, um controle dos acessos e dos acessos mais vulneráveis, não somente com o consumo e tráfico de drogas, mas também por ocupações irregulares”, completa cel. Aragão.

Consumo de bebidas

Nas estatísticas do crime no Guará há uma forte contribuição das distribuidoras de bebidas, principalmente as que driblam as normas da pandemia para os horários de funcionamentos de bares e vendem bebida alcoólica para consumo no próprio local, de acordo com o comandante do 4º Batalhão. “Descobrimos que mais da metade das ocorrências de brigas, arruaças e desrespeito às normas sanitárias acontecem nas proximidades dessas distribuidoras. A principal delas é uma localizada no Polo de Moda, que funciona praticamente toda a noite, mas à polícia cabe apenas verificar o cumprimento da ordem, porque o alvará de funcionamento é emitido pela Administração Regional e a fiscalização deve ser feita pela Secretaria DF Legal”.

Novas tecnologias

Para o comandante, o uso correto das novas tecnologias implantadas pelo Comando da Polícia Militar do DF tem sido outro ponto importante na redução da criminalidade. “A principal delas é o sistema de videomonitoramento, que nos permite acompanhar tudo o que acontece nos pontos de maior movimento da cidade sem a presença do policial. Se a ocorrência for feita a tempo de acionarmos o sistema, é praticamente impossível o criminoso fugir da cidade sem ser flagrado pelas nossas câmeras. E mesmo que consiga ultrapassar essa barreira hipotética, ele pode ser alcançado pelas câmeras de outras regiões, que estão interligadas numa grande central do comando da Polícia Militar”. No caso do Guará, são 40 câmeras de alta resolução, instaladas em pontos de maior movimento e nos acessos à cidade, controladas por uma central instalada este ano no 4º Batalhão (ver reportagem na página 7).
A redução do tempo de atendimento às ocorrências e o uso da tecnologia também contribuíram para a redução dos índices de criminalidades, na avaliação do comandante. “Com o acesso ao banco de dados Gênesis da Polícia Militar através de aplicativos nos aparelhos celulares não há mais necessidade do policial militar transportar o suspeito até à Delegacia para levantar o histórico dele, o que facilita a lavratura do Termo Circunstanciado (TCO)e o encaminhamento para a Justiça para a avaliação da custódia”, explica.
“Outra iniciativa nossa reduziu bastante os crimes na cidade. Antes, o telefone de emergência atendia somente das 8h às 18h, sendo que os bandidos preferem agir durante a noite, fora desse horário. E estava disponível para os grupos organizados do programa Vizinhos Protegidos. Ampliamos o serviço para todos os grupos organizados em WhatsApp, porque prestamos segurança pública para todos e não somente para alguns. Em caso de urgência e emergência, ligue para 999709166, que atende todos os dias, 24 horas”, completa o cel. Aragão, que recomenda aos moradores que façam ocorrência de todos os crimes que forem vítimas, para que as forças de segurança possam agir baseadas nas manchas criminais.
“Tivemos um recentemente um furto de veículo no Guará. A vítima acionou a polícia, ele foi detido próximo ao Núcleo Bandeirante, porque, assim que recebemos a ligação, acionamos as câmeras a partir de onde aconteceu o crime. Se o crime for avisado a tempo, é quase impossível o ladrão conseguir fugir do Guará”, afirma cel. Aragão

 

Quem são os comandantes

Por coincidência, os dois comandantes tem os mesmos 49 anos de idade. O tenente coronel Cristiano de Oliveira Souza mora há 22 anos no Guará e está há 31 anos na Polícia Militar. Já chefiou a Subseção de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública, foi coordenador de Atividades Especiais e chefe do Departamento de Operações (DOP) da PM.
Foi também chefe da Segurança Pessoal do ex-governador Joaquim Roriz por dois governos.
Com 27 anos de Polícia Militar, o tenente coronel Everaldo Rodrigues Aragão, ficou três anos e meio no comando do 25º Batalhão (Park Way, Núcleo Bandeirante e Candangolândia) numa das mais longevas gestões de comando de batalhões no DF, antes de assumir o 4º Batalhão do Guará. Além desse período de chefia, ele serviu no próprio 25º BPM por outros 15 anos, o que aumentou sua identificação com a comunidade da região.

 

UM BIG BROTHER DA SEGURANÇA

Toda a cidade do Guará é vigiada por 40 câmeras de alta definição e longo alcance e imagens são acompanhadas por uma central de monitoramento instalada no 4º Batalhão da Polícia Militar. Sistema pode fazer reconhecimento facial e de placas de veículos, mesmo a longas distâncias

Considerada uma das regiões mais seguras do Distrito Federal, Guará caminha para reduzir ainda mais os seus índices de criminalidade com a instalação do novo sistema de videomonitoramento público, implantado nos pontos mais vulneráveis à ação e fuga de bandidos. As 40 modernas câmeras OCR (tecnologia que reconhece caracteres a partir de um arquivo de imagem ou mapa de bits, sejam eles escaneados, escritos a mão, datilografados ou impressos, a grandes distâncias), podem identificar a placa de qualquer veículo que usa os acessos da cidade (menos, por enquanto, o acesso entre a expansão do Guará II, condomínio Iapi e via EPNB). Através das imagens, controladas por uma central de monitoramento instalada na semana passada no 4º Batalhão da Polícia Militar do Guará, a polícia tem condições de saber se um veículo saiu ou não da cidade ou para que sentido foi.
Ao custo de R$ 700 mil, recursos de emenda parlamentar destinada ao Orçamento do GDF pelo deputado distrital Rodrigo Delmasso (Republicanos), morador do Guará, as câmeras de altíssima resolução, instaladas em pontos estratégicos, permitem o controle de quase 100% do que acontece nas vias públicas de maior movimento da cidade – vias central do Guará I, vias contorno e central do Guará II, e acessos. As ruas e vias internas estão aos poucos sendo também vigiadas através de sistemas particulares, contratados pelos próprios moradores, mas também caminham para ser monitorados pelos órgãos de segurança. Quadras como as QEs 30, 15, 17 do Guará II e QE 9 do Guará I estão quase todas cobertas por vídeo monitoramento. Na avaliação preliminar dos moradores dessas quadras, o índice de criminalidade chegou a ser reduzido em até em 80% em comparação com o período antes da instalação das câmeras.
As câmeras haviam sido instaladas no final de 2019 e eram acompanhadas pe-lo Centro Integrado de Operações de Brasília [Ciob], no edifício sede da Secretaria de Segurança Pública, mas a partir de maio deste ano passaram a ser monitoradas por uma central instalada no 4º Batalhão da Polícia Militar do Guará. A descentralização do monitoramento de imagens integra o programa DF mais Seguro, coordenado pela SSP em conjunto com as forças de segurança do DF.
Com tecnologia de ponta, as câmeras podem também auxiliar com investigações conduzidas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e órgãos do Judiciário, como Ministério Público e tribunais de Justiça, como explica o secretário. “O material captado pelas câmeras é encaminhado em tempo real ao 4º Batalhão, e isso facilita o acesso de outros órgãos locais”.

Definição dos locais
A definição dos locais em que os equipamentos foram instalados foi feita com base em áreas de interesse permanente, definidas em levantamentos que mostram os dias, horários e locais com maiores incidências criminais. Policiais militares e civis também contribuíram com o estabelecimento dos pontos de captação de imagens.
Além do acesso às imagens 24 horas por dia, a SSP/DF dá o apoio necessário ao batalhão.
“Com o videomonitoramento, as respostas aos crimes cometidos em áreas públicas tem respostas mais rápidas com a identificação dos criminosos. Com o sistema, a área de segurança pública do DF tem percebido uma significativa queda de crimes nas áreas monitoradas, como furto de veículos e de pedestres e arrombamentos”, afirma o comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar do Guará, cel Everaldo Aragão. Para o delegado-titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Anderson Espíndola, a tecnologia contribui bastante para a elucidação de crimes. “O uso das imagens captadas pelas câmeras de segurança podem contribuir com o encurtamento do tempo de investigação e consequente responsabilização mais rápida do infrator, principalmente em casos de condenações e prisões”. O delegado conta ainda que a divulgação de imagens estimula as denúncias. ”Sempre que divulgamos imagens de suspeitos, muito rapidamente surgem denúncias com informações fundamentais para investigação e até mesmo o paradeiro do infrator”.