Depois do padre Aleixo Susin, que morreu em março do ano passado, da paróquia São Paulo Apóstolo do Guará I, o padre Jorge Eldo Lira Andrade é o padre mais longevo da história da cidade. São quase 39 anos somente na paróquia Maria Imaculada, entre as QEs 15 e 17 do Guará II. Pode se dizer que a história sacerdotal dele se confunde com a própria história da paróquia, porque foi ele que concluiu o templo e deu a ele uma nova roupagem, transformando-o num dos templos católicos mais bonitos do Distrito Federal, de acordo com avaliação da Secretaria de Turismo. Aliás, foi o próprio padre Jorge que transformou a então capela ligada à paróquia Divino Espírito Santo (EQ 32/34 do Guará II) em paróquia, há quase 40 anos.
O mais curioso, entretanto, é que padre Jorge, 60 anos, nasceu e se criou no Guará, o que valoriza ainda mais sua história e sua ligação com a cidade. Tudo começou quando a família, em 1969, que morava na invasão do Iapi, recebeu uma casa da antiga SHIS (Sociedade Habitacional de Interesse Social), na QI 3 do Guará I. Lá ele foi criado e estudou na Escola Classe 5 (QI 20), na Escola Classe 3 (QE 3) e no Ginásio do Guará, o GG, na QI 7. “Era época da construção do Guará II e íamos, nos intervalos, brincar nas manilhas de águas pluviais das obras”, recorda.
Mas, embora seja de família católica praticante, o sacerdócio veio a despertar no padre Jorge por outro motivo. “Quando fui servir o serviço militar no Exército, ficava admirando o capelão militar fazer lindas pregações, que atraia inclusive quem não era católico. Aquilo me despertou a vontade de fazer o mesmo, de ser parecido com ele, de fazer o que ele fazia”, conta. “Foi um despertar de minha vocação”, completa.
Quando cumpriu sua missão militar, foi estudar no seminário Nossa Senhor de Fátima, no Lago Sul e depois concluiu os estudos de mestrado em Sociologia Dogmática no Vaticano, em Roma.
Carreira sacerdotal
Na volta, já como padre, foi trabalhar nas paróquias de São Pedro Alcântara, no Lago Sul, e depois na Nossa Senhora do Rosário, em Sobradinho. Em 1992, foi transferido para a paróquia Divino Espírito Santo com a missão da Diocese de Brasília de transformar a então capela da Maria Imaculada, entre as QEs 15 e 17, em paróquia. Ele é, portanto, o primeiro e único pároco da Maria Imaculada.
Quando assumiu o posto, padre Jorge recebeu o templo apenas na base e mesmo assim com defeitos estruturais. “Tivemos primeiro que corrigir os problemas existentes, que provocavam vazamentos, para então continuar a obra”, conta. Foi ele que criou a nova fachada e a decoração interna da igreja, baseadas na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Para a construção, que está quase concluída, padre Jorge diz que contou somente com a ajuda dos paroquianos, através do dízimo e da renda de eventos promovidos pelos mais de 50 grupos pastorais que o auxiliam na paróquia.
Antes da pandemia, padre Jorge ministrava duas missas por dia e outras oito nos finais de semana somente na Maria Imaculada, e outras seis na capela do Park Sul, que pertence à paróquia, mas a quantidade foi reduzida pela metade. Na tarefa, ele conta com apenas um padre auxiliar, o padre Arnaldo Henrique. Entretanto, padre Jorge ainda não sabe quando as atividades na igreja voltarão ao normal. “Nunca rezei tanta missa de sétimo dia como nessa pandemia. Por isso, só vamos retornar ao que era antes quando houver completa segurança sanitária para nossos fiéis”, explica.
Tamanho do rebanho
Padre Jorge diz que não consegue dimensionar a quantidade do rebanho da Maria Imaculada, mas conta que um estudo da UnB, publicado pelo jornal Correio Braziliense em 2000, concluiu que 90% da população do Guará II, calculada na época em 40 mil habitantes, eram de católicos. Como existem duas paróquias no Guará II – a outra é a Divino Espírito Santo -, a Maria Imaculada teria hoje cerca de 20 a 30 mil fiéis dos cerca de 50 mil habitantes da população atualizada dessa parte do Guará. E sem contar a quantidade de fiéis da capela do Park Sul.
“Quando penso nesses números, me assusto. Mas Deus só dá o frio conforme o cobertor, ou, a missão a quem pode cumpri-la”, fecha o padre mais longevo da história do Guará em atividade.