A história da cultura da cidade tem em Sônia Dourado o seu marco temporal. Criadora da Casa da Cultura do Guará, a primeira e a que deu origem a todas outras do Distrito Federal, Sônia organizou e turbinou os movimentos que aconteciam na cidade de forma até então desorganizada. Foi a partir da iniciativa dela que a cultura guaraense aflorou com mais intensidade e se transformou numa das mais representativas do DF.
Além de fundadora, ela foi diretora da Casa da Cultura na gestão de três administradores regionais, Heleno Carvalho (primeira gestão), Alírio Neto e Marcos Dantas. Ninguém mais foi tanto.
Mas a história de Sônia Dirce Barreto Dourado com o Distrito Federal se assemelha à saga da maioria dos nordestinos que vieram para Brasília em busca de leite e mel que a nova capital oferecia. De Irecê, no seco interior da Bahia, a família veio para Brasília na década de 60 acompanhando o pai, que era caminhoneiro, em busca de melhores oportunidades. Aqui, pai, mãe e sete filhos se instalaram na Vila do Iapi, onde é hoje um dos três grandes condomínios horizontais do Guará. Com 14 anos, ela foi trabalhar com o tio, irmão da sua mãe, que era diretor do Hospital de Base. Lá, fazia o trabalho social de identificar as necessidades dos pacientes e acompanhantes, se precisavam de alimentação, de roupa, remédios. Ficou lá até passar no concurso de professor da Fundação Educacional, da Secretaria de Educação, como professora de Artes, onde aposentou-se com mais de 30 anos de magistério.
Como foi criada a Casa da Cultura
Como professora de Artes, Sônia promovia eventos em várias partes do Guará e do DF, até que teve a ideia de criar a Casa da Cultura, aproveitando a amizade com a então primeira dama do DF, Wesliam Roriz, combinada com a oportunidade de encontrar vazio o prédio no Cave onde chegou a funcionar uma churrascaria e depois uma boate. Foi juntar a fome com a vontade de comer.
Apresentado por Sônia, o projeto de criação da Casa da Cultura do Guará foi imediatamente aprovado por dona Wesliam, que imediatamente o levou ao governador Joaquim Roriz já como ordem de implantá-lo, como era seu estilo.
Com a ajuda de Lia Samara, um inquieto e criativo artista e agitador cultural, Sônia passou a agitar o movimento cultural da cidade com cursos de dança, música e criou até uma banda da casa que se apresentava em eventos em todo o Distrito Federal.
Numa época sem Internet e com dinheiro público de sobra era muito fácil ainda fazer cultura, desde que houvesse vontade e criatividade, o que sobravam em Sônia e Lia Samara.
Hoje, só viagem
Mas foram bons tempos que apenas estão na lembrança dessa baiana arretada, que hoje dedica seu tempo a curtir sua casa no condomínio Bernardo Sayão, abaixo do Polo de Moda, ler muito e viajar pelo mundo na companhia do filho Ricardo, que organiza viagens internacionais. Já conheceu quase toda a América do Sul, os Estados Unidos e vários países da Europa.
Além de Ricardo, é mãe de Renata Dourado, apresentadora de telejornais da TV Band Brasília, e de Leandro e Edenizar Júnior, e avó de seis netos.