UMA ESCOLA MUITO ESPECIAL

Escola, considerada modelo no DF, recebe mais de 300 alunos com algum tipo de deficiência. Instalações foram quase todas reformadas e equipadas com emendas parlamentares e recursos do PDAF

Das 23 escolas da rede pública de ensino do Guará, uma merece um olhar especial porque lida com a parte mais sensível da população, a de maior dependência em todos os sentidos, e que, por isso, requer um tratamento diferenciado das demais escolas inclusivas. O Centro de Ensino Especial 1 é a única escola da região do Guará destinada ao ensino e desenvolvimento para estudantes com diagnósticos de TEA (Transtorno do Espectro Autista), Síndrome de Down, DMU (Deficiência Múltipla), DI (Deficiência Intelectual).
Os 313 alunos em idade de um mês a 76 anos frequentam a escola para acentuar suas qualidades naturais, aprimorar seus dons, aprender a lidar melhor com as suas deficiências para, assim, ter melhor qualidade de vida.
Há cerca de dez anos, a maioria dos alunos da escola era constituída de estudantes com Síndrome de Down, mas, atualmente a maior parte é formada por estudantes portadores de autismo. “A redução ao atendimento de pessoas com Síndrome de Down pode estar relacionada ao aumento da expectativa de vida e a inclusão deles na sociedade. Antes, viviam pouco e com maior dificuldade, mas hoje já conseguem emprego, casam e conseguem ter uma vida dentro do considerado normal. Só ficam aqui na escola os mais comprometidos”, explica a diretora Gicileide Ferreia, que assumiu o Centro de Ensino Especial em 2019, mas desde 2014 atuou como vice-diretora da escola.
Uma das explicações para o aumento da quantidade de autistas, segundo a diretora, seria a maior conscientização da sociedade sobre o assunto, o que aumenta a identificação do TEA com mais facilidade e mais cedo. “É possível identificar o autismo a partir de um ano e meio de vida, por meio de um profissional qualificado para identificação de alguns sinais típicos do quadro”.

De acordo com a psicóloga da escola, Marta Ires Souza, “os estudos mais recentes indicam que, para essa identificação ainda não há um exame específico que indique o autismo, mas critérios a serem observados, quando a criança deverá ser acompanhada por profissional devidamente qualificado, como neuropediatra e uma equipe multidisciplinar por, no mínimo, seis meses, e de acordo com os critérios estabelecidos no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), conhecida como DSM-V (APA,2013).”
A pedagoga do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem(SEAA), Carla Cátia Souza, explica que o atendimento e distribuição dos estudantes no CEE 1 é feito de acordo com o nível de comprometimento de cada um e, para efetivar a matrícula na escola, o estudante passa por uma avaliação psicopedagógica, realizada pelo SEAA, quando o pedagogo e o psicólogo avaliam o aluno, com a ajuda da família, para indicar o melhor atendimento, ou seja, se a matricula deverá ser em um centro de ensino especial ou em uma escola inclusiva (as outras escolas regulares da rede).

Preocupação com os mais velhos

Outra preocupação da escola, segundo a diretora Gicileide Ferreira, é com a grande quantidade de estudantes dos 24 aos 76 anos que ainda frequentam as aulas e as atividades. “São 114 estudantes nessa faixa, alguns com mais de 60 e 70 anos, que precisam continuar recebendo tratamento especial. O ideal seria que tivéssemos um espaço mais adequado para os que estão envelhecendo, porque necessitam de uma interação maior e atividades diferenciadas”, diz ela. E essa é uma preocupação dos pais, porque acima de 24 anos eles passam a ter frequência alternada, para que abram espaço para outros alunos na mesma situação. “Algumas famílias querem a permanência dos seus filhos aqui por tempo indeterminado porque sentem a necessidade desse espaço para a socialização deles”, afirma a diretora, que defende a criação de um espaço público, fora do CEE 1, para o acolhimento dessa faixa de idade de alunos especiais. Ela conta que muitos pais a procuraram durante a pandemia em busca de ajuda, porque seus filhos sentiam falta do ambiente escolar e não entendiam porque não poderiam continuar frequentando a escola.

A diretora Gicileide Ferreira busca recursos onde é possível para melhorar a escola
Quem pode se matricular

Como é considerada uma escola modelo entre as escolas especiais no Distrito Federal, o CEE 1 tem demanda por vaga cada vez maior, por causa da qualidade do atendimento e também porque atende estudantes de várias regiões administrativas, como Riacho Fundo (I e II), Candangolândia. Núcleo Bandeirante, Vicente Pires, Águas Claras, Guará (I e II e Chácaras do setor Lúcio Costa). Mas, de acordo com a diretora, não há possibilidade de aumentar a oferta de vagas por causa das limitações do espaço físico da escola em relação à demanda.
Para o ano letivo de 2022 da Educação Precoce estão sendo abertas 56 vagas, que serão disponibilizadas pelo cadastro único, mediante inscrição através do QR Code – mais informações no site da Secretaria de Educação do DF ou na secretaria da escola.
Depois de cadastradas e matriculadas, as crianças de um mês a três anos e 11 meses chegam ao Centro de Ensino Especial encaminhados por órgãos da saúde (hospitais, postos de saúde), e participam do programa Educação Precoce, onde recebem atendimento exclusivo para sua síndrome ou diagnóstico. A criança pode ficar no programa até aos três anos e 11 meses de idade. Após o término do programa, ela é avaliada e direcionada para as escolas sequenciadas e inclusivas do Guará. Os estudantes mais comprometidos em suas especificidades (diagnósticos), ficarão no CEE com constantes reavaliações para possível inclusão no ano seguinte.
A escola oferece atendimento educacional diferenciado através de oficinas de arte, laboratório de informática, dança, atendimento de Educação Física (piscina e solo), horta, cozinha experimental, musicalidade e as salas de atendimento com o professor pedagogo, onde todos colaboram para o crescimento e desenvolvimento integral dos estudantes. E oferece no contraturno atendimentos complementares para os estudantes, com laudo e diagnóstico, matriculados nas escolas inclusivas.
São 177 profissionais para o atendimento aos 313 alunos, o que dá a média 1,77 profissional por aluno.

Tratamento especial desde sua casa

Os alunos começam recebendo tratamento especial desde quando saem de casa, com o transporte escolar exclusivo para pessoas especiais, facilidade que aumentou a frequência desde quando foi implantado. “Por causa da distância entre a escola e a residência ou a dificuldade de locomoção, muitos desses alunos deixavam de frequentar as aulas, porque as famílias não tinham como trazê-los”, explica a diretora Gicileide.
Segundo ela, outras dificuldades prejudicam o trabalho dos professores e demais profissionais do CEE 1, como a falta de parcerias entre a escola e profissionais de saúde, que poderia resultar em maior ganho para o aluno. “Muitas vezes acontece do aluno entrar em crise, ou ficar super agitado por causa da falta de seu medicamento. Acaba o remédio em casa, e os pais, muitas vezes carentes e sem acesso a médicos, não conseguem atualizar a receita e a criança fica sem tomar o medicamento, o que dificulta absorção do conteúdo que ela recebe na escola”, diz.

Escola revitalizada durante a pandemia

Durante a paralisação forçada das atividades presenciais na pandemia, quando os alunos passaram a ter aulas remotas, a direção aproveitou para reformar toda a escola com recursos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF), distribuídos através da Secretaria de Educação, e de emendas parlamentares. O Centro Ensino Especial recebeu várias melhorias que deram uma nova cara às instalações. “Onde posso e com quem posso, corro atrás para buscar emendas parlamentares para benfeitorias que precisamos. Recebemos recursos destinados pelos deputados distritais Reginaldo Veras, José Gomes, Leandro Grass e Rodrigo Delmasso. Para 2022, solicitamos mais verbas parlamentares para continuação das melhorias estruturais e pedagógicas da escola”, completa a diretora Gicileide Ferreira.