O vídeo de um homem furtando grelhas de bueiros na QE 34 em plena luz do dia nesta quarta-feira, 2 de fevereiro, que circula nas redes sociais e foi mostrado por emissoras de TV, está provocando indignação nos moradores e mais preocupação no governo. É que os furtos desse tipo de material estão cada mais frequentes no Guará e não houve até agora qualquer medida para estancá-los. Enquanto o governo, no caso a Novacap, calcula os prejuízos, a polícia tenta identificar os autores dos furtos.
O vídeo mostra também a indiferença de quem presenciou o furto e não tomou qualquer providência para evitá-lo, que poderia ser uma advertência ao ladrão ou denúncia à polícia. A imagem somente foi tornada pública porque foi filmada por uma câmera de monitoramento da quadra.
De acordo com a Novacap, o Distrito Federal teve um prejuízo de R$ 384 mil reais com o furto de 400 bocas de lobo em diversos pontos em apenas quatro meses. Cada grelha roubada – confeccionada em ferro – custa R$ 960, mas são vendidas em ferros velhos por apenas R$ 50 reais. Segundo a empresa, responsável pela reposição a pedido das administrações regionais, a maior parte dos furtos acontece no Plano Piloto, seguido do Guará. Os pontos preferidos dos ladrões são as tesourinhas da Asa Sul, onde em uma única noite foram furtadas 13 tampas. No Guará, os furtos tem acontecido principalmente dentro das quadras e durante a madrugada.
“Diariamente a Novacap faz a reposição de grelhas de bocas de lobo em todo o DF. E, infelizmente, os furtos aumentaram durante a pandemia, causando grandes transtornos para a população, já que bueiros abertos são responsáveis por acidentes e favorecem alagamentos”, afirma o presidente da Novacap, Fernando Leite. “No ano passado, o governo gastou cerca de R$ 350 mil reais com a reposição dessas grelhas furtadas. Em parceria com a população e órgãos de fiscalização, estamos intensificando as ações para que esse crime seja combatido, O gasto com a reposição absorve recursos públicos que poderiam ser usados em outras obras. Além disso, há os custos com pessoal que realiza o trabalho de manutenção”, diz o presidente da Novacap.
A retirada das tampas dos bueiros pode causar inúmeros prejuízos à comunidade, como entupimento de galerias pluviais, por causa do lixo, terra e entulhos que entram nas redes. Também pode haver acidentes com ciclistas, motoristas, pedestres e animais.
POLICIA INVESTIGA
Para o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Anderson Espíndola, que está investigando os furtos na cidade, a principal dificuldade encontrada pela polícia para identificar os ladrões é que os furtos acontecem geralmente durante madrugada, quando há pouco movimento, e por moradores de rua, que na maioria não se fixa em um determinado local onde possam ser encontrados. A principal motivação do crime, segundo ele, é a venda do material, que tem muita demanda nos ferros-velhos, para sustentar o consumo de drogas.
“Como já sabemos que a maioria dos ladrões usa carrinhos de supermercado ou carroças, supõe-se que estejam vendendo para receptadores próximos. Estamos monitorando alguns ferros-velhos na região do Guará, para tentar flagrar a venda”, conta o delegado. “Outra dificuldade é que esses receptadores assim que recebem as tampas de bueiro eles as derretem, dificultando o flagrante ou a constatação do crime de receptação”, completa. Ele reclama que a própria comunidade não contribui para ajudar na elucidação do crime quando flagra os furtos, por medo ou por falta de cidadania, ou ainda por imaginar que aquela tampa que está sendo levada tem valor insignificante.
O delegado afirma que uma investigação em andamento pela 4ª DP está próxima de identificar alguns desses praticantes dos furtos e, como consequência, a identificação dos receptadores.
A Novacap recomenda que esse tipo de crime seja denunciado e que as pessoas não comprem as tampas roubadas. Outra coisa recomendada é que, quem vir um bueiro sem tampa deve entrar em contato com a Administração Regional, ou com a própria empresa, por meio do telefone 162, onde o pedido de manutenção será registrado para reposição ou para que seja comunicada à polícia, ou denunciado à própria polícia.
Expansão do Guará teve mais de 100 tampas furtadas
Maior parte dos furtos aconteceu antes da ocupação, quando a área estava tomada por mato alto
No início do ano passado, uma operação do programa DF Presente e a Novacap repôs mais de 60 tampas de bueiros na chamada Expansão do Guará, as QES 48 a 58, que haviam sido furtadas nos quatro anos em que a área ficou abandonada e cercada pelo mato antes de ser definitivamente ocupada. Os furtos teriam sido praticados principalmente por carroceiros que moravam ou descartavam lixo e entulho na área ou por moradores de rua e consumidores de drogas que se escondiam dentro do mato. Além das tampas de bueiros, foram furtados mais de 50 transformadores instalados nos postes, mas a CEB providenciou a reposição logo depois, quando a área começou a ser ocupada.
Quando os furtos foram denunciados, entre 2011 e 2012, a Terracap, dona da área e responsável pela venda dos lotes e pela urbanização, prometeu repor as tampas dos bueiros antes da ocupação, mas não providenciou. Nesse período, a empresa teve que suspender a venda de lotes, que havia começado em 2010, por falta de parâmetros de construção, problema somente resolvido em 2017.
Os bueiros abertos se transformaram em buracos profundos. “Se um carro caísse nos buracos ia estragar muito, porque eram bem fundo”, afirmou o coordenador do Polo Central do programa, Luciano Almeida. Para evitar novos furtos, as tampas foram instaladas com reforço de massa asfáltica.
Furtos de cabo de energia também aumentam
A população tem reclamado do aumento da queda de energia no Distrito Federal no último ano. A maior parte da culpa tem recaído na privatização de parte da CEB, que teve a rede de distribuição e o fornecimento residencial adquirido pela concessionária Neoenergia. Esse discurso tem sido difundido principalmente pelos movimentos contrários às privatizações dos serviços públicos. Mas não é bem assim. Parte da culpa é da quantidade de furtos de cabos, que quase dobrou me 2021 se comparado a 2020, de acordo com levantamento da Neoenergia. Foram 444 ocorrências no ano passado, contra 229 no ano anterior.
A comparação piora quando é feita pela metragem furtada. Em 2020, 27.759 metros lineares foram levados pelos ladrões, mas em 2021 foram 81.090. O prejuízo, segundo a empresa, chega aR$ 3,6 milhões. Nos trechos de responsabilidade da Ceb Iluminação Pública e Serviços (Ceb Ipes), referente à iluminação pública, o prejuízo foi de R$ 300 mil no ano passado, que representou um aumento de 330% em relação a 2020.
Prisões e medidas de segurança
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, 290 pessoas foram presas por furto de cabos em todo o DF em 2021, boa parte de reincidentes, alguns com até quatro passagens pela polícia pelo mesmo crime. Ainda de acordo com a Secretaria, foram registrados no ano passado 1.541 ocorrências de furtos de cabo de transmissão de dados, de telefonia e de energia em todo o DF.
As regiões mais afetadas pelo furto são as que são servidas por redes subterrâneas, principalmente a Asa Norte, pela facilidade de acesso e a dificuldade de serem descobertos. O cobre é o grande atrativo do furto dos cabos, pelo seu alto valor de mercado.
Para o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Anderson Espíndola, a maior parte desses furtos é praticada por funcionários de prestadores de serviços às concessionários, porque são os que melhor conhecem as redes, podem se disfarçar como reparadores de um problema, e com conhecimento técnico para cortar fios sem risco de choque”, explica.
Neonergia implanta programa para reduzir furtos
Para reduzir ou evitar o aumento dos prejuízos nos furtos de cabos, a Neoenergia Distritbuição Brasília está implantando sistemas eletrônicos de segurança em subestações e galerias subterrâneas. A medida também limita o acesso às instalações de pessoas não autorizadas, enquanto repassa para as autoridades policiais informações estratégicas que possam auxiliar na identificação e prisão dos criminosos.
A empresa já iniciou a instalação dos sistemas que consistem na inserção de alarmes e câmeras de segurança patrimonial. A violação das tampas de acesso às galerias emite automaticamente alertas e sinais sonoros, acionando simultaneamente o Centro de Operações Integradas da Neoenergia Brasília e a Central de Segurança que suporta a concessionária. As imagens obtidas serão encaminhadas para a Secretaria de Segurança Pública.
O plano de prevenção elaborado pela distribuidora de energia prevê, ainda, a restrição no número de profissionais de operadoras de telefonia e telecomunicações com permissão para acessar as câmaras subterrâneas. As empresas que prestam esse tipo de serviço já estão sendo notificadas e deverão cadastrar as pessoas para a devida autorização de acesso. A população também pode informar as suspeitas de furto de cabos por meio do aplicativo da Neoenergia Distribuição Brasília. A empresa disponibiliza uma opção específica para denúncia de ocorrências de furtos, inclusive com a possibilidade envio de fotos e a localização georreferenciada. A companhia assegura o anonimato da informação.