Quase cinco meses depois que a obra começou e após muitas críticas e protestos de motoristas, finalmente o governo anuncia que vai ouvir a população sobre a implantação da ciclofaixa do Guará II. Uma reunião agendada para a próxima segunda-feira, 21 março, às 17h, com representantes da Administração Regional do Guará, Secretaria das Cidades e Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) vai debater o projeto com os moradores e discutir os impactos da obra sobre o trânsito.
A reavaliação da obra já havia sido anunciada na semana passada ao Jornal do Guará pelo secretário de Cidades Valmir Lemos depois de sua segunda visita ao Guará para discutir o assunto com comerciantes da QE 23, afetados diretamente com o fechamento do estacionamento em frente às suas lojas, e motoristas que reclamam do estreitamento das pistas da via central do Guará II.
Os representantes do governo, de acordo com o secretário, depois de ouvir os moradores, vão avaliar a possibilidade de algumas alterações no trajeto, sem, entretanto, interromper a obra e estudar modificações que atendam aos interesses dos usuários de bicicleta e dos motoristas de carros. Os motoristas são os que mais reclamam das interferências radicais na via principal, com a redução de até uma faixa e meia em alguns locais para abrir passagem para a ciclofaixa. Valmir Lemos, que admite a possibilidade de mexer até no que já foi feito para adequar aos interesses dos dois lados e à realidade da cidade em relação ao projeto, que foi elaborado há mais de dez anos.
A obra vem recebendo críticas desde quando começou a ser executada, inicialmente pela falta de divulgação do que estava sendo feito, e depois foi aumentando à medida em que as intervenções foram retirando mais espaço da via. A maior parte da preocupação dos moradores é em relação ao aumento da população do Guará II na proporção inversa à retirada do espaço de circulação de veículos, o que pode aumentar os pontos de estrangulamento na via central quando as novas projeções residenciais já vendidas pela Terracap estiverem todas ocupadas – a previsão é de mais 30 mil novos moradores às margens da via central nos próximos dez anos.
Após sucessivas reportagens do Jornal do Guará mostrando a insatisfação dos moradores, principalmente dos motoristas, as secretarias de Governo e de Cidades resolveram interferir, uma vez que a Administração Regional do Guará se limitava a acompanhar o que estava sendo feito sem procurar uma solução para os problemas apontados. Inicialmente, foi realizada uma reunião entre os órgãos envolvidos no projeto, coordenada pelo secretário de Cidades, Valmir Lemos, no gabinete da administradora regional Luciane Quintana, em caráter de emergência, para discutir uma solução para o fechamento do estacionamento do comércio da QI 23. Mas, ao visitar a obra e ouvir in loco várias críticas de motoristas, o secretário resolveu reavaliar o projeto e discutir a redução dos impactos da obra.
Projeto de 2010
O projeto de construção de uma ciclofaixa na via central do Guará II foi elaborado em 2010, ainda no governo José Roberto Arruda, como compensação urbanista a ser paga pelas incorporadoras que construíram grandes edifícios residenciais na cidade, como forma também de amenizar as críticas que a população fazia na época ao crescimento desordenado que o Guará passou a sofrer de uma hora para outra.
No acordo, intermediado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, ficou acertado que as incorporadoras investiriam R$ 1,2 milhão (valor atualizado para R$ 5,3 milhões em 2021) em obras de melhoria de espaços públicos, em projetos a serem elaborados pelo governo. Entretanto, no início do Governo Ibaneis, em 2019, o MPDFT resolveu cobrar a execução do acordo, que até então não havia sido cumprido porque os projetos não haviam sido apresentados ainda. O problema é que o único projeto concluído, inclusive com todas as etapas cumpridas, era o da ciclofaixa e de uma praça no quadradão entre as QIs 23 e 25 e QEs 15 e 26, ao lado da 4ª Delegacia de Polícia.
Sem qualquer divulgação do que estava acontecendo, a obra da ciclofaixa. iniciada em outubro do ano passado, surpreendeu moradores e motoristas, que passaram a intensificar críticas ao projeto nas redes sociais. O fechamento do acesso ao estacionamento da QI 23 foi o estopim da insatisfação popular, o que provocou a reação do governo para, enfim, ouvir a opinião da comunidade.