Grafite transforma muros de escolas em telas a céu aberto

Arte urbana contribui para conscientização dos alunos e valorização dos artistas da cidade. Cada vez mais, escolas públicas abrem espaço para a arte da pintura em muros

Cores e traços que encantam e dialogam. Mais do que isso, são formas lúdicas que, além de hipnotizar, têm a função também de educar. É o que revelam muitos dos muros das escolas públicas do Guará e do DF, verdadeiras telas a céu aberto, fruto da imaginação fértil e lírica de grafiteiros e artistas visuais da cidade.

Um desses trabalhos mágicos, por sinal, estampado no muro da Regional de Ensino do Guará, fisgou, de “jeito”, a jornalista e cronista Conceição Freitas. Trazia a singela figura de Lucio Costa, um dos “inventores” da nova capital, segurando um livro. Ela postou a imagem nas suas redes sociais e a foto simplesmente bombou.

“Acompanho há muitos anos os grafites pela cidade, eles mudaram muito, estão mais figurativos, de uma perfeição surpreendente”, elogia. “Grafite é arte de rua, de resistência da periferia, é a ocupação da cidade pelos brasilienses que aqui nasceram, está no rastro do hip hop”, observa a jornalista que, como poucos, lança um olhar sensível para a cidade.

Várias escolas da cidade e em todo o DF adotaram muros ilustrativos que interagem de forma impactante com vários atores da sociedade. São artes que encantam alunos e pais, professores ou simplesmente quem passa pela rua. Trata-se de uma tradição que remonta os primórdios das civilizações gregas e romanas, ressurgindo com força total no século 20, graças ao talento de artistas como os espanhóis Picasso e Miró, sem esquecer o muralista mexicano Diego Rivera.

No Brasil, as pinturas não apenas de muros, mas de outros espaços públicos, também conhecidas como street art, ganharam peso internacional por meio de nomes de talento, como o artista Eduardo Kobra. Nascido em Taguatinga, o artista plástico Douglas Okada, o Minoru, já deixou sua marca em vários muros da cidade. É dele, por exemplo, a arte da fachada da Regional de Ensino do Guará. “Acho importante esse trabalho de ocupação, tentamos dar vida a esses espaços e sempre representar nas pinturas muita alegria e positividade”, destaca.

 

Conscientizar

Para o coordenador da Regional de Ensino do Guará, Leandro Andrade, os trabalhos de arte nos muros de algumas escolas públicas do DF vão além da contemplação artística. São desenhos que passam mensagens, têm a missão de conscientizar alunos e, porque não, a sociedade, sobre temas com inclusão social, as minorias, a importância da natureza, dos esportes e, claro, da própria educação.

“São traços que saltam aos olhos”, empolga. “Você chegar a uma escola ou em um ambiente de trabalho e ver um trabalho como esse, cheio de cores e que dialoga com o universo que você trabalha, com temas da sociedade, colabora com a atividade pedagógica. Você já está passando um recado sem falar nada”, defende.

“Levar a arte do grafite às ruas é trazer aos olhos a alma dessa cidade diversa”, explica o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues. “Trabalhamos pelo fortalecimento dos valores da cultura hip hop, em que um dos principais propósitos é o resgate social”, completa Bartô.