Arquiteta guaraense anuncia nova fase de vida

Responsável por uma das empresas de arquitetura mais conhecidas da cidade, a Mark Projetos, Mariana fez a transição de gênero e mudou o nome da empresa para Mari Valentim

Uma das mais conhecidas empresas de arquitetura do Guará, a Mark Projetos, responsável por inúmeras obras na cidade, especialista na transformação de lotes antes residenciais em prédios comerciais, iniciou uma nova fase. Esta nova etapa acompanha a transição de gênero da arquiteta responsável pela empresa, Mariana Valentim, iniciada há 4 anos – está agora com 47.  As placas da nova empresa já começam a aparecer na cidade, agora com o nome Mari Valentim.

Mariana é filha de uma tradicional família guaraense, ligada ao ramo imobiliário, e conhece como ninguém os pormenores da legislação urbanística referente à cidade. Ela é defensora da instalação de empresas em áreas outrora exclusivamente residenciais, tema que sempre levanta polêmica entre as lideranças guaraenses.

 

A nova fase

“Essa mudança já vem acontecendo há alguns anos. Mas agora, que estamos retomando as conversas, decidi deixar isso bem público”, conta a arquiteta. “As pessoas às vezes acham que a transgeneridade é algo que aconteceu. Caiu uma bigorna na minha cabeça e a partir de amanhã eu me identifico com outro gênero. Não. É uma coisa que vivencio desde pequena, mas, por conta do preconceito e outras coisas da sociedade, decidimos se vamos ou não viver. Eu decidi tardiamente na minha vida, mas chegou um momento da vida que percebi que ou passo o restante da vida vivendo de forma plena a minha verdade, ou vou ficar refém”.

“Eu já tinha construído uma carreira, tinha a questão das amizades, da família, e sabia que havia o risco de perder isso tudo (ao decidir pela transição de gênero) ”. Segundo ela, chegou o momento que a opinião das pessoas não importava tanto quando a felicidade. “É preciso pacificar e enfrentar os desafios internamente e depois enfrentar o mundo, principalmente no processo longo, como o que eu vivi”.

Porém, a arquiteta garante que o trabalho foi um dos aspectos mais tranquilos da transição, o que a surpreendeu positivamente. “Meus clientes, em sua maioria, reagiram positivamente à esta nova fase. Mas, o que assumi foi um aspecto externo, por dentro continuo a mesma pessoa, meu trabalho continua o mesmo”.

 

Obras no Guará

Mari Valentim sempre foi uma arquiteta muito conhecida no Guará, com mais de 200 projetos de casas construídas. As suas obras mais notadas no Guará são casas de esquina transformadas em prédios comerciais. O advento do Plano Diretor Local do Guará, seguido da Lei de Uso e Ocupação do Solo, permitiu que vários lotes recebessem atividades comerciais, principalmente esquinas e arredores de praças. O que causa muitas reclamações de lideranças comunitárias, principalmente sobre a falta de estacionamentos, o barulho e outros incômodos. Argumentos refutados pela arquiteta. “As cidades do Distrito Federal foram desenvolvidas olhando o Plano Piloto como referência. Mas, o Plano Piloto é uma cidade diferente de outras do país. A maioria das cidades tem a habitação coexistindo com as atividades comerciais”. Segundo ela, mesmo quando era proibido, já havia atividades comerciais em vários locais, ou seja, já era uma realidade. “O comércio perto das casas ajuda a minimizar os impactos de trânsito, inclusive”.

 

Luos

A arquiteta participa do comitê que elaborou a revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo do DF.  “Os processos de mudanças urbanísticas, como são muito técnicos, precisam ser traduzidos para a população, e o governo é muito ruim nesta comunicação, alega a arquiteta. Esta falta de comunicação foi clara, por exemplo, na construção das ciclofaixas na avenida central do Guará II, que gerou protestos da população e a obra foi paralisada.    O mesmo aconteceu em 2007, quando o PDL permitiu prédios muito mais altos do que os existentes no Guará.

“O crescimento é natural de toda cidade, o que se deve fazer é tentar reduzir os impactos deste crescimento”.

 

O Guará

“O Guará ainda tem uma qualidade de vida muito boa, e uma população muito atenta a isso. Mas a cidade é orgânica. É arrogância achar que os urbanistas, arquitetos, operadores públicos possam direcionar este crescimento”, argumenta a arquiteta ao defender que a vontade da população é sempre mais relevante, ainda que lembre que o regramento é fundamental para facilitar o convívio entre as pessoas. A arquiteta tem várias obras em andamento no Guará e prevê um crescimento mais ordenado da cidade nos próximos anos.

 

Veja a entrevista completa: