MARIANA VALENTIM – Em defesa da mulher e LGBTQIA+

Arquiteta guaraense, que assumiu nova fase de vida, resolveu usar sua transformação em luta política

Após quatro anos de uma transformação profunda em sua vida pessoal com a transição de gênero, e profissional com a mudança da marca, a arquiteta guaraense Mariana (Mari) Valentim, responsável por mais de 200 obras na cidade e no DF, quer levar a bandeira de defesa das minorias, especialmente da mulher e da comunidade LGBTQA+ (Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) para a Câmara dos Deputados. É com essa pauta que ela está se lançando pré-candidata a deputada federal pelo Cidadania. O lançamento da pré-candidatura aconteceu nesta terça-feira, 14 de junho, no espaço Vila 30 Gourmet, na QE 30 do Guará II, coma presença do presidente nacional do Cidadania, ex-deputado federal Roberto Freite, do senador e pré-candidato a governador do DF, José Antonio Reguffe, da deputada federal e pré-candidata ao Senado, Paula Belmonte, e do deputado federal por Pernambuco, Daniel Coelho.
Em sua apresentação, Mari, como prefere ser conhecida depois da mudança de nome na transição de gênero, garantiu que sua candidatura não é apenas para marcar presença, “mas para lutar com todas as forças por uma das oito vagas de deputado federal por Brasília, porque o movimento que represento carece de representantes no parlamento”. A arquiteta guaraense disse que sua candidatura tem também o “objetivo de incentivar outras pessoas a darem seu grito de liberdade e assumir sua verdadeira sexualidade, como eu fiz tardiamente aos 40 anos”.
A deputada federal e pré-candidata a senadora Paula Belmonte elogiou a coragem de Mari Valentim, “não apenas por se expor em defesa de uma bandeira da minoria, mas também por sua defesa em favor do fortalecimento da economia e a geração de emprego”. O senador Reguffe, pré-candidato a governador pelo União Brasil, um dos partidos que compõem a federação com o Cidadania, lembrou da amizade antiga com Mari Valentim e garantiu que a candidata será uma das principais apostas da frente que pretende reforçar a bancada da federação no Congresso e chegar ao Palácio do Buriti. A garantia de Reguffe foi reforçada pelo presidente nacional do Cidadania (antigo PPS), Roberto Freire, e pelo deputado federal Daniel Coelho (Cidadania – PE).

Uma transformação de oito anos

A arquiteta, criadora da mais conhecida empresa de arquitetura do Guará, a Mark Projetos, responsável por inúmeras obras na cidade, especialista na transformação de lotes antes residenciais em prédios comerciais, iniciou uma nova fase em sua vida pessoal há oito anos – está hoje com 48 -, quando resolveu assumir, segundo ela, sua verdadeira sexualidade. Depois de amadurecida essa transição pessoal, começou a mudança profissional, com a alteração do nome da empresa para “Mari Valentim Arquitetura”.
“Essa mudança já vem acontecendo há alguns anos, mas recentemente decidi deixar isso bem público. As pessoas às vezes acham que a transgeneridade é algo que aconteceu de repente, caiu uma bigorna na minha cabeça e a partir de amanhã eu me identifico com outro gênero. Não. É uma coisa que vivencio desde pequena, mas, por conta do preconceito e outras coisas da sociedade, decidimos se vamos ou não viver. Eu decidi tardiamente na minha vida, mas chegou um momento que percebi que ou passaria o restante da vida vivendo de forma plena a minha verdade, ou ficarem ficar refém”, conta a arquiteta, de uma tradicional família guaraense ligada ao ramo imobiliário e construção civil.
“Eu já tinha construído uma carreira, tinha a questão das amizades, da família, e sabia que havia o risco de perder isso tudo (ao decidir pela transição de gênero)”. Segundo ela, chegou o momento que a opinião das pessoas não importava tanto quando a felicidade. “É preciso pacificar e enfrentar os desafios internamente e depois enfrentar o mundo, principalmente no processo longo, como o que eu vivi”.
Porém, a arquiteta garante que o trabalho foi um dos aspectos mais tranquilos da transição, o que a surpreendeu positivamente. “Meus clientes, em sua maioria, reagiram positivamente à esta nova fase. Mas, o que assumi foi um aspecto externo, por dentro continuo a mesma pessoa, meu trabalho continua o mesmo”.

Ativismo

Ativista transexual, Mari Valentim ocupa o cargo de vice-diretora executiva do Lola (Ladies of Liberty Association) Brasil e de conselheira do Movimento Livres. Ela sustenta ideias que costumam gerar discussão, como o conceito do “feminismo liberal”, sendo transexual e liberal nas pautas econômicas. Para ela, essa definição de liberal a acompanha desde que começou a viver a nova identidade de gênero, há oito anos, quando iniciou o processo de transição. “Mas eu já sabia, desde pequena, que era uma mulher transexual”, relata.
De acordo com a arquiteta, sua trajetória permitiu que entendesse e defendesse a liberdade “antes de saber o conceito formal disso”. Isso possibilitou que Valentim se tornasse uma das poucas mulheres transexuais presentes nos movimentos liberais (do ponto de vista econômico), pauta geralmente ligada à direita. O Lola Brasil e o Movimento Livres possibilitaram Mariana a ter um espaço de protagonista como ativista. “Isso é uma coisa que me orgulha, me deixa muito feliz”, revela.