MEXEU COM ALEXANDRE, MEXEU COM O GUARÁ!…

Falas preconceituosas de uma patricinha do Lago Sul, despejadas contra um morador da cidade, - e contra a própria cidade -, despertou um sentimento de amor do guaraense pela sua casa que há muito não se via

O episódio das falas preconceituosas da moradora do Lago Sul em relação a um morador do Guará, cidade tratada por ela com desdém e como se fosse um subúrbio feio e inóspito, tem um significado muito além da sua exposição na mídia, da sua inclusão do mapa do país – e até do mundo – e dos memes. Mesmo que de forma irônica ou com bom humor, serviu também para despertar a autoestima do guaraense, que se sentiu ofendido pela arquiteta patricinha e partiu em defesa da cidade e do seu filho Alexandre. Foi como se o morador descobrisse que mora numa cidade muito melhor do que imaginava até então. Todos viraram “lobos” na defesa do seu território.
Nas redes sociais, não faltaram citações de atrações e qualidades do Guará, desconhecidas de quem frequenta apenas a Feira em busca das iguarias nordestinas de seus restaurantes, das peixarias e dos hortigranjeiros. Despertou também a curiosidade de boa parcela dos próprios moradores, que desconhecia parte dessas atrações citadas como referência, casos do icônico sanduiche “Bomba”, criado por um guaraense, do Parque Ezechias Heringer, dos bons restaurantes e bares, do calçadão e da vida bucólica de uma cidade com ares interioranos a apenas dez quilômetros da capital do país.

 

Promotora de eventos, entre eles o São João do Guará, uma das maiores festas juninas do Distrito Federal, Mayara Franco é outra indignada com a fala preconceituosa da moça do Lago Sul. “Causou estranheza uma pessoa se referir ao Guará como um bairro de classe social baixa, onde temos tantos empresários, servidores públicos e aposentados que aqui residem e contribuem bastante com a economia da cidade. É inaceitável que ainda hoje existem pessoas que gostam de menosprezar e diminuir o próximo com esse discurso elitista. O Guará é a minha paixão e tenho muito orgulho de morar nessa cidade que meu avô Lázaro Franco ajudou a construir”, diz ela.
¨Esse mimimi serviu para despertar o amor próprio do guaraense pela cidade e cuja divulgação gerou uma justa indignação, além de mexer com os brios do guaraense, mesmo porque foi fruto de um momento de pendenga conjugal, e sem a devida reflexão emocional. Nas redes sociais, tivemos uma reação imediata com várias manifestações de amor pelo Guará”, completa o radialista, e ex-administrador regional do Guará, José Alves Rodrigues.
“E, de repente, fomos tomados por uma indignação sadia, após os vazamentos dos áudios de uma discussão de casal. O Guará, para n´ss moradores, é igual filho com mãe. Ela fala dos defeitos do filho, mas, ai de quem fala mal dele para ela. E foi assim que nós sentimos, agredidos por uma definição de uma cidade que, para nós, tem de tudo. Eu, particularmente, adoro encher os pulmões e falar que moro no Guará. Foi o inusitado que despertou a apatia do morador. Terra de jornalistas e formadores de opinião, o Guará será sempre lembrado pela opinião forte de seus moradores”, afirma a blogueira Zuleika Lopes.
“O Guará é uma cidade consolidada em todos os sentidos. A polêmica muito engraçada envolvendo a “arquiteta do Lago Sul” e o Alexandre não alterou em nada a vida de nenhum guaraense. Aliás, temos que agradecer aos dois pela divulgação da nossa cidade. Ficamos famosos no Brasil inteiro e a repercussão foi inclusive internacional. O Guará tem um dos metros quadrados mais caros do DF e tem hoje um comércio super forte. Inclusive, hoje, não precisamos nem sair da cidade para comermos em bons restaurantes. Além do ParkShopping, o maior centro de compras e lazer do DF e que está localizado em nossa região administrativa, o Guará está se transformando em um polo gastronômico muito interessante”, analisa o radialista e historiador Luciano Lima. “E vale lembrar que a cidade já há muito é bem frequentada por pessoas de outras cidades. Além da Feira do Guará, o Parque Ecológico Ezechias Heringer e as quadras de futevôlei também têm atraído muita gente para o Guará”, completa.
Para o maestro e presidente do Conselho de Cultura do Guará, Rênio Quintas, “esse episódio mostrou que Brasília é a cidade mais elitizada do país, de muitas desigualdades de investimentos em cultura, em infraestrutura, em que a elite se acha acima de todo o restante do Distrito Federal, o que não é. Um ditado que digo sempre, ´a pessoa é tão pobre que só tem dinheiro`. É o caso dessa moça. Se acontece esse preconceito todo com o Guará, que é a cidade de melhor poder aquisitivo depois do Plano Piloto e dos Lagos Sul e Norte e Águas Claras, imagina com as outras regiões do DF…”, teoriza.
De acordo com a professora Gicileide Ferreira, o episódio de depreciação do Guará gerou um efeito contrário, “ao provocar um sentimento de autoestima coletivo e causar empatia pelo Alexandre. A partir de então, os moradores começaram a mostrar o que há de melhor na querida cidade do Guará, principalmente através da frase “eu amo o Guará”.