Incêndio destrói 30% do Parque do Guará

Incêndio de apenas dois dias queimou maior parte da vegetação nos fundos do ParkShopping

Fotos Matheus Veloso/Metrópoles

Não é o primeiro – aliás, acontece todos os anos – mas provavelmente seja o maior incêndio sofrido pelo Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará. O incêndio, que durou três dias, destruiu cerca de 100 hectares, pelos cálculos do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) dos 345 hectares da área do parque, ao lado do Parkshopping, na Área 27, e atingiu uma mata de galeria às margens do Córrego Guará. Por causa do calor e dos ventos fortes, o fogo se espalhou rapidamente e as equipes do Corpo de Bombeiros e da Brigada de Incêndio do Parque tiveram dificuldade de trabalhar dentro da mata fechada.
A fumaça e o fogo podiam ser vistos à distância nesta terça-feira, quando o incêndio tomou maiores proporções. De acordo com informações preliminares, o incêndio teria sido provocado por um ocupante do parque, que teria colocado fogo no lixo e as chamas se espalhado rapidamente.

Fotos Matheus Veloso/Metrópoles

O Ibram informa que não foi possível avaliar todos os danos ambientais, mas é fácil perceber que a maior parte da vegetação daquela parte do parque foi completamente ou parcialmente destruída, principalmente os pinheiros que ornavam a entrada do ParkShopping pela Estrada Parque Guará (EPGU), conhecida como via Guará-Zoológico. Uma comissão formada por técnicos ambientais vai avaliar os estragos e emitir um relatório em até 45 dias.
O incêndio provocou indignação dos moradores nas redes sociais, principalmente dos defensores do Parque e ambientalistas, que culpam o governo pela lentidão nas medidas de proteção da área e a implantação do Plano Diretor do Parque Ezequias Heringer, elaborado há mais de 15 anos e parcialmente refeito há seis anos, mas que ainda não saiu do papel. “É um descaso do governo com o nosso parque. Além de não tomar as medidas que deveriam já ter sido tomadas, não permite que outros parceiros interessados ajudem na conservação, como é o caso do ParkShopping, que encaminhou proposta para recuperar e proteger a Área 27, exatamente a que agora sofreu o incêndio, onde existem cerca de dez nascentes”, critica o ambientalista Adolpho Fuíca, conhecido como o maior conhecedor e defensor do Parque do Guará.
Segundo ele, o atual governo tem protelado a implantação do Conselho Gestor do Parque Ezechias Heringer, previsto para ser formado por representantes da sociedade, dos órgãos ambientes, da Administração Regional do Guará e dos órgãos de segurança (Portaria da Secretaria de Meio Ambiente publicada em janeiro de 2021). “Essa falta de providência, que está prevista em lei que criou o Conselho Gestor, pode ser considerada como uma prevaricação dos dirigentes do Ibram, da Secretaria de Meio Ambiente e da Administração Regional do Guará”, reforça o ambientalista. Questionado pelo Jornal do Guará, o Ibram respondeu, em nota, “que já foram criados três conselhos gestores para as seguintes Unidades de Conservação: Parque Ecológico Burle Marx, ARIE Granja do Ipê e da APA das Bacias do Gama e Cabeça de Veado. Os demais estão sendo implantados à medida que houver capacidade operacional para novas convenções”.

Liminares protegem ocupantes remanescentes

Ainda no Governo Rollemberg, 72 ocupantes do parque foram retirados, numa ação corajosa da diretora da Agência de Fiscalização (Agefis), atual Secretaria DF Legal, Bruna Pinheiro, depois de mais de 20 anos de cobranças e lutas da sociedade e do próprio governo. Bruna conseguiu o feito depois de ignorar apelos de políticos, que tentaram evitar e interferir na desocupação, como vinha acontecendo em governos anteriores. Restaram apenas seis ocupantes, que estão protegidos por liminares concedidas pela Justiça. Por causa dessas liminares, o novo cercamento do Parque não pôde ser concluído com portões de acesso, para não impedir a circulação desses ocupantes enquanto não forem removidos.

 

Oásis verde pouco explorado

Fotos Matheus Veloso/Metrópoles

Aos poucos, os praticantes de caminhada e de exercícios físicos e esportivos vão trocando o calçadão do Guará II e as quadras das praças por um espaço muito mais seguro, aconchegante e saudável. Parte dessa descoberta foi provocada pela pandemia da Covid, que obrigou a redução de atividades em academias e locais fechados, e de outra parte por causa da divulgação do que o espaço oferece. A frequência e o uso do Parque Ezechias Heringer, o Parque do Guará, praticamente dobrou nos últimos meses, mas ainda aquém do que pode receber. Até o ano passado, cerca de duas mil pessoas utilizavam as trilhas, quadras, parquinhos infantis e equipamentos de ginástica, mas esse público hoje chega a quatro mil pessoas nos finais de semana.
Essa frequência, entretanto, poderia ser bem melhor se as opções previstas no Plano Diretor do parque fossem mais do que os 10% atuais, mesmo assim fruto de compensações ambientais. Por enquanto, quase nenhum investimento com recursos públicos, com exceção do novo cercamento, concluído há quatro meses. Mas, o que existe é suficiente para quem gosta e precisa caminhar, correr, andar de bicicleta, praticar esportes e respirar ar puro.
O governo atual garante que tem feito investimentos no parque, mas os únicos visíveis é o plantio de cerca de 800 mudas de plantas do cerrada, em parceria com grupos organizados da comunidade e agora o cercamento. “O Parque do Guará recebeu benfeitorias em 2013 e, desde então, não havia sido feita qualquer manutenção no local”, afirma Thúlio Moraes, secretário-geral do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
O parque, que tem 349 hectares, fica aberto todos os dias das 6h às 22h e conta com boa iluminação em toda a área vivencial. Entre os atrativos da área de lazer há um parque infantil, banheiros públicos, uma quadra de areia e um pequeno e bem cuidado orquidário com espécies nativas. Os frequentadores também podem fazer trilhas ecológicas em meio à rica vegetação.