No nível de Luiza Parente, dos irmãos Diego e Daniele Hipólito, Daiane dos Santos, Arthur Zanetti e mais recentemente Rebeca Andrade, ela é considerada uma das maiores ginastas brasileiras da história e a maior surgida em Brasília. Mesmo competindo numa época de pouco apoio do governo, de falta de patrocínio e com equipamentos defasados, a guaraense Soraya Carvalho foi um dos grandes destaques da ginástica artística do Brasil e do mundo. Poderia ter se consagrado ainda mais na Olimpíada de Atlanta (EUA), em 1996, quando era a única atleta brasileira da modalidade, mas deixou de competir por causa de uma contusão grave a quatro dias da primeira prova. Hoje, ela é Gerente Educacional do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), onde coordena a capacitação de treinadores, gestores, programas de esporte seguro, contra o racismo, entre outras atribuições, de todas as modalidades esportivas olímpicas.
A história de Soraya com a ginástica artística começou pela influência da ginasta Luiza Parente, até então a maior atleta brasileira da modalidade. Quando Luiza esteve em Brasília para uma competição, Soraya, então com seis anos de idade, foi levada pelo pai, Luciano Carvalho, dono da Academia Judokan, uma das mais antigas do Guará, para vê-la. Entusiasmados com o que viram, os dois resolveram que Soraya também seria uma ginasta.
Época de falta de apoio e de dificuldades
Numa época em que não haviam equipamentos especializados para o esporte no país, Luciano contratou um serralheiro e um marceneiro para construir os equipamentos para treinar Soraya e a irmã. A partir daí, ela passou a ganhar todas as competições locais e nacionais, mas Brasília passou a ficar pequena para tanto talento. Aos 12 anos, foi treinar e competir pelo Clube Pinheiros, de São Paulo, mas um ano depois se integrou ao Flamengo para suceder exatamente a Luiza Parente, que estava encerrando a carreira. No rubronegro carioca ela ficou até aos 17 anos, e por onde ganhou inúmeras competições no país e no mundo.
Treinada pela considerada a melhor técnica de ginástica do Brasil, Georgette Vidor, Soraya acabou classificada como a única ginasta brasileira para competir nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, com chances reais de medalha. Mas a contusão interrompeu o sonho.
Especializada em exercícios na trave, Soraya havia ficado em 32º lugar no Campeonato Mundial de Ginástica Artística em 1995 e em 5º lugar no Pan-Americano da Argentina, também em 1995. Antes, foi bicampeã brasileira adulta de 94-95, sendo uma das melhores atletas brasileiras da modalidade. Na trave foi considerada uma das mais perfeitas do mundo.
Como naquela época as atletas de ginástica, por falta de melhores equipamentos, métodos de treinamento, de patrocínio encerravam suas carreiras com no máximo 20 anos de idade, Soraya não teve a oportunidade de participar de outra Olimpíada.
Lei mudou a história do esporte olímpico brasileiro
De férias de final de ano no Guará, para onde sempre vem visitar os pais, Soraya recebeu a reportagem do Jornal do Guará para relembrar sua trajetória e falar sobre o estágio atual da ginástica brasileira. Para a ex-atleta guaraense, a história da modalidade pode ser dividida entre o antes e depois da Lei Agnelo Piva, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 2001, que estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. “A lei permitiu que montássemos uma moderna escola de ginástica em Curitiba, com um centro de excelência para treinamento, e a vinda de grandes treinadores internacionais e o patrocínio direto aos atletas de ponta. Por causa disso, o Brasil é hoje uma das maiores forças da ginástica mundial, com chances reais de medalha em qualquer competição”, garante. “Na minha época, não existia apoio nem do governo e nem da iniciativa privada. Eu mesma, apenas com a ajuda do Flamengo, é quem custeava a maior parte das minhas despesas. Felizmente, essa realidade mudou”, comemora.