Para uma cidade com quase 150 mil habitantes, o registro de apenas cinco homicídios em um ano pode ser considerado um bom índice sob o ponto de vista da segurança pública. Está, aliás, muito acima da média da grande maioria das cidades brasileiras considerada a proporção de suas populações. Não é exatamente um paraíso, mas a cidade do Guará tem se mantido como uma das nais seguras do Distrito Federal. Entretanto, os crimes de roubo (furto com ameaça ou agressão à vítima) e furto tem preocupado as polícias civil e militar, mas a culpa pode ser creditada principalmente à negligência dos próprios moradores, combinada, claro, com a esperteza dos estelionatários.
De acordo com o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Anderson Espíndola, a maioria das ocorrências policiais recebidas na delegacia tem origem e local. “A maior parte delas tem alguma relação com tráfico e consumo de drogas e acontece principalmente na região do Polo de Moda/QE 40 ou numa área do Parque do Guará conhecida como “biqueira”, onde o tráfico se concentra”, diz ele. No caso de Polo de Moda/QE 40, a explicação é que a quadra concentra uma grande demanda de quitinetes para aluguel e por valores abaixo da média do restante da cidade, o que atrai pessoas que não precisam comprovar renda ou cadastro, principalmente criminosos e garotas de programam, que na maioria dos casos estão envolvidos com o comércio ou consumo de drogas.
Os furtos e roubos a transeuntes também são outros crimes bastantes comuns no Guará, mas, de acordo com o delegado, tem se mantido estáveis. “Entretanto, a maioria deles acontece por descuido das próprias vítimas, principalmente o furto de celular. O ladrão está sempre atento a quem está concentrado numa ligação e não está prestando atenção a quem está à sua volta, ou carrega o aparelho no bolso traseiro ou à vista. Temos recebido muitas ocorrências de roubos de celulares a estudantes na saída de escolas, porque, na ânsia de ligar ou conferir mensagens, eles não se preocupam em verificar quem está próximo e acabam se tornando presas fáceis para os ladrões”. Além de aparelhos celulares, bicicletas são outros alvos preferidos dos marginais, porque podem ser facilmente comercializadas e a maioria das vítimas não faz ocorrência policial. “Boa parte das bicicletas que conseguimos apreender com os ladrões não temos como devolver porque os donos não registraram o furto ou roubo delas”, conta Espíndola.
A notícia boa é que os crimes relacionados direta ou indiretamente às drogas foram reduzidos no Guará depois que a polícia desarticulou as principais quadrilhas que agiam na cidade até o início do ano passado. O tráfico era comandado até então pelas facções comandadas pelos traficantes Luis Pancho Rodrigues Dias, o Pancho, e Ramires da Silva Leite, que estão foragidos depois que polícia publicou uma ordem de prisão a eles. e por Juliano Santos França, o Neném, Cristiano Gomes de Abreu e Bruno Luis Milhomem, que estão presos. Sem contado direto com os comandados, os líderes não tem conseguido controlar o mercado na cidade como faziam antes.
Crimes cibernéticos
Mas, na proporção inversa dos crimes de violência ou relacionados às drogas, um outro tipo de crime tem preocupado os órgãos de segurança, que são aqueles praticados com a ajuda da Internet, os cibernéticos. A média, segundo o delegado, é de pelo menos um crime de estelionato virtual contra moradores por dia no Guará, a maioria deles contra idosos, que tem mais facilidade de acreditar em falsas promessas ou não sabe discernir o que é falso ou verdadeiro nas mensagens ou abordagens que recebe pela Internet.
A cada dia surgem novos golpes, mas alguns continuam sendo repetidos porque continuam rendendo bons resultados aos estelionatários. No Guará, de acordo com registros da 4ª DP, o mais comum é do cartão de crédito clonado, em que uma suposta central de banco liga para o morador perguntando se ele acabou de fazer uma compra numa cidade bem longe de onde mora. E num valor alto. Assustado, o morador informa que não fez a compra e é aconselhado a cancelar o cartão imediatamente, mas para isso precisa tomar algumas providências recomendadas pelo suposto banco. Uma dessas providências é receber um servidor do banco ou um emissário com uma máquina para fazer o cancelamento. Em caso de resistência da vítima em digitar a senha, é recomendado a ele inutilizar o cartão com uma tesoura e entregá-lo ao funcionário do banco que irá buscá-lo no local indicado. De posse do cartão, mesmo cortado em pedaço, as quadrilhas fazem compra no comércio ou pela Internet, porque precisam apenas fornecer o número, o vencimento e o código de segurança. Ou, de posse da senha digitada na máquina levada pelo mensageiro, transferem o dinheiro da conta.
Outro golpe cada vez mais aplicado, de acordo dados da 4ª DP, é a clonagem da conta do WhatsApp para pedir dinheiro emprestado aos amigos ou parentes. Ao acessar as mensagens, os estelionatários selecionam as pessoas mais próximas das vítimas e enviam mensagens informando que teve uma dificuldade momentânea, principalmente bloqueio da senha da conta bancária, e precisa de uma determinada quantia urgente, que será devolvida assim que a conta for regularizada. “Mesmo com os frequentes alertas da polícia e de pessoas que já caíram no golpe, muita gente ainda continua sendo ludibriada. Mas, mesmo quando a ocorrência é registrada pouco podemos fazer para evitar o prejuízo, porque o valor já foi repassado a contas de laranjas e sacado. Mesmo assim, é importante que a ocorrência seja registrada, para que a polícia tente identificar os estelionatários”, recomenda o delegado.
O terceiro golpe mais aplicado no Guará, não necessariamente na ordem de quantidade, é o da venda de veículo pelo aplicativo OLX. Neste caso, o estelionatário clona o anúncio e faz outro oferecendo o veículo por um valor menor do que anunciado pelo verdadeiro dono ou autorizado. Quando o interessado entra em contato, ele inventa que está recebendo uma dívida do verdadeiro vendedor e pede que os dois se encontram, confiram o produto, mas que não negociem valores e a conclusão do negócio entre eles. Neste caso, o vendedor também foi contactado e orientado a não negociar com a pessoa que for ver o veículo, que não seria o verdadeiro comprador, mas uma pessoa de confiança dele para conferir as condições do carro ou moto. O comprador fecha negócio com o golpista e faz o pagamento na conta indicada por ele. Quando se encontram no cartório para fazer a transferência do veículo, ou tentem fazer pelo aplicativo do Detran, comprador e vendedor percebem que caíram em um golpe.
Outro golpe bastante aplicado em moradores da cidade é o da venda ou aluguel de imóvel. Ao ver o falso anúncio, copiado do verdadeiro e por um valor menor, o interessado é orientado pelo falso intermediário a depositar um determinado valor para garantir a compra ou o aluguel. A vítima somente descobre o golpe depois ao contactar o verdadeiro proprietário ou corretor, mas o valor depositado já foi sacado pelos estelionatários.
Para o delegado-chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani, o aumento da presença online gera oportunidade para os que enganam internautas em sites falsos ou de outras maneiras. Ele lembra que o comportamento do usuário também pode colocá-lo em risco. “Comprar em um site novo ou desconhecido é perigoso. Com os dados do cartão, número completo e vencimento, qualquer pessoa pode comprar qualquer coisa no seu nome. Outro erro frequente é repetir senhas em diversas contas. Aí, se vaza uma senha do e-mail, por exemplo, o criminoso pode acessar outros serviços”, alerta.
Zuliani garante que a Polícia Civil do DF tem atuado para coibir esses crimes e alertar a população sobre os cuidados, mas, em muitos casos, os estelionatários são de outras unidades da Federação. “Na maioria dos crimes de fraudes virtuais, os criminosos não residem no DF e a vantagem ilícita também não é creditada aqui”, afirma o delegado Wisllei Salomão, titular da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf/PCDF).
Como se proteger de golpes virtuais
“Os grandes problemas que a gente tem com os crimes de informática é que não tem muito o que remediar. Depois que você caiu no golpe, o que deve fazer é se prevenir para não sofrer outro golpe desse e, se sofrer, minimizar os danos”, explica o delegado Anderson Espíndola.
É preciso, portanto, procurar entender como criar hábitos seguros nas redes sociais, no armazenamento de arquivos, na instalação de softwares e na construção de senhas. Os usuários devem ter cuidados ao clicar links que venham de mensagens, e-mails ou SMS de desconhecidos. Não é seguro fornecer informações pessoais, mesmo que o remetente seja aparentemente um banco do qual a pessoa é cliente. Outro hábito indicado pelos especialistas em segurança cibernética é apagar fotos de documentos e mensagens que contenham esse tipo de mídia, criar senhas fortes que incluam números e letras, não utilizar programas pirateados e manter cópias de arquivos importantes em um lugar protegido são outras das dicas.